terça-feira, 3 de maio de 2011

A luz e as sombras
Por Vinicius Paiva

Como todos puderam perceber, o editorial publicado ontem no Blog da Flamengo Net expôs a situação calamitosa das contas do Clube de Regatas do Flamengo – algo claramente perceptível por meio de breve análise do balanço patrimonial divulgado ao apagar das luzes da última sexta-feira.

A inaceitável explosão da dívida se baseou - entre diversos outros fatores – em aportes insanos realizados nos esportes olímpicos e empréstimos de qualidade duvidosa contratados junto à mesma instituição bancária que patrocina o clube. Esta era a parte mais nebulosa e imprevisível das contas do Flamengo.

No entanto, há um outro lado que infelizmente pode ser previsto com quase de um ano de antecedência: a inacreditável estagnação das receitas do clube, mesmo mediante um panorama amplamente favorável à ampliação destes recursos. Conforme consta no balanço oficial, as receitas do Flamengo totalizaram R$ 128.557.577,00. Míseros R$ 8 milhões a mais do que em 2009.

A previsibilidade desta situação é constatada quando se analisa a coluna que escrevi aqui neste mesmo espaço, em pleno mês de agosto de 2010. Denominada “Previsões para o rombo de 2010”, as opiniões nela expressas deram o tom do desgosto que estava por vir: http://flamengonet.blogspot.com/2010/08/projecoes-para-o-rombo-de-2010-por.html.

À época mergulhado em escândalos e desmandos administrativos, calculei para o clube uma receita variável entre R$ 110 e 112 milhões – convenhamos que o erro não foi tão grande. Mas o pior foi que ao estimar o viés de cada uma das grandes contas de receita do Flamengo (“Direitos de TV”, “Bilheterias”, “Marketing”, “Repasse de Direitos Federativos”, “Social/Esportes Amadores” e “Receitas Diversas”), o índice de acerto foi de 100%.

De fato, em tempos excepcionais quando alguns clubes ultrapassam a barreira dos R$ 200 milhões em receitas (veremos adiante) - o Flamengo baseou seu incremento meramente na conta de patrocínios (ou “Marketing)”, que saltou de R$ 15 milhões em 2009 para R$ 44 milhões em 2010. Fora isto, quase todas as outras receitas caíram, enquanto os repasses de direitos federativos despencaram a níveis de série D – representaram R$ 778 mil em 2010, ante R$ 14,7 milhões no ano anterior.

Para piorar, a perspectiva-2011 continua sombria, já que os patrocínios até o momento mal alcançam o patamar dos tempos da Petrobras. Atualmente, eu diria que aqueles R$ 44 milhões não atingiram sequer metade desta cifra – isto com um time invicto, campeão de tudo e com um craque da magnitude de Ronaldinho Gaúcho. A lentidão do departamento de marketing do Flamengo é escandalosa.

“Mas as receitas de televisionamento crescerão explosivamente em 2012”, diriam alguns. Sim, verdade. Só este movimento será capaz de fazer com que os aportes do clube cresçam em cerca de R$ 60 milhões. O problema é que ela crescerá para todo mundo, e o Flamengo não pode se contentar com a posição intermediária que vem ocupando neste ranking. Segundo consta, eis a nova lista de clubes brasileiros (por faturamento):

1) São Paulo – R$ 213 milhões
2) Corinthians – R$ 212 milhões
3) Internacional – R$ 145 milhões
4) ? *
5) Flamengo – R$ 128 milhões

6) Santos - R$ 116,5 milhões
7) Cruzeiro – R$ 101 milhões
8) Atlético-MG – 93 milhões

* A 4ª posição possivelmente será ocupada pelo Palmeiras, que ainda não teve suas contas publicadas por reprovação no Conselho. Grêmio, Botafogo, Vasco e Fluminense também não publicaram seus balanços, mas dificilmente se colocarão entre os 6 primeiros.

Tendo em vista o ranking acima, e considerando que Flamengo e Corinthians terão aumentos semelhantes a título de televisionamento, resta claro que a diferença entre eles tende a se manter na casa dos R$ 80 milhões. Verdadeiro tapa na cara de uma torcida acostumada à dianteira de todo e qualquer ranking de clubes neste país.

Esta é uma abordagem baseada nas receitas – são elas que pagam dívidas e salários, além de refletirem como os clubes são percebidos no mercado. Infelizmente, a diretoria do Clube de Regatas do Flamengo vem aceitando passivamente nossa condição de coadjuvantes – especificamente quando comparados aos concorrentes paulistanos. Um substancial incremento de receitas se faz necessário para custear os devaneios daqueles que administram o clube – já que eles agem como se o risco de insolvência da instituição não fosse latente.

A luz do título estadual não pode cegar a Nação Rubro Negra mediante tamanhos e obscuros desmandos.

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

Twitter: www.twitter.com.br/viniciusflanet (@viniciusflanet) #BalançoFlamengo2010

Flamengo Net

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