quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O maior negócio do mundo
Por Vinicius Paiva


Eis que Ronaldinho Gaúcho chegou, resultado de uma das mais ousadas jogadas de marketing do clube em décadas. Paralelo, só mesmo com a chegada de Romário (em janeiro de 1995) quando um pool de empresas uniu esforços para trazer o melhor jogador do mundo à época para a Gávea. Naqueles tempos a mídia e o poderio econômico concentrados no Rio ainda permitiam este tipo de contratação. De lá pra cá, o esvaziamento econômico da capital fluminense refletiu em seus clubes – o que tornou a concorrência com paulistas, gaúchos e até mineiros um tanto desleal. Felizmente, os resultados recentes do futebol carioca, atrelados ao renascimento do Rio de Janeiro – principal sede da Copa do Mundo 2014 e dos jogos Olímpicos de 2016 – vem alterando este cenário. A ponto de fazer do Flamengo o vencedor em um leilão milionário contra Grêmio e Palmeiras.

Resta claro que o aporte do Flamengo para contar com o craque não foi nada modesto. Além dos salários – que giram entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão, cada publicação diz uma coisa – houve ainda o valor pago ao Milan a título de ressarcimento. Dizem que também existe uma dívida do clube italiano com o jogador, a ser assumida pelo Flamengo. Nenhum destes valores foi oficialmente confirmado – confesso estar tentando apurá-los. Ontem, o jornalista Paulo Vinicius Coelho, da ESPN, afirmou que o Flamengo só arcará com 20% dos ordenados de Ronaldinho, cabendo à Traffic os outros 80% - bem como a exploração da imagem do jogador. Isso é ótimo, mas será que a Traffic colaborou com a multa rescisória, ou esta coube exclusivamente ao Flamengo? Dúvidas a serem esclarecidas.

De qualquer maneira, não restam dúvidas de que monstros sagrados do quilate de Ronaldinho pertencem a uma categoria especial de jogadores que “se pagam”. Quando a conjunção reúne “Ronaldinho + torcida do Flamengo” - um fenômeno da natureza – garante-se retorno e cofres cheios aos envolvidos. Mas é certo que nada virá sem trabalho e uma estratégia de marketing minuciosamente delimitada.

Num primeiro momento, a explosão virá na venda de camisas. Com Adriano e o hexacampeonato de 2009, vendeu-se 1,3 milhão de camisas em 6 meses. Com Ronaldinho, teremos 12 meses pela frente para, no mínimo, igualarmos a marca. Este não é um departamento que renderá recursos específicos ao Flamengo, mas sim para sua parceira Olympikus. O que não é nada ruim, mediante os excelentes aportes anuais que a fornecedora de material esportivo nos gera. Um clube só atrai parceiros quando se torna garantia de retorno aos mesmos. Portanto enriquecer aqueles que nos patrocinam é uma forma de enriquecer a si próprio. A Olympikus só precisa tomar cuidado para não se empolgar e sair produzindo novas levas do uniforme atual, pois em menos de 3 semanas o mesmo se tornará defasado - com a saída da Batavo. É bom lembrar que até semana passada, o atual uniforme definhava nas lojas, sendo vendido a preços promocionais abaixo dos R$ 90. Agora, voltou a custar R$ 159. Se eu fosse a Olympikus, focaria na produção do próximo modelo, deixando o estoque atual se esgotar.

Em um segundo momento, aí sim Ronaldinho começará a trazer recursos diretos para o clube, principalmente ao inflacionar os valores cobrados pelo Flamengo a título de patrocínio master. Antes do craque, o clube pedia R$ 25 milhões anuais, mas não oferecia nada em troca: sem craques, sem Libertadores, sem ostentar a condição de campeão nacional e com toda a imagem desgastada de 2010. Houve quem me garantiu que se oferecessem menos de R$ 20 milhões, o clube aceitaria na hora. Agora não – especulam-se valores acima dos R$ 30 milhões, fazendo com que a soma dos patrocínios (incluindo TIM e BMG) possa até mesmo superar os valores recebidos pelo Corinthians, líder nacional no quesito. Uma evolução e tanto.

Outro grande benefício que o clube terá de imediato será a venda de pacotes de pay per view para um valorizadíssimo Campeonato Carioca 2011, além do Brasileirão. A divisão dos valores recebidos por cada clube tem relação direta com o percentual das torcida entre os pacotes vendidos. Certamente a euforia que toma conta da torcida rubro-negra fará com que o Flamengo dispare ainda mais na dianteira deste ranking – historicamente liderado pelo Mengão.

Mas, para mim, o mais importante dentro deste processo é a MONUMENTAL exposição de mídia que o clube vem tendo - e passará a ter em definitivo daqui por diante. Não há site, jornal, revista ou TV que não venha colocando o Flamengo como destaque em sua programação. E isto faz toda a diferença do mundo. Maior exposição aumenta o poder de barganha do clube mediante novos patrocinadores, além de gerar renovações de patrocínios mais generosas. Maior exposição leva o Flamengo a mais pessoas, atraindo novos torcedores – especialmente os mais jovens, fãs de clubes europeus como o Barcelona, bem como fãs do futebol-arte. Regiões onde o clube vinha perdendo força, como o Paraná (da entusiasmada Londrina, onde fazemos pré-temporada) e alguns estados do Nordeste voltam a enxergar o Flamengo com melhores olhos. E a cada esquina, o assunto entre grupos de torcedores passou a ser “o Flamengo de Ronaldinho Gaúcho”, despertando ainda mais amor e ódio em torno do rubro negro carioca. Ressalto que amor e ódio, sendo duas faces de uma mesma moeda, são imprescindíveis para manterem o Flamengo na condição de maior de todos. Ultimamente, o posto de “clube mais odiado do Brasil”, por conta do bairrismo da mídia, vinha sendo ocupado pelo Corinthians, o que é muito ruim. A antipatia do adversário, dentro do futebol, é extremamente salutar. O “fale mal mas fale de mim” gera audiências ainda maiores em torno do clube em questão.

Espero, na semana que vem, poder analisar os números que envolvem a transação de Ronaldinho Gaúcho para o Flamengo, além de elaborar uma análise sobre o mapa da transmissão televisiva dos estaduais-2011. Só para esquentar o debate: O Campeonato Carioca de 2011 será veiculado para 15 estados do Brasil (incluindo o Distrito Federal), enquanto o Paulista, apenas para 4. (http://glo.bo/hBtDTy)

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

Twitter: www.twitter.com/viniciusflanet (@viniciusflanet)

Flamengo Net

Comentários