segunda-feira, 6 de março de 2006

O treinamento mental

Ninguém tem dúvidas de que o Flamengo precisa melhorar seu preparo físico. E felizmente agora temos profissionais bem qualificados - de acordo com as informações do amigo Alexandre Lalas (leia o post 'Boas novas na Gávea' de sábado, 4 de março. Em futebol, no entanto, não prevalecem apenas condicionamento físico ou o talento e técnica dos jogadores. Futebol, principalmente em situações de equilíbrio, é também um jogo mental.

De pouco vale fôlego em dia se os atletas não souberem como usar o gás. Não se trata de jogadas ensaiadas, de planejamento tático, de treinamento de situações de jogo ou da famosa psicologia de vestiário. Falo de exercitar constantemente o raciocínio do jogador e fazer com que ele perceba de uma forma divertida como o "chato" e o "básico" faz a diferença nos momentos decisivos.

Estava consultando agora há pouco o site da Memphis Belle Association. Quem viu o filme sabe que "Memphis Belle" é o nome de um legendário avião americano, um bombardeiro B-17, cuja tripulação conseguiu completar 25 missões na Europa Ocidental durante a segunda grande guerra. Antes de atingirem o alvo, os americanos tinham que enfrentar os caças da Luftwaffe.

Pois bem. O depoimento do Col. Robert K. Morgan, então capitão e piloto do bombardeiro americano, tem alguns trechos muito interessantes. Vejam este:

"If you want in just one word how we were able to go through the hell of Europe 25 times and get back home without a casualty, I'll give it to you. The word is TEAMWORK. Until you have been over there, you can't know how essential that is. We had 10 men working together, each ready and able to help out anybody else who might need him.

Em resumo, ele diz que para ter sucesso naquele "inferno" que era o espaço aéreo da Europa no início dos anos 40, a palavra-chave foi trabalho em equipe. "Nós tinhamos 10 homens trabalhando juntos, cada um pronto e capaz de ajudar qualquer um que precisasse de ajuda", explica. Segundo ele, todos conheciam exatamente a função e as dificuldades do trabalho exercido pelo companheiro, o que fazia com que a confiança aumentasse. Além do mais, para o bem de todos, eles se comunicavam constantemente informando a posição dos alemães. No futebol, o famoso "ladrão".

Ainda o depoimento do então piloto. "We have learned how important it is that the formation be maintained. (...) The Germans always try to break up the formation and then jump the stragglers. If we concentrate our firepower by keeping the formation, the only thing they can do is to slug it out with us. They don't like that". Nesse trecho ele enfatiza a importância da formação no ar da esquadrilha - para defender-se dos ataques germânicos.

Isso me faz lembrar de outro filme - Gladiador, ganhador de Oscar. A posição alinhada do conjunto dos gladiadores era a única chance de sobrevivência na recriação de um massacre na Arena.

É como numa equipe de futebol. Quanto mais compacto o time, quanto mais ele manter uma formação organizada em campo, mais dificuldades terá o rival - arma utilizada pelo Boca Juniors para faturar a Libertadores de 2003 diante do Santos.

Enfim, muitas vezes o jogador não precisa tão-somente treinar chutes ou cabeçadas até escurecer. Ele precisa de um preparo mental para trabalhar em equipe - entender a importância da comunicação em campo, de uma equipe bem postada na hora de se defender ou de atacar. Um trabalho de sala de aula.

E podem ser buscados na cinematografia os exemplos de que ninguém precisa necessariamente ser amigo de ninguém ou ter "o grupo unido", mas que em campo deve valer o lema mosqueteiro. Além de servir de entretenimento, a exibição de certos DVDs é um meio eficaz para transmitir conceitos e fundamentos: "Mantenha a formação", "trabalhe em equipe", "fale com o companheiro".

Fundamentos, aliás, nunca podem ser secundarizados porque "é chato". Conforme relata o já citado piloto Robert K. Morgan, o hábito de checar e rechecar tudo antes do vôos fazia toda a diferença. Foi a partir desses pequenos cuidados, da atenção ao básico, que ele e sua talentosa tripulação entraram para a história.

As imagens: (1) Esquadrilha de bombardeiros B-17s em formação. Chances maiores de defesa contra ataques alemães, de acordo com capitão do legendário Memphis Belle; (2) cena do filme Gladiador, em que as personagens de Russell Crowe e Djimon Hounsou lutam acorrentados e, para isso, precisam comunicar-se e de esforços coordenados para sobreviver.

Flamengo Net

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