terça-feira, 13 de março de 2012
Alfarrábios do Melo
Saudações
flamengas a todos. Eis que estou de volta ao blog, após meses de
afastamento forçosamente voluntário (se é que isso existe). É que
nasceu Alice, minha pequena rubro-negra, e a experiência de “pai
de primeira viagem” me absorveu deliciosa e intensamente nesse
período. Mas, entre mamadeiras, fraldas, choros e chupetas, pude
seguir acompanhando o conturbado início da temporada do Flamengo.
Tivemos Ronaldinho e Luxemburgo num atrasado e anunciado “revival”
do choque Romário-Luxa de 1995 (aliás, com resultado e efeito
parecidos), vivemos o retorno do “Papai Joel” e suas práticas
bem sucedidas, posto que medíocres, o acaso começando a forjar um
time que, se conseguir passar incólume por alguns momentos cruciais,
tem tudo para deslanchar.
Aí
aparece o Adriano.
Cogitado
para retornar ao rubro-negro após ser enxotado pela enésima vez de
um elenco, por conta de seu comportamento agudamente
antiprofissional, o Imperador parece vislumbrar, dessa vez, as portas
entreabertas por uma diretoria particularmente sensível à voz rouca
das ruas, especialmente em um ano cuja temperatura eleitoral deverá
beirar o inflamável.
E
seria uma boa?
Adriano
é um sujeito movido a estímulos, a impulsos, e reage intensamente
ao ambiente que o acolhe ou rejeita. Isso foi muito claro em 2009,
quando, extremamente motivado pelo retorno ao Flamengo, engatou
atuações excelentes, mesmo gordo e fora de forma (estreia contra o
Atlético-PR e a goleada sobre o Internacional). Depois começou a
cair na rotina e já atuava como um jogador comum quando Dunga
acenou-lhe com uma chance real de disputar a Copa do Mundo, ser
grande, renascer como Ronaldo em 2002. Os conselhos e esporros do
treinador resmungão pareceram funcionar, e Adriano atuou de forma
deslumbrante na maior parte do returno daquele Brasileiro (a imagem
do “hulk” contra o Coritiba, a atuação de gala no Fla-Flu ainda
cintilam na memória e nos corações dos torcedores).
Mas
na reta final o Imperador novamente começava a sucumbir ao seu
estilo de vida desregrado e pouco dedicado. Mesmo com o time às
portas de uma conquista tão vorazmente ansiada pela Nação, Adriano
voltou à rotina de faltar a treinamentos, às saídas noturnas, à
“busca pela felicidade”. O rendimento voltou a cair. Mas,
diferenciado, o Imperador ainda era decisivo, como o foi no Engenhão,
no Mineirão, nos Aflitos. Só que, no momento final, nos últimos
jogos que exigiram intensidade máxima, um estranho incidente com
lâmpadas (motos?) o afastou do time. Queimado, inchado, lacerado,
quase indiferente, Adriano viu o time se superar contra o Corinthians
e atuou visivelmente sem condições de jogo na grande final contra o
Grêmio. O hexa chegou, e Adriano foi fundamental para sua conquista.
Mas ao seu modo, e por conta de empurrões providenciais em
momentos-chave.
Veio
2010, e o Imperador, já enfastiado e campeão, resolve “ser
feliz”. Larga de vez o mínimo de profissionalismo que ainda
mantinha, envolve-se em confusões com amantes, traficantes, amizades
estranhas. Segue metendo gols, trucida o Fluminense em sua última
atuação de gala, forma com Wagner Love um ataque badalado e
perigoso, aposta para a Libertadores que é esfarelada pelos
sucessivos escândalos imperiais. Adriano chega a ser afastado do
time antes de partidas pela mais importante competição do ano, por
não reunir a mínima condição de entrar em campo. Começa a se
tornar decisivo da forma errada. Perde um pênalti na Final da Taça
Rio contra o Botafogo e sua relação com a torcida já não é mais
a mesma.
E,
já aporrinhado das fofocas, das “pessoas ruins”, da perseguição
da imprensa (que vê notícia em seu corpanzil), das vaias que já
começam a aparecer e sem qualquer motivação para seguir sua
rotina carioca, Adriano aceita retornar à Itália e tentar ser feliz
onde era infeliz um ano antes. Seleção? Vai para a lata do lixo,
junto com a última oportunidade de atuar em alto nível.
Na
Roma e no Corinthians, sua trajetória é atrapalhada por contusões
e confusões extracampo. As lesões exigem-lhe dedicação,
perseverança. Mas Adriano não funciona a longo prazo, o Imperador
quer ser feliz, quer viver o momento, quer carinho mas não quer
sacrifício.
Trazer
Adriano agora, do ponto de vista meramente gerencial, seria uma
temeridade. Trata-se de um jogador extremamente problemático, que só
funciona (quando funciona) a curto prazo, coisa de seis meses no
máximo (mais ou menos como ocorreu em 2009). Além disso, a
administração do elenco já tem sido complicada, o grupo de
jogadores acaba de vencer uma queda-de-braço com o disciplinador
Luxemburgo. O expoente do time, Ronaldinho, é um jogador que também
já não parece muito a fim de viver os sacrifícios de uma carreira
de jogador de bola. Trazer o Adriano agora seria passar ao elenco a
mensagem de que a diretoria segue disposta a abrir mão de certas
práticas. É a famosa gestão “deixa que a gente se garante em
campo”, que também não costuma dar muito resultado a longo prazo.
(Alguém lembrou 2010 de novo?)
Isso
num momento em que, após 20 anos, enfim o Flamengo parece estar
revelando uma base sólida e consistente de jogadores. Garotos
começam a se assumir titulares e em breve poderão ser a referência
e a espinha dorsal de uma equipe que poderá resgatar suas tradições,
seus valores. Acompanhar os maiores ídolos faltando a treinos,
derrubando treinadores e afundando-se em baladas variadas não parece
ser a melhor forma de se forjar uma mentalidade vencedora e
competitiva.
Finalmente,
há um time em formação. Onde o Imperador se encaixaria? Lembrando
que somente agora, com a entrada de jovens como Muralha e L.Antônio,
o time parece procurar o caminho para se livrar do ranço e da
lentidão de seu jogo. Ronaldinho e Adriano juntos? Vai funcionar? E
o Love? Lembrando que o Andrade não conseguiu, em nenhum momento,
montar o time com Adriano, Love e Pet em 2010 (depois, nem sem o
Pet).
Finalizo
com um link para esse post aqui.
São
trajetórias que, infelizmente, parecem convergir a cada dia.
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