terça-feira, 13 de setembro de 2011

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

O futebol é dinâmico, extremamente dinâmico.

Ninguém, nem o mais renitente pessimista dos torcedores, imaginava que, poucas semanas após a dramática e emocionante vitória contra o Coritiba, o time passaria a vivenciar uma de suas crises mais amargas, em que o resultado não aparece, a vitória não chega, a bola não entra e gols são sofridos de forma quase gratuita.

O que pode estar acontecendo?

Não sei. Não tenho resposta. Há indícios aqui e ali, há rumores acolá, mas tentar teorizar baseado em especulações não me parece produtivo, a menos que sirva para algum tipo de desabafo, natural em nós, torcedores que somos.

Mesmo assim, vou tentar.

As principais conclusões a que se tem chegado para explicar a queda de rendimento do time se fundamentam em três assertivas: a contusão de jogadores, o mau desempenho de alguns titulares e um pretenso “boicote” ao treinador. São essas três premissas que vou abordar nesse texto. Vamos lá:

1 – Contusão de jogadores

A rigor, pode-se colocar nessa lista apenas o Aírton, já que o Alex Silva entrou no time já durante a sequência negativa. Ou seja, os resultados estavam acontecendo mesmo sem o Pirulito, em que pese sua contratação, mais do que desejada, será fundamental para melhorar o sistema defensivo, na minha opinião. Mas, voltemos ao Aírton: estreou contra o São Paulo, atuou em vitórias importantes, contra Fluminense e Cruzeiro (onde foi destaque), e melhorou dramaticamente o desempenho da defesa, ao ponto da equipe passar vários jogos sem sofrer gols. O interessante é que, antes de sua entrada, o time vinha vencendo suas partidas sem jamais convencer. Desfalcou a equipe no histórico 5-4 contra o Santos (jogo completamente aberto e atípico, embora sensacional) e no empate (1-1) contra o Ceará.

2 – Mau desempenho de titulares

Os jogadores mais criticados da equipe têm sido Wellington, Deivid, Leonardo Moura, Thiago Neves e Willians. Não vou me ater aos dois primeiros, porque o futebol deles é esse mesmo, desde que são titulares. O Wellington é jovem, tem algumas qualidades, mas erra e compromete a equipe com uma frequência inaceitável para um jogador profissional. E o Deivid luta demais com suas limitações físicas, não tem força para atuar como referência nem velocidade para jogar como segundo atacante. Penso que o futebol desses dois continua exatamente o mesmo.

Leonardo Moura: quem tem melhor memória há de se lembrar que o Léo Moura sempre se notabilizou por sua irregularidade. Trata-se de um jogador que alterna bons e maus momentos ao longo do ano. Em 2007, por exemplo, era fortemente criticado, até crescer no final da temporada. Em 2009 deu-se algo parecido. E normalmente quando retorna de alguma contusão mais séria o sujeito demora a atuar bem. Não sei se o problema é apenas físico. Ano passado o nosso lateral foi, talvez, o principal jogador da temporada. Um ano apenas faz desabar o rendimento físico?

Thiago Neves: fez um ótimo Estadual, talvez tenha sido o melhor do time na competição. Decisivo, gols em clássicos, um futebol que o levou para a Seleção. Nesse embalo, atuou muito bem contra o Ceará, com dois gols, e mostrou boas partidas no início do Brasileiro. Foi convocado para a Seleção, ainda seguiu com razoáveis atuações (Santos, Grêmio), saiu aplaudido contra o São Paulo. Machucou-se no jogo do Atlético-GO, e depois voltou irreconhecível, inclusive com dificuldades de domínio básico de bola em alguns lances. Parece estar sentindo muito o momento, como se observa em algumas entrevistas.


Willians: muito voluntarioso, dono de uma excepcional capacidade de desarme, mas não é o tipo de jogador que ocupa espaços ou com exata noção de posicionamento. Todas as vezes que atua mais recuado, como primeiro volante ao lado do Renato ou de um dos garotos (Luís Antônio, Muralha), as atuações do time são severamente criticadas, salvo nos 4-0 da estreia do Brasileiro. Inclusive, essa formação havia sido abandonada no meio da competição, e a falta de um primeiro volante “de ofício” obrigou sua retomada, fazendo cair demais o desempenho do jogador, pondo na berlinda seus erros de passe e cobertura, atributos indispensáveis a um “frente-de-zaga”.

3 - “Boicote” ao treinador

Por fim, o tal “boicote”. Não compartilho dessa tese, ao menos não acho que haja algum movimento preponderante. É sabido que existem alguns ruídos entre o Luxemburgo e alguns jogadores, mas isso é diferente de um movimento do grupo para derrubar o treinador, como havia abertamente em 2009 com o Cuca (depois admitido em reportagens na Placar, por exemplo). Eu vi um time acomodado em duas ocasiões: nos jogos do Atlético-GO e do Bahia. No primeiro, o time parecia sentado em cima da invencibilidade, e no segundo o time entrou completamente desconcentrado (dando razão aos defensores da tese). No entanto, a equipe correu nos dois jogos seguintes. Domingo, houve um desânimo após o segundo gol, mas não vi indolência ou corpo-mole. Vi muita gente correndo errado (houve momentos em que havia TRÊS jogadores na lateral-direita do campo).

Luxemburgo é um treinador difícil, é genioso, vaidoso e não é muito fácil de se lidar. No entanto, possui temperamento forte, liderança e capacidade técnica. Isso é respeitado por um grupo de jogadores. Há dois tipos de treinador que a boleirada respeita. O “churrasqueiro”, papaizão, e o cara que “faz acontecer”, o cara que mexe no time e muda um jogo, mesmo errando às vezes. É esse o caso do Luxemburgo, goste-se ou não do sujeito. Outra coisa: o time já viveu vários momentos complicados na temporada, e o cargo do treinador chegou a ser discutido em alguns desses momentos. Curiosamente, o time sempre atuou bem nesses momentos-chave (exemplo? 2-0 no Botafogo, melhor atuação do Estadual).

É isso. Não quero concluir nada daqui, só seguir discutindo, concordando e discordando, e buscando elementos que nos façam sair do mero campo das especulações. Deixo uma última historinha: No início de 1992, um time grande começava muito mal o Brasileiro, foi atuar num clássico. Levou 4-0, jogadores andando em campo, