quarta-feira, 6 de agosto de 2008


COLUNA DE QUARTA-FEIRA João Marcelo Maia

Da euforia ao desespero ou de como o Flamengo só conhece céu e inferno

Não há de novo no que o Flamengo vive agora, nem no ânimo da torcida. Há anos que oscilamos entre uma euforia irrestrita e um pessimismo avassalador, como se não houvesse ponderação possível. É como se a palavra "razoável" fosse inaplicável ao rubro-negro. Este ano, partimos do "lá vem o hexa" para o desespero completo. Será que ninguém percebeu que são duas faces da mesma moeda?

Saímos da liderança e caímos em sexto lugar depois de só conseguirmos dois pontos em dezoito. É ridículo. As causas evidentes todos aqui já analisaram: venda de jogadores-chaves, ausência de boas peças de reposição, falta de planejamento. Mas poucos perceberam que o Flamengo não joga sozinho no campeonato. Enquanto surfávamos no topo da tabela com um time azeitado que era animado por uma espécie de compromisso moral pela perda da Libertadores, íamos bem. Mas outros times subiram de produção no momento em que vivíamos as primeiras dificuldades: Grêmio, São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro. Pronto, bastou. Já estão invadindo treinos, e os mais civilizados bradando contra a diretoria, o time e o técnico. Viramos o pior time do Brasileiro? Entramos na zona de rebaixamento?

Querem um exemplo simples? Bastou uma boa sequência de vitórias e Caio Jr. foi transformado numa espécie de Telê Santana. Novo contrato milionário feito, com rescisão alta e planejamento até o outro milênio. Agora, periga o simpático treineiro virar um sub-Lula Pereira. Não lhe franqueamos a possibilidade de ser apenas um técnico promissor.

Não quero brincar de otimismo, não se trata disso. Pessoalmente nunca achei que tínhamos "o maior e melhor elenco do Brasil", nem que estávamos perto do hexa. Meu problema não é com críticas, mas com o fato de que elas parecem surgir do mesmo mecanismo emocional que produz elogios desvairados. No Flamengo, o rojão no treino é o desdobramento lógico do oba-oba, e isso contamina dirigentes, jogadores e torcedores. Enquanto continuarmos esquizofrênicos, estaremos sujeitos a hecatombes como esta de agora, ou como aquela propiciada pelos 3 gols de Cabanas.

Não existe uma separação tão nítida assim entre torcida e time no caso do Flamengo. Em 2007, essa comunhão nos foi favorável, e a apoteose da arquibancada capturou o clube e lhe incutiu uma alma que há muito não se via. Mas é essa mesma comunhão que torna difícil a assimilação de derrotas e encurta a distância entre sucessos e fracassos. No Flamengo, não existe purgatório.

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