terça-feira, 5 de agosto de 2008

RETRATAÇÃO - Texto "Uma tribo chamada Flamengo" é de Ronaldo Helal

Em 29 de outubro de 2004, o Blog da FlamengoNET veiculou um post (veja aqui o link) de Mario Cruz, colaborador lincenciado por estar na Vice-Presidência de Planejamento do Clube de Regatas do Flamengo, em que este reproduzia o texto "Uma Tribo Chamada Flamengo", originalmente escrito por Ronaldo Helal, professor de comunicação social da Uerj, sem os devidos créditos. O fato acabou sugerindo que a autoria do texto era de Mario Cruz. A qualidade do texto fez com que ele fosse reproduzido em outros meios - blogs, por exemplo -com a autoria equivocadamente atribuída a Mario Cruz, e não a quem de direito.

No que cabe à nossa responsabilidade, pedimos ao autor as nossas sinceras desculpas e reproduzimos aqui a retratação de Mario Cruz, que também pode ser lida no link, onde o post havia sido originalmente publicado. Cabe ressaltar que só tomamos conhecimento desse equívoco há poucos dias, quando recebemos uma própria mensagem de Helal.

Reiteramos, neste post, à comunidade que frequenta ao Blog, e principalmente aos colaboradores do Blog, a importância de respeitar os direitos autorais conforme as leis vigentes, e o cuidado com citar fontes e autores de modo preciso.

Equipe da Administração do Blog da FlamengoNET

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Retratação de Mario Cruz (em 31/07/2004)

Este texto "Uma Tribo Chamada Flamengo" é de autoria do professor universitário Ronaldo Helal. Não me recordo bem de como tudo aconteceu, mas provavelmente recebi o texto (sem o nome do autor) e, num momento delicado do Flamengo no campeonato brasileiro de 2004, decidi reproduzi-lo para levantar o moral da torcida, alterando apenas o número de torcedores de acordo com as pesquisas então veiculadas e acrescentando uma pequena introdução em itálico. De minha parte, foi um equívoco publicá-lo sem enfatizar que a autoria do texto não era minha, conclusão a que alguns podem ter chegado por constar minha assinatura como a pessoa que enviou o post. Ressalto minha total falta de dôlo em todo episódio e já convidei o autor para tomar um café comigo na sede do Flamengo, onde poderei pedir desculpas, pessoalmente.

Mario Cruz
Colaborador do Blog da FlamengoNET (Licenciado)

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LEIA AQUI O TEXTO "UMA TRIBO CHAMADA FLAMENGO", DE RONALDO HELAL


Uma Tribo Chamada Flamengo

Ronaldo Helal

Dentre todas as torcidas do Brasil, a do Flamengo é disparada a maior. O gigantismo da Nação Rubro-Negra, estimada em 35 milhões de brasileiros, é uma boa base para uma reflexão sobre os "elos tribais" que se formam em torno do futebol. O que se segue são algumas pistas para um estudo sociológico mais profundo sobre o referencial simbólico que a torcida do Flamengo oferece.

Tentar explicar a popularidade do Flamengo não é uma tarefa fácil. Dizer que esta deve-se ao caráter democrático do clube é uma falácia que não se sustenta com dados históricos: o Flamengo era no início do século tão elitista quanto Fluminense e Botafogo. Atribuir às cores vermelho e preto uma atração maior exercida sobre as pessoas é também uma explicação precipitada e sem comprovação empírica: outros clubes do Brasil possuem essas cores e não são os mais populares em seus estados. Talvez uma explicação mais plausível encontra-se no fato de que o Flamengo, em um dado período de sua história, treinava em campo aberto, permitindo à população um contato mais próximo com os atletas, levando o jogo para o "homem comum". Ainda assim ficamos no terreno das especulações. Portanto, mais do que tentar buscar explicações para sua popularidade, torna-se fundamental entender as diferenças e singularidades que emanam desse fato.

Em uma crônica publicada em O Globo, no dia 2 de maio de 1964, o dramaturgo e escritor Nélson Rodrigues, ilustre torcedor do Fluminense, afirma o seguinte: "Todo brasileiro é um pouco rubro-negro. A alegria rubro-negra não se parece com nenhuma outra. Não sei se é mais funda ou mais dilacerada, ou mais santa, só sei que é diferente". A observação carrega uma reflexão sociológica basilar para se compreender a singularidade da cultural da torcida do Flamengo. Ser a maior torcida significa também, neste caso, ser diferente, de uma qualidade singular. A quantidade denota aqui uma particularidade única no ato de pensar, agir e torcer pelo Flamengo.

No senso comum ouvimos repetidas vezes a sentença "quem não é Flamengo é anti-Flamengo". Janet Lever, uma socióloga americana, já observava em seu livro A loucura do futebol, que a intensidade dos sentimentos "anti-flamenguistas" que permeiam o universo das outras torcidas revelava um referencial simbólico básico para a compreensão das características culturais dos torcedores de futebol da cidade do Rio de Janeiro. "Os fortes sentimentos antiflamenguistas muitas vezes unem os torcedores adversários". E mais: sempre que o Flamengo enfrenta outro grande do Rio, a mídia, refletindo o sentimento da cidade, destaca frases do tipo "O Vasco enfrenta hoje o seu rival mais tradicional - o Flamengo" ou "O Botafogo está pronto para a partida com seu arquiinimigo - o Flamengo".

Ora, sendo assim, quem é o maior rival do Flamengo? Para os flamenguistas com mais de 40 anos pode ser que seja o Botafogo, enquanto os mais jovens devem apontar o Vasco ou o Fluminense. Na verdade, o maior rival do Flamengo não se forma a nível estrutural. É uma questão de conjuntura. Hoje pode ser o Vasco, amanhã o Fluminense e depois o Botafogo e assim por diante. O flamenguista é Flamengo e ponto final. Ele não faz alianças com outros clubes em uma decisão que não esteja presente. Neste caso, a partida não lhe interessa. Mas quando está na final contribui, e muito, para a união dos adversários. O flamenguista está preocupado somente e tão somente com o seu Flamengo. Sabe de cor e salteado a escalação de seu time, mas tem dificuldades de escalar os adversários. Ao ler os jornais, concentra-se somente nas matérias que dizem respeito ao Flamengo, ficando bem secundário o noticiário a respeito dos outros clubes. E quantas vezes não se surpreende ao perceber que um torcedor de outro time sabe mais de Flamengo do que de seu "time de coração"?

Essas informações somadas àquelas de Nélson Rodrigues e de Janet Lever nos remetem para a importância de um estudo sobre o mapeamento cultural do universo futebolístico da cidade do Rio de Janeiro, onde o Flamengo é a base e o referencial para a formação dos elos tribais que daí emanam. Se todos são um pouco rubro-negros, conforme sentenciou Nélson Rodrigues, a tribo Flamengo é o paradigma exemplar do modo de ser carioca. Se "quem não é Flamengo é anti-Flamengo", conforme diz o ditado popular e observou a socióloga americana, a tribo Flamengo é o referencial para os sentimentos de torcer, de amar e de odiar tão freqüentes no universo do futebol.

Flamengo Net

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