quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Projeções para o rombo de 2010
Por Vinicius Paiva

Admito que a temática está um tanto quanto ultrapassada, mas como vários analistas já deixaram suas impressões a respeito da mesma, cabe também a mim uma análise - pouco aprofundada, é verdade – do balanço patrimonial do Flamengo. Pretendo, desta forma, me basear nas receitas do clube em 2009, projetando-as para 2010. Como tudo o que se relaciona a este famigerado ano de 2010 (que eu particularmente torço para que termine o quanto antes), o cenário não se configura nem um pouco agradável.

Segundo o Balanço Patrimonial-2009, as receitas do Clube de Regatas do Flamengo se dividiram em:

2009 2008

Receita Bruta Geral (A+B) 120.021.892 117.906.961

Receita Bruta do Futebol (A) 104.094.315 104.101.174
Direitos de Transmissão de TV 44.251.731 27.811.808
Bilheteria 20.000.841 21.127.911
Marketing 15.163.207 21.017.548
Repasse de Direitos Federativos 14.780.960 27.730.819
Receitas Diversas 9.897.576 6.413.088

Receita Bruta Social e Esportes Amadores (B) 15.927.577 13.805.787


Fonte: http://www.flamengo.com.br/site/upload/editor/20100608133040.pdf

Nota-se uma estagnação de 2008 para 2009, suficiente para colocar o Flamengo na modestíssima 6ª colocação entre os clubes brasileiros que mais arrecadam, conforme tabela abaixo:

Clube Receita 2009

1) Corinthians 181 milhões

2) Internacional 176,2 milhões

3) São Paulo 174,8 milhões

4) Palmeiras 125 milhões

5) Cruzeiro 121,3 milhões

6) Flamengo 120 milhões

Fonte: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2010/05/30/corinthians-tem-o-maior-faturamento-dos-clubes-brasileiros-diz-estudo.jhtm

Desta forma, analisando os principais componentes da receita do clube, temos o seguinte panorama para 2010:

Direitos de Transmissão de TV – Tendência 2010: estabilidade.

Renegociações de direitos de televisionamento e (principalmente) o aumento da importância do pay per view levaram ao forte crescimento 2008-2009. Tendência à manutenção dos valores de 2009, ou mesmo de leve aumento – isso se o abandono que a torcida do Flamengo decidiu estabelecer perante o time em 2010 não se refletir negativamente nos percentuais dos clubes, algo determinante para a divisão de direitos de receitas de PPV.

Bilheteria – Tendência 2010: queda.

Tanto em 2009 quanto em 2008, nos beneficiamos da maior e melhor característica – infelizmente, morta e enterrada – da torcida do Flamengo: o altíssimo índice de comparecimento ao estádio. Quem viu com os próprios olhos o que aconteceu domingo passado no Maracanã (eu estava lá) pode dizer com propriedade. E com vergonha. Infelizmente, fato é que a média de público do Flamengo caiu de 40 mil torcedores por jogo para pouco menos de 20 mil, este ano. Considerando-se o aumento do ticket médio de 2010 (até ano passado, uma arquibancada custava R$ 30. Hoje, R$ 40), pode-se dizer que as receitas desta conta fiquem próximas das de 2007, na casa dos R$ 14 milhões. Naquele ano, a média foi de 39 mil pagantes por jogo, mas o ticket médio era bem menor. Desta forma, teríamos queda de receitas na ordem de R$ 6 milhões.


Marketing – Tendência 2010: aumento acentuado.

A forte queda verificada de 2008 para 2009 se deveu aos seis meses em que o Flamengo, rompido com a Petrobrás, ficou sem qualquer patrocínio em sua camisa. Tendo em vista que 2010 se caracterizou pelo melhor ano da história do Flamengo neste sentido (com Batavo + BMG injetando por volta de R$ 30 milhões no clube), o aumento de receita desta conta ficará em torno de R$ 15 milhões. E não é melhor porque, após a vultosa venda de 1 milhão e 300 mil camisas em 2009, muito possivelmente teremos que nos contentar com uma queda da ordem de 60% deste montante em 2010.

Repasse de direitos federativos – Tendência 2010: queda acentuada.

