sábado, 4 de dezembro de 2010
A 4 mãos
Não existe tempo hábil, mas as palavras tem a capacidade e habilidade de driblar e brincar com o tempo.
Se existem 2 caras na blogosfera absolutamente atemporais, esses são (meus amigos que considero irmãos) Arthur (@urublog) e Maurício Neves (@badsnows) (Valeu, brodagem, por emprestarem o texto). E já já vocês entenderão o motivo de meu comentário.
O fato é que 2010 foi um lixo. Sei que muitos discordarão, mas quando Zico falou que o hexa nos fez mal, ele tinha uma ponta de razão. Fez mal para os jogadores, que se elevaram a um nível ímpar, sem ainda fazerem parte dele (hoje, por exemplo, tá cheio de jogador do time que quase foi rebaixado brincando de twitcam, na concentração. Imaginem se fosse em casa...mas cada um é cada um). Fez mal para a diretoria que entrou, que achou que era só botar na banguela que tudo se repetiria. A presidente e sua trupe (pra não dizer outra coisa e vir neguinho me aporrinhar a paciência com mimimi de processo) estiveram sempre aquém do que o clube precisa. Por omissão, por despreparo, por terem foco que não era o Flamengo. Por diversos motivos, o Flamengo hexa campeão conseguiu a PROEZA de ser vice do botafogo. E conseguiu a proeza MASTER de perder todo o medo que os outros adquiriram no fim do ano passado. De novo, os outros times perderam o respeito pelo time, pelo clube, pela camisa.
No meio de tudo, a presidente conseguiu submeter nosso maior jogador a todo e qualquer tipo de humilhação. Permitiu que um conselheiro assumisse a cadeira de presidente, tratou Zico com omissão - de novo - e deixou ele se queimar com o que ela não sabia nem imaginava tratar (cabe um comentário. Zico errou, pois é humano. Mas ele já entrou triturado antes). Claro, imaginem os senhores isso na cabeça do jogador: "Caraca, se fizeram isso com o Zico, imaginem com a gente". Insegurança total do elenco, ainda abalado por tudo que aconteceu no primeiro semestre.
Esse framengo aí é alienado e aleijado por um estatuto cancerígeno. Coisas se repetem, pessoas voltam, e nada é feito. Quem é amigo hoje, é inimigo amanhã. E, depois de amanhã, é amigo. Enquanto isso, nós, torcedores, ficamos aqui, sofrendo, gritando, chorando nas vitórias e derrotas...mas o clube tá andando e andando pra gente. Nossa diretoria acha que o que tem feito está de bom tamanho. Marketing de relacionamento ZERO com a torcida. A Ale e a Olimpikus tem muito a ensinar pra nossa diretoria, pra nossa presidente. Resta saber se eles querem aprender.
Enfim, voltemos a Arthur Muhlemberg e Maurício Neves. Há algum tempo atrás, eles escreveram um texto a 4 mãos, texto esse que, inclusive, foi publicado no livro Ser Flamengo. Ao ler essa preciosidade, entenderão o atemporal. Se fosse publicado hoje, em qualquer blog, seria e estaria perfeito. Talvez trocar o nome do MB por outro, e pronto. E proponho um exercício: metaforizem. Façam uso da metáfora...e entenderão my point.
Feliz 2011 para todos de boa fé.
EM DEFESA DO MANTO SAGRADO
Mauricio Neves e Arthur Muhlenberg
"Pense no Clube de Regatas do Flamengo por alguns segundos antes de continuar a leitura deste texto. Pensou? Pronto. Bastam alguns segundos para ligar o nome Flamengo ao Maracanã lotado, aos gols de Zico, à paixão de uma torcida tão grande que é chamada de Nação. Mas poderíamos apostar sem medo de errar que todas essas lembranças foram precedidas de uma única, primordial e insubstituível, a partir da qual nasceram todas outras.
Falamos da camisa do Flamengo. A veste que abrigou Domingos da Guia, Valido, Índio, Dida, Fio, Doval, Zico, Júnior, Leandro, Rondinelli e Petkovic. A camisa que vestiu nossos avós, nossos pais, que veste a nós e aos nossos filhos, e que vestirá os filhos de nossos filhos. O Manto Sagrado.
A camisa de listras horizontais rubro-negras é um símbolo maior do que Zico porque foi fundamental para que o menino Arthur Antunes Coimbra se apaixonasse pelo time que também era o time de seu pai. Arthurzico nasceu em lar flamengo respirando vermelho e preto por todos os lados. A camisa do Flamengo é um símbolo mais significativo do que Júnior porque sem ela Júnior seria Leovegildo, um nome difícil perdido na multidão. Por isso Júnior diz: - Esta camisa é a minha segunda pele.
Façamos um acordo: se há, na história do Flamengo, um símbolo mais importante do que Zico e Júnior juntos, este há de ser o símbolo maior do clube. Nelson Rodrigues disse que para os clubes a camisa vale tanto quanto uma gravata, mas ressalvou: menos para o Flamengo. Para o Flamengo a camisa é tudo. Tudo.
E quando qualquer um pensa na camisa do Flamengo, mesmo aquele que não tem a ventura de torcer pelo rubro-negro, a imagem que lhes vêm à cabeça é de uma camisa simples, de listras horizontais alternadas em vermelho e preto e bordadas sobre o coração, em letras brancas, as iniciais CRF.
E assim são as nossas camisas, panos rubro-negros com iniciais em branco, como se fossem dez escudos se espalhando pelo gramado em permanente defesa territorial.
A camisa mudou ao longo dos anos, é verdade. Precisou render-se ao patrocínio, não é mais de pano pesado, os números não são mais costurados e o CRF foi trocado pelo escudo, formando uma absurda composição de escudo sobre escudo. Sobrevive no nosso imaginário, porém, sempre do mesmo modo: listras rubro-negras e CRF no lado esquerdo do peito.
A verdade é que a nós, flamenguistas, apavora a possibilidade de que o nosso fornecedor de material esportivo, a Nike, faça com o Manto Sagrado o mesmo que fez com a camisa da seleção brasileira, transformada em um artigo fashion como outro qualquer, pois teve seu conceito original distorcido com o deslocamento do escudo da CBF da sua posição original, sobre o coração, para o meio da camisa. Não nos parece que o atual modelo possua a aparência e a dignidade que merece uma camisa cinco vezes campeã do mundo. Mas deixemos a seleção de lado e vamos agir enquanto é tempo.
Presidente Márcio Braga, todos os poderes para preservar essa instituição mundial que é o nosso Manto Sagrado repousam em suas mãos. Que seu bom senso, equilíbrio e respeito às nossas mais caras tradições se manifeste, ainda que, inexplicavelmente, em sua gestão tenha sido extinta uma de suas mais tradicionais vice-presidências, a do Patrimônio Histórico.
Como comandante dos poderes constituídos de uma Nação, o Presidente sabe melhor que ninguém que a aparência da nossa camisa não pode ser decidida pela visão inconstante e desapaixonada dos movimentos da moda. A camisa do Flamengo é um monumento. Um patrimônio pertencente à Nação e que deve ser preservado por cada um de nós.
As listras rubro-negras horizontais e as letras brancas foram tombadas pela nossa paixão.
São sagradas. E pedem socorro.
Antes que seja tarde demais."
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