EU
ACUSO.
A
quem eu acuso? Ei ei, é você! Não se esconda atrás da
cadeira não, é você mesma! Não, o Ronaldinho não está aí, nem
o Joel, nem o Luxemburgo, nem o Zico. É com você que eu tô
falando, presidente. Você, e apenas você.
ACUSO
de incompetência. Sim, quem coleciona um rosário tão vasto de
vexames em dois anos e meio merece um estudo de caso. Você recebeu
um time campeão brasileiro, uma torcida extremamente mobilizada, uma
mídia inflamada pronta para elevar mortais a deuses. Está nos
entregando um time regional, sem perspectivas, derrotado antes do
apito inicial. Uma equipe que joga errado, é armada errado, um
elenco comandado pelo jogador errado e um treinador obsoleto que não
transmite o mínimo de controle e disciplina a um grupo mimado. Suas
técnicas avançadas de gestão incluem a distribuição de complexas
cartilhas redigidas num Português capaz de extrair risadas de
crianças de oito anos. O vice de finanças fala de futebol, o vice
de relações exteriores (o Flamengo é o Itamaraty?) fala de
futebol, o vice do jurídico(?) viaja para contratar jogador, sua
administração é uma zona, uma esculhambação generalizada. E o
bando que se vê em campo é um retrato fiel disso.
ACUSO
de oportunismo. Você estava no Engenhão domingo? Gozado, não a vi.
E no jogo do Olimpia, você estava? Estranho, não percebi também.
Aliás, você nunca aparece na derrota, não é? Tenho certeza que se
o time tivesse vencido alguma câmera conveniente se apressaria em
focalizar suas palminhas nas tribunas. Suas práticas de trabalho
próprio de imagem são anacrônicas, previsíveis, próprias de
vilarejos dos anos 50. Em seu sorriso inexpressivo está imprimida,
indelével, a marca da derrota, o estigma dos perdedores. É patético
seu empenho em associar-se às glórias da instituição como se
grande líder fosse. Pegajosa, sua presença insistente e inoportuna
ao lado de atletas recende a compaixão e desprezo.
ACUSO
de diversionismo. Você tenta insultar nossa inteligência, dando aos
esportes amadores peso semelhante ao futebol flamengo. O Flamengo é
a mais expressiva instituição esportiva desse país, basicamente
por conta do que construiu nos gramados do Rio, do Brasil e do Mundo.
Sim, a história do remo, do basquete e de outros esportes também é
rica, mas eu lhe desafio a citar DOIS jogadores do time de basquete
mais vitorioso da história flamenga. Bastam dois. Será que o Samba
Rubro-Negro, a Charanga, a gaitinha de Ary Barroso e outras inúmeras
expressões da nossa arte popular exaltavam o Flamengo por conta do
nosso time de arco e flecha? No entanto, seu foco é acariciar “o
esporte olímpico”, do qual eu só me lembro quando vejo seu
amiguinho ginasta ir aos jornais reclamar que o clube não lhe dá um
camarim climatizado. Ah, mas você trouxe o Cielo. Cielo, cielo...
Opa, lembrei! Crédito ou débito?
ACUSO
de omissão. Você, convenientemente, gosta de confundir delegação
com transferência de responsabilidade. Atirar em terceiros os
encargos de sua posição é um dos seus esportes preferidos. Você
precisa de um biombo que torne opaca a percepção de sua completa
incapacidade para exercer o comando do clube. E nesse processo você
não hesitou em anuir na instalação de um dos mais revoltantes e
covardes processos já vivenciados no âmbito flamengo, expondo a
sacra imagem do maior ídolo de nossa história às patas imundas de
seus áulicos e outras ratazanas, que buscaram histericamente
macular-lhe a honra e a credibilidade. Agora você lambe sua memória,
diz-lhe coisas gentis. Não adianta, esses votos você já perdeu.
ACUSO
de falta de visão. A gente imaginava que a gestão de imagem da
administração anterior era uma piada, algo de mau gosto. Pois você
conseguiu ser ainda pior. O trabalho desenvolvido pelo marketing do
clube é de uma mediocridade tão cintilante que mencioná-la chega a
suscitar ondas de constrangimento. O trabalho de promoção e
construção de percepção externa do clube está entregue a
colegiais, a gente que atua como neófito, incapaz de estampar UMA
MÍSERA logomarca na camisa do clube, fonte de renda primária e
primitiva que movimenta um negócio disseminado desde os ANOS 80.
Você trouxe um jogador que abria uma miríade de possibilidades,
você conseguiu uma oportunidade de ouro para reverter a sua gestão,
mérito seu (olha só, eu também elogio...). Mas jogou tudo fora.
Não conseguiu lançar UM CHAVEIRO no momento certo, nem mesmo quando
o sujeito chegou a responder em campo, durante o Brasileiro. Agora? O
menino já caiu nas boates da vida e não quer jogar bola. Vai lançar
bonequinho? Agora?
ACUSO,
por fim, do pior dos crimes. Você nos roubou. Roubou a alegria de
ser rubro-negro.
Não,
a culpa pelo que está acontecendo não é só sua. Mas a
responsabilidade é. ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE sua, Patrícia Amorim.
E
quem eu sou? Só um torcedor. Eu não importo. Afinal,
torcedor não vota. Não elege.
Mas
derruba.
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