No que se refere à venda de jogadores eu já me preparava para escrever que esta conta, até o presente momento, havia sido contabilizada em ZERO REAL. No entanto, me lembrei que a negociação do meia Everton foi fechado nos primeiros dias de 2010 – R$ 10 milhões, em que o Fla teve direito a 10%. Só isso e nada mais. Nada reflete melhor a precariedade das divisões de base do Flamengo – algo que nosso diretor Zico, com muita propriedade, vem tentando combater. Em 2008, apenas a venda de Renato Augusto representou 70% dos R$ 27 milhões arrecadados – o resto ficou por conta de negócios como o de Souza para a Grécia, Pedro Beda para a Holanda e Marcinho para o Oriente. Em 2009, Airton, Emerson Sheik e alguns outros fizeram contabilizar quase R$ 15 milhões. Como em 2010 o clube só fez perder jogadores, considerarei até o momento o “vultoso” valor de R$ 1 milhão para a mesma. A não ser que haja negócios obtusos que não tenham vindo a público. Ou que minha memória esteja me traindo em demasia. De qualquer maneira, ainda há 4 meses pela frente, deixando a conta passível de alterações.

Receitas Diversas - Tendência 2010: queda.

Nesta conta, de definição abstrata, constaram créditos de R$ 3 milhões em 2007, R$ 6 milhões em 2008 e R$ 9 milhões em 2009. Uma perfeita progressão aritmética. Como o Balanço Patrimonial de 2009 a descreve como “premiações recebidas pelo campeonato brasileiro”, prefiro projetar para 2010 um valor semelhante ao de 2007. Ressalta-se que nos três anos anteriores houve conquista de título, algo que não acontecerá em 2010. Entretanto, “receitas diversas” podem perfeitamente abarcar outros tipos de receitas, portanto não cabe zerá-la.

Receita Social e de Esportes Amadores – Tendência 2010: estabilidade.

Trata-se de uma receita bastante inelástica, que usualmente flutua entre R$ 13 e R$ 17 milhões, e que no ano passado contabilizou R$ 15 milhões. Tende a repetir o desempenho em 2010.

Considerações finais

Da queda acentuada nas receitas de vendas de direitos federativos, há um contrabalanceamento por conta do aumento acentuado das receitas de marketing. Cabe ressaltar que estes parceiros, por terem visto suas marcas vinculadas ao mais puro banditismo e às paginais policias dos noticiários, podem dificultar as negociações em prol de renovações contratuais, já que as parcerias com Batavo e BMG se encerram ao final de 2010. Isto pode fazer com que o Flamengo enfrente grandes dificuldades financeiras já nos primeiros meses de 2011.

Além disto, a inexistência de receitas de “vendas de jogadores” rema na maré oposta daquela em que se encontram os principais clubes brasileiros, em especial Inter, São Paulo, Corinthians e Cruzeiro. Com algumas exceções, o Flamengo só possui receitas abaixo destes clubes por este motivo, uma vez que em termos de “receitas de futebol”, o rubro-negro ainda se encontra entre os de maior faturamento no país. O Internacional, por exemplo, creditou inapeláveis R$ 60 milhões a esta conta em 2009, negociando Nilmar e Alex, entre outros.

Outra conta que poderia catapultar as receitas do Flamengo, mas que não passa de um traço estatístico na atual conjuntura, seria a receita originada da mensalidade de sócios-torcedores. No Internacional e seus mais de 100 mil sócios, arrecada-se quase R$ 40 milhões/ano. Não cabe me alongar mais neste tema, uma vez que já escrevi inúmeras colunas a respeito do fracasso do projeto Cidadão Rubro Negro - pelo descaso do clube ou pelo desinteresse da torcida.

Ainda no trato de receitas inexistentes no balanço rubro-negro, vemos aquelas que se relacionam à falta de um estádio próprio. Segundo o site Esporte Bizz (http://bit.ly/cJ5RMZ), apesar de auferir receitas de bilheteria inferiores ao Flamengo, o São Paulo arrecadou R$ 15 milhões a mais do que rubro negro por conta de seu estádio – em sua maioria, pelas locações do espaço para shows e eventos.

Enfim, já que o aumento das receitas de marketing será compensada pela queda na venda de jogadores, e já que as receitas do quadro social e dos direitos de TV possivelmente demonstrarão estabilidade, teremos como fiel da balança para 2010 as receitas de bilheterias, premiações e afins. Como todas elas apontam para um viés de baixa no ano que se segue, um exercício realista seria a previsão de uma receita total, em 2010, da ordem de R$ 110 milhões a R$ 112 milhões – a menor desde 2007.

Deixo claro que se trata de um exercício puramente imaginário e relacionado apenas às receitas do clube, e não ao seu equilíbrio econômico-financeiro como um todo, já que este levaria em consideração o serviço da dívida e as despesas correntes do clube, que possivelmente se reduzirão pela montagem de um elenco mais modesto, que se configura atualmente.

Forte abraço e saudações rubro-negras. Apesar de tudo.

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com
Twitter: www.twitter.com.br/viniciusflanet

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