Saudações
flamengas a todos.
Essa
semana, deixo mais um texto da série que desmistifica algumas das
mais populares falácias disseminadas pelos iridescentes ensandecidos.
Agora, algumas passagens de alguns dos nossos títulos brasileiros.
Há link para vídeos nas partes em negrito. Boa leitura.
CAÇANDO MITOS - PARTE 2
CAMPEONATO
BRASILEIRO 1982
MITO
1
O
Flamengo foi, como de costume, ajudado pela arbitragem na Final de
1982 (1-0 no Grêmio). Teve um lance que o Andrade tirou uma bola de
dentro do gol com a mão. Um escândalo.
O
FATO
Primeiro,
é bom contextualizar. O Flamengo, campeão do mundo, era o franco
favorito para conquistar aquele que foi, pelo nível, talvez o melhor
campeonato brasileiro de todos os tempos. E justificou plenamente seu
favoritismo. Passou por cima de TODOS, eu disse TODOS os principais
times brasileiros da época. Morumbi, Beira-Rio, Olímpico, Brinco de
Ouro, todos viram e bateram palmas pra máquina de jogar bola
orquestrada por Zico. O Galinho, aliás, foi o goleador, o craque e o
destaque da competição.
Isto
posto, vamos à análise da lenda. O Flamengo vencia o Grêmio por
1-0 no jogo-extra. Início do segundo tempo,
escanteio pros gaúchos.
Tonho cobra, Newmar escora de cabeça, Raul divide com Paulo Isidoro,
a bola sobe e depois começa um batebufo no caterefofo histórico,
todo mundo se empurrando, metendo mão, pé e cara na bola. Quando
parecia que jogadores, bola, juiz e tudo o mais iria parar dentro do
gol, uma mão aparece, dá um tapinha salvador e tira a bola da
confusão. Zico dá uma bicuda e acaba com a zona.
Os
gremistas juram que a bola entrou, influenciados por uma narração
precipitada de Luciano do Valle e pelas “análises” do paulista
Juarez Soares e do botafoguense Márcio Guedes. O FATO é que, apenas
com as imagens da TV, não adianta argumentar, porque as imagens não
são conclusivas e permitem interpretações tendenciosas. O que não
é o caso DESTA FOTO:
Percebe-se
nitidamente (clique para ampliar) o braço esticado de Raul e a mão do goleiro tirando a
bola. Andrade (que involuntariamente andou acendendo a polêmica,
dizendo que “não se lembrava” do lance) está com os braços
junto ao corpo.
Ah,
e bola dentro do gol? É só pegar o vídeo, pausar no momento do
tapinha e olhar os pés dos jogadores. Tem um do Flamengo dentro do
gol, mas ele não participa do lance. Todos os outros estão em cima
da linha. Então, não há como falar em bola dentro do gol. Torcida,
falácia, mimimi.
O
Flamengo foi o campeão brasileiro aquele ano, aliás esse título o
tornou defensor de TODOS os títulos em disputa no planeta. NENHUM
time repetiu esse feito até hoje.
Concluindo,
essa é a derrota mais chorada e a mais lamentada da história do
Grêmio, cuja torcida se orgulhava de seu time “macho” que não
arregava pra ninguém. O Flamengo foi lá e meteu-lhes diante de seus
próprios olhos. Nunca se esquecem, sempre recordam com melancolia
essa doída derrota. O árbitro portou-se corretamente e não influiu
no jogo. Vamos ao próximo lance, ainda desse campeonato.
MITO
2
Nas
Oitavas de Final, o Flamengo perdeu para o Sport em Recife por 2-1. O
árbitro anulou escandalosamente o gol que classificaria o time
pernambucano. Foi a maior garfada da história, sempre contra os
pobres, fracos e indefesos nordestinos.
O
FATO
Não
quero gastar muita linha com esse caso, por conta da inexpressividade
do adversário.
Um
regulamento estapafúrdio deu ao Sport a vantagem de decidir em casa
o matamata contra o Flamengo, que tinha a melhor campanha da
competição (só era contado o desempenho na fase anterior). No jogo
de ida, o Flamengo venceu o adversário e a fortíssima chuva,
abrindo 2-0, uma vantagem razoável para defender em Recife.
Mas
na capital pernambucana o Flamengo não jogou bem, e acabou falhando
muito na defesa. Levou 2-1, mas conseguiu administrar a “vantagem”
sem maiores riscos. Tudo dentro do esperado, sem maior relevância
histórica.
Entretanto,
outro dia uma reportagem de uma TV pernambucana resolveu ressuscitar
a partida falando em "garfada, roubo", entre outros verbetes
onanísticos típicos.
É
que, em um dado momento,
um pernambucano recebe na frente e toca na
saída de Raul, que espalma. O ponta Edson vai buscar a sobra, mas o
jogo já está parado (perceba-se a movimentação de Leandro). Edson
dá sequência mesmo assim, e a bola vai parar dentro do gol. Rádios
e tevês indicam que o auxiliar marcou saída de bola, algo realmente
absurdo pelas imagens.
Mas,
antes que se invoque a memória de Frei Caneca, Felipe Camarão, dos
praieiros ou de Lampião, é bom tomar conhecimento de um pequeno
fato, “estranhamente” omitido na reportagem: O FLAMENGO TAMBÉM
TEVE UM GOL MAL ANULADO, um impedimento mal marcado de Leandro, como
se pode ver fartamente divulgado em jornais e revistas da época
(fotos ao lado, clicar para ampliar).
Além
disso, falta mencionar que os refletores da Ilha do Retiro foram
parcialmente apagados no segundo tempo, recurso costumeiro em
campeonatos varzeanos ou centros menores, onde se pratica um futebol menos
qualificado. Ironicamente, o artifício pode ter prejudicado a visão
do auxiliar justamente no lance tão choramingado pelos nordestinos.
Concluindo,
o árbitro não estava em seus melhores dias, pelos relatos da
imprensa na época. Contudo, sempre que uma equipe de um centro menor
aparece com algum soluço de expressividade, e é remetida de volta
ao seu lugar, sobrevêm essa cantilena de “pobrezinho”, de
“pernambucaninho contra esse mundo mau”, de conspiração, piuí,
buá. Ainda mais quando é o Flamengo, o time da mídia, do papa, do
Frank Sinatra, da Madonna, do Obama...
Agora,
cuidado, torcedor flamengo. Cuidado com a carteira. O Sport pode
querer roubar 1982 também na “mão grande”.
Vamos
ao próximo e último caso de hoje.
CAMPEONATO
BRASILEIRO DE 1992
O
MITO
O
Flamengo subornou alguns jogadores do Botafogo na Final de 1992. O
resultado estranho do primeiro jogo e o churrasco do Renato Gaúcho
após a partida provam isso.
O
FATO
1992
foi um campeonato bonito, o Flamengo mostrou uma superação típica,
e com um time limitado, contestado e aguerrido conseguiu ganhar dos
favoritos Vasco, São Paulo e Botafogo,
cravando um penta sob o
comando do Maestro Júnior, o craque da competição.
Evidentemente,
o torcedor botafoguense, fiel ao seu papel de derrotado, andou
falando coisa feia depois da decisão. Dá pra imaginar a cena, a
frase dita como um murmúrio, o choro contido com dificuldade.
Gaúcho
e Renato eram amigos. Fizeram uma aposta,
quem perdeu pagou um churrasco pro outro. Pegou mal o tom descontraído da coisa, torcedor
tinha razão em se chatear (se o Flamengo perdesse, o Gaúcho não
seria perdoado também), Renato (que era o melhor jogador do rival)
foi afastado. Daí a dizer que houve algo além disso é exercitar
visões lisérgicas do mundo.
Aquele
time do Botafogo jogava um futebol bonitinho, como sempre
superlativizado por uma imprensa sempre receptiva (até pelo número
de cronistas simpáticos à causa). Mas que pipocava nos momentos
decisivos. E desenvolveu uma particular freguesia diante do Flamengo
de Carlinhos. Em um período de um ano, Flamengo e Botafogo se
enfrentaram seis vezes, com
três vitórias flamengas e três
empates. O Flamengo, além do Brasileiro, tirou-lhes
dos dois turnos do Estadual do ano anterior.
Suborno?
Essa hipótese fantasiosa só encontra eco em alguns becos mais
escuros. Até porque o Flamengo já começava a viver sérios
problemas financeiros (houve ameaça de crise por causa de atrasos
salariais às portas da decisão) e não tinha como subornar ninguém. Ainda mais um adversário com forte histórico recente de freguesia.
E,
convenhamos, para enfrentar Vivinho, Odemílson, Pingo e Chicão
Orelhão precisava de mala preta?
(continua)