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A terra dos churrasqueiros é a terra do Festival da Mentira

Uma das vantagens de ser um homem de negócios é viajar. Constantemente. Entre uma vinda e outra, aproveita-se para conhecer cidades menos óbvias. Acabo de voltar do Rio Grande do Sul, depois de cumprir agenda no pólo moveleiro de Bento Gonçalves. Sábado cedo, saí do hotel e peguei o carro. Fui para Lageado, visitar uma amiga - mais do que isso, é verdade. Não preciso entrar em detalhes do que aconteceu nas horas seguintes. Apenas relatar que na manhã de hoje ela me levou para conhecer uma pequena cidade a meia hora dali, Nova Brescia.

Colonizada por imigrantes italianos, Nova Brescia é conhecida como a terra dos churrasqueiros - uma das atrações turísticas é um monumento que celebra a facilidade com que manejam espetos (sem trocadilho). Isso me fez lembrar de que ontem teve jogo do Flamengo em terras gaúchas castelhanas. Ligo para Arthur.

- Alô - atende, evidentemente sonolento.
- Fala Mulamba. Quanto foi o jogo?
- Porra, mané, obrigado por me acordar. Puta que o pariu, são nove da manhã.
- Tá, ganhamos?
- Não, o churrasqueiro entregou. Tava 3 a 2 aos 42 do segundo tempo e o Nacional virou.
- Tou em Nova Brescia.
- Brescia? Caraca, AFA, não sabia que você foi pra Itália.
- Não, Nova Brescia, Rio Grande do Sul. Aliás, a terra dos churrasqueiros.
- Que todos eles vão pra puta que o pariu. E você também. Porra, quando me ligar num domingo, liga num horário decente.
- E o Diego Canterelli?
- Epa, epa, epa... Cantarelli nao merece essa descortesia. O goleiro de botão continua a mesma merda. Mas me liga depois. Tou com um sono do caraleo.
- Falou, Mulamba. Quando chegar conversamos. Até.


Por alguns minutos deixei de olhar pras generosas formas da minha amiga. Olhar perdido. Sim, era apenas um amistoso, mas em se tratando de Flamengo, não gosto de perder nem par ou ímpar. "Caralho, que merda, deixar virar ganhando de 3 a 2 aos 42. Mulamba tem razão, que se fodam todos os churrasqueiros".

Mas já que estávamos ali, aproveitamos. Descobri que Nova Brescia é também conhecida por sediar o Festival da Mentira. É um evento já tradicional naquelas plagas. Acontece desde 1982 e reúne gente de toda parte para contar histórias. Na última edição, em 2002, contou-me Gislaine (a amiga), o autor da história mais verídica faturou um prêmio de ... R$ 2000,00.

Depois de almoçar um churrasco - realmente inigualável, ressalte-se - saí daquela cidade com uma certeza. De que na Gávea temos um candidatíssimo à próxima edição. Basta que o assador de carnes vá ao festival e conte que, atualmente, é um dos grandes técnicos do Brasil. Que apresente-se como um grande estrategista. Como alguém que sabe escalar e mexer bem no time e que sabe o que está fazendo ao escalar o Arroz no meio. Que garanta: "Eu sei como fazer deste Flamengo o grande campeão do país este ano".

Pensando bem, se ele participasse, seria até covardia com os outros competidores. Melhor que ele deixe o prêmio - e as gargalhadas - para os conterrâneos menos famosos.