sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Retratação de Mario Cruz (em 31/07/2004)

Este texto "Uma Tribo Chamada Flamengo" é de autoria do professor universitário Ronaldo Helal. Não me recordo bem de como tudo aconteceu, mas provavelmente recebi o texto (sem o nome do autor) e, num momento delicado do Flamengo no campeonato brasileiro de 2004, decidi reproduzi-lo para levantar o moral da torcida, alterando apenas o número de torcedores de acordo com as pesquisas então veiculadas e acrescentando uma pequena introdução em itálico. De minha parte, foi um equívoco publicá-lo sem enfatizar que a autoria do texto não era minha, conclusão a que alguns podem ter chegado por constar minha assinatura como a pessoa que enviou o post. Ressalto minha total falta de dôlo em todo episódio e já convidei o autor para tomar um café comigo na sede do Flamengo, onde poderei pedir desculpas, pessoalmente.


Mario Cruz
Colaborador do Blog da FlamengoNET (Licenciado)

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Uma Tribo Chamada Flamengo

* Em homenagem à boa partida que realizamos contra o atual líder do Brasileirão, segue o texto abaixo com objetivo de cada vez mais nos conscientizarmos da importancia do Flamengo em nossas vidas

Dentre todas as torcidas do Brasil, a do Flamengo é disparada a maior. O gigantismo da Nação Rubro-Negra, estimada em 35 milhões de brasileiros, é uma boa base para uma reflexão sobre os "elos tribais" que se formam em torno do futebol. O que se segue são algumas pistas para um estudo sociológico mais profundo sobre o referencial simbólico que a torcida do Flamengo oferece.

Tentar explicar a popularidade do Flamengo não é uma tarefa fácil. Dizer que esta deve-se ao caráter democrático do clube é uma falácia que não se sustenta com dados históricos: o Flamengo era no início do século tão elitista quanto Fluminense e Botafogo. Atribuir às cores vermelho e preto uma atração maior exercida sobre as pessoas é também uma explicação precipitada e sem comprovação empírica: outros clubes do Brasil possuem essas cores e não são os mais populares em seus estados. Talvez uma explicação mais plausível encontra-se no fato de que o Flamengo, em um dado período de sua história, treinava em campo aberto, permitindo à população um contato mais próximo com os atletas, levando o jogo para o "homem comum". Ainda assim ficamos no terreno das especulações. Portanto, mais do que tentar buscar explicações para sua popularidade, torna-se fundamental entender as diferenças e singularidades que emanam desse fato.

Em uma crônica publicada em O Globo, no dia 2 de maio de 1964, o dramaturgo e escritor Nélson Rodrigues, ilustre torcedor do Fluminense, afirma o seguinte: "Todo brasileiro é um pouco rubro-negro. A alegria rubro-negra não se parece com nenhuma outra. Não sei se é mais funda ou mais dilacerada, ou mais santa, só sei que é diferente". A observação carrega uma reflexão sociológica basilar para se compreender a singularidade da cultural da torcida do Flamengo. Ser a maior torcida significa também, neste caso, ser diferente, de uma qualidade singular. A quantidade denota aqui uma particularidade única no ato de pensar, agir e torcer pelo Flamengo.

No senso comum ouvimos repetidas vezes a sentença "quem não é Flamengo é anti-Flamengo". Janet Lever, uma socióloga americana, já observava em seu livro A loucura do futebol, que a intensidade dos sentimentos "anti-flamenguistas" que permeiam o universo das outras torcidas revelava um referencial simbólico básico para a compreensão das características culturais dos torcedores de futebol da cidade do Rio de Janeiro. "Os fortes sentimentos antiflamenguistas muitas vezes unem os torcedores adversários". E mais: sempre que o Flamengo enfrenta um outro grande do Rio, a mídia, refletindo o sentimento da cidade, destaca frases do tipo "O Vasco enfrenta hoje o seu rival mais tradicional - o Flamengo" ou "O Botafogo está pronto para a partida com seu arquiinimigo - o Flamengo".

Ora, sendo assim, quem é o maior rival do Flamengo? Para os flamenguistas com mais de 40 anos pode ser que seja o Botafogo, enquanto os mais jovens devem apontar o Vasco ou o Fluminense. Na verdade, o maior rival do Flamengo não se forma a nível estrutural. É uma questão de conjuntura. Hoje pode ser o Vasco, amanhã o Fluminense e depois o Botafogo e assim por diante. O flamenguista é Flamengo e ponto final. Ele não faz alianças com outros clubes em uma decisão que não esteja presente. Neste caso, a partida não lhe interessa. Mas quando está na final contribui, e muito, para a união dos adversários. O flamenguista está preocupado somente e tão somente com o seu Flamengo. Sabe de cor e salteado a escalação de seu time, mas tem dificuldades de escalar os adversários. Ao ler os jornais, concentra-se somente nas matérias que dizem respeito ao Flamengo, ficando bem secundário o noticiário a respeito dos outros clubes. E quantas vezes não se surpreende ao perceber que um torcedor de outro time sabe mais de Flamengo do que de seu "time de coração"?

Essas informações somadas àquelas de Nélson Rodrigues e de Janet Lever nos remetem para a importância de um estudo sobre o mapeamento cultural do universo futebolístico da cidade do Rio de Janeiro, onde o Flamengo é a base e o referencial para a formação dos elos tribais que daí emanam. Se todos são um pouco rubro-negros, conforme sentenciou Nélson Rodrigues, a tribo Flamengo é o paradigma exemplar do modo de ser carioca. Se "quem não é Flamengo é anti-Flamengo", conforme diz o ditado popular e observou a socióloga americana, a tribo Flamengo é o referencial para os sentimentos de torcer, de amar e de odiar tão freqüentes no universo do futebol.

* Este texto é de autoria de Ronaldo Helal, professor da faculdade de comunicação social da Uerj. O artigo se chama "Uma Tribo Chamada Flamengo"e foi publicado originalmente na revista do do Flamengo ano II, número 16,março de 1997.

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