terça-feira, 25 de maio de 2010

Alfarrábios do Melo

Olá, saudações rubro-negras a todos. Como bom torcedor flamengo, já penso no heptacampeonato brasileiro. No entanto, em função da reformulação que se aproxima (o Adriano já está indo embora) e principalmente pelo calendário bizarro que vai parar o Brasileiro para a Copa do Mundo, é impossível mobilizar-se completamente para esses joguinhos aperitivos, que vão mesmo servir, ao que parece, para mostrar o valor de alguns garotos da base, como o Diego Maurício, que mostrou serviço na estréia.

De qualquer forma, não é disso que tratarei nessa e nas próximas semanas. Uma vez que a Copa do Mundo está chegando, e irá monopolizar a cobertura e as atenções de todos nos dias vindouros, preparei uma série com as participações de heróis flamengos nas edições dos Mundiais, desde 1930. Espero que gostem. Boa leitura.

O Flamengo nas Copas – Parte 1

1930 – A Tardia Descoberta de Moderato

1930. A preparação brasileira para a primeira Copa do Mundo da história já se inicia da pior forma possível. Ocorre que a CBD (a Confederação da época, precursora da atual CBF) não aceitou a “sugestão” da APEA (a Federação Paulista de Futebol da época), que queria indicar um de seus membros para a comissão técnica. Em retaliação, a APEA negou-se a fornecer qualquer jogador paulista para a Seleção, que assim foi formada por 23 jogadores cariocas e apenas um paulista (Araken, que estava em litígio com o Santos). O Flamengo contribuiu com dois nomes, o médio Benevenuto e o atacante Moderato.

Benevenuto foi um dos heróis da espetacular conquista do Carioca de 1927 (o ano em que as camisas jogaram sozinhas, link aqui). Um dos grandes nomes flamengos da década de 1920 (estava no clube desde 1923), voltava ao rubro-negro após rápida passagem pelo Atlético-MG. Mas, diante da fase exuberante do vascaíno Fausto (a Maravilha Negra) não teria chances de atuar na Copa (anos mais tarde, o próprio Fausto exibiria seu futebol refinado no Flamengo).

Já a história do atacante Moderato é diferente. Atuando no Flamengo também desde 1923, este gaúcho extremamente aguerrido logo caiu nas graças da torcida, participando ativamente das conquistas de 1925 e principalmente 1927, quando, num ato de extremo heroísmo, atuou na partida decisiva ainda convalescendo de uma cirurgia de apendicite (detalhes no link acima). Mas Moderato já havia perdido boa parte de seu vigor, e decidira encerrar a carreira após a Copa.

Enfraquecida, a Seleção não atua bem contra a Iugoslávia, e acaba derrotada (1-2). Sem uma preparação física adequada, os jogadores sucumbem ao pesado frio do inverno uruguaio. Se bem que, segundo algumas testemunhas daquela partida, não só de frio os brasileiros teriam tremido...

De qualquer forma, a derrota para os iugoslavos faz com que a Seleção, já eliminada para a partida final contra a Bolívia, seja bastante modificada. Somente a linha média é integralmente mantida. A defesa, muito criticada, e principalmente o ataque são totalmente reformulados para a partida final. Ao todo, são seis alterações na equipe, em que somente Fausto e o atacante tricolor Preguinho agradaram.

Moderato é um dos beneficiados com as mudanças. Entra no lugar do opaco atacante Teófilo, do São Cristóvão. E se torna a grande figura da partida contra a Bolívia. Sua entrada dá mais agressividade e movimentação ao time, em que pese a fragilidade do adversário. Marca dois gols na goleada por 4-0 (Preguinho, que realmente vivia grande fase, completou o placar), que faz com que a Seleção se despeça da Copa de forma honrosa. Muita gente chegou a afirmar que, se Moderato estivesse em campo contra os iugoslavos, as chances de vitória brasileira teriam aumentado bastante.

Mas nem tudo foram lamentos. A torcida paulista havia se mobilizado vivamente para acompanhar a Copa e torcer... contra a Seleção, a ponto de soltar fogos e comemorar a eliminação do “scratch carioca”.

Enfim, ao final do Mundial, Moderato, como havia anunciado, encerrou a carreira e Benevenuto ainda atuou no Flamengo até o final do ano, sendo a seguir negociado.

1934 – O Caos

1934. O Flamengo vive o mais prolongado e pior inferno astral de sua história. Indefinido entre manter-se no anacrônico amadorismo ou aderir ao profissionalismo, esfacelado em diversas correntes políticas, que viviam brigando entre si (a ponto de dois presidentes renunciarem no mesmo ano), o clube vai empilhando participações ridículas nos campeonatos que disputa, chegando a amargar um jejum que duraria DOZE anos. Além disso, sem dinheiro, não tem mais como manter a sede na Rua Paysandu, que é devolvida à Família Guinle (ao menos ganha o direito de uso de um terreno no longínquo bairro da Gávea, em 1931). Como se não bastasse, perde seu maior ídolo, o goleador Nonô, que morre vítima de tuberculose. Definitivamente, é a chamada “década maldita”.

Num cenário desses, não é de se admirar que, dos 17 jogadores convocados pelo treinador Luiz Vinhaes (campeão carioca por São Cristóvão e Bangu), nenhum jogador pertença ao Flamengo. E isso diante de mais uma cisão (dessa vez uma briga entre profissionais e amadores), onde a Seleção novamente não é representada por todos os seus melhores jogadores.

De qualquer forma, a preparação da Seleção para a Copa de 1934 conseguiu ser ainda mais caótica do que no Mundial anterior, com jogadores viajando de navio, praticamente sem treinar, e desembarcando muito acima do peso (houve caso de jogador com nove quilos acima do ideal). Num cenário desses, a Seleção foi presa fácil para a forte Espanha (à época um dos melhores times do mundo), sofrendo três gols ainda no primeiro tempo (derrota por 1-3). Destaque apenas para Leônidas, que a CBD contratou a peso de ouro, tirando-o do Vasco. Como curiosidade, a campeã acabaria sendo a Itália, após as “carinhosas” palavras de Mussolini ao seu treinador (“é importante que a Itália vença esta Copa, até pela sua segurança pessoal”). Depois reclamam da pressão no futebol de hoje em dia...

Assim se resume a pálida participação flamenga nas duas primeiras Copas. Mas, dali a quatro anos, o quadro iria se modificar radicalmente. Em 1938, o Flamengo, já sob a gestão de um dos maiores presidentes de sua história, estaria sob forte reestruturação, que a recolocaria no papel de protagonista do futebol nacional.

E, de quebra, ainda veria um dos maiores times de sua história.

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