Mas bateram num conselheiro.
Não conheço pessoalmente nenhum dos protagonistas dos lastimáveis episódios ocorridos recentemente, não privo da intimidade, sequer da convivência, de agressores e agredidos, de forma que não disponho de qualquer elemento que deponha contra a integridade dos indivíduos que ultimamente têm estado na berlinda rubro-negra.
Nem a favor.
Ontem o Flamengo lançou sua terceira camisa. Ficou bonita, não feriu as tradições do clube, vai vender bem, é uma iniciativa louvável e adequada aos novos tempos. Também foi lançada uma linha casual, com algumas peças bastante interessantes. É a marca Flamengo buscando se aproximar do seu torcedor.
Mas bateram num conselheiro.
A empresa que fornece o equipamento esportivo do Flamengo, ao contrário da antecessora, tem buscado fomentar ações que não se restringem ao mero fornecimento de camisas e agasalhos. Nesse escopo, lança-se uma linha completa de produtos, constroi-se um museu, ajuda-se na contratação de jogadores de alto nível, e com um provisório e providencial patrocínio master. Há a contrapartida, claro, mas percebe-se claramente uma visão voltada para uma relação ganha-ganha.
Em troca, batem num conselheiro.
Não contentes, xingam ídolos. Deblateram diatribes burlescas e inflamadas, recorrem às surradas práticas consagradas por Goebbles, difundem teorias convenientemente estranhas, cospem nas glórias que louvaram um dia. Profanam, eivados do mais renitente descaro, a imagem de alguns dos mais sólidos pilares da instituição flamenga. Chutam, pelas costas, a nossa história.
Há dinheiro entrando.
Dirigir o Flamengo não é fácil, dadas as dívidas e a descomunal pressão sofrida, por qualquer aspecto ou ângulo. Mas compensa. Brandir a caneta que distribui aqui e acolá os gordos milhões advindos do recente boom do futebol brasileiro confere um poder inebriante. Sentar naquela cadeira é uma meta árdua, são muitos oponentes, muitos adversários, a concorrência é feroz e selvagem. Vale quase tudo.
Até tentar destruir ídolos.
“Quem vive de passado é museu”. Por aí, a gente sempre ouve essa frase. Imbecil em sua essência. A história nos ensina, nos ajuda a nos entender e nos posicionar, a criar referências e padrões, a nos perceber inseridos dentro de um escopo. Eu torço, acompanho e me emociono por um time que guarda a mesma personalidade do início de sua existência. Doval, Rondinelli, Lico, Fábio Luciano, Moderato suaram o mesmo sangue, morreram a mesma paixão flamenga dentro de campo.
Eles não sabem nem quem foi Moderato.
Daí que há algo muito errado, quando o templo, a sede, o centro de convergência de nossas glórias e sonhos de menino adulto está tomado por pensamentos oportunistas, quando os nossos ídolos, nossos espelhos, a razão de ser de nossa crença flamenga, são enxovalhados por tiranetes e chefetes de aldeia, quando gorilas atacam nossas esperanças a pontapés pelas nossas costas.
Não vou me livrar da Geração 1981.
Não vou me livrar da Geração 1981, não quero me livrar da Geração 1981, e vou continuar disseminando os feitos da Geração 1981. Porque a Geração 1981 me mostrou um Flamengo bom, formado por pessoas capazes de estabelecer uma referência de vida, um clube que pregava e praticava a vanguarda, e que formava e cultivava ídolos. A Geração 1981 não chutava as costas de ninguém. A Geração 1981 era o que o Flamengo tinha de melhor.
Ainda imagino o dia em que poderemos ter o orgulho de torcer, amar e fazer parte da história de um colosso, um Flamengo gigante, capaz de expandir sua vocação vencedora aos rincões mais distantes, arregimentando fãs e torcedores em todos os cantos do mundo, erguendo-se à altura de sua tradição e de sua vocação singulares.
Ah, só pra constar. O Zico não é anjo.
É Deus.
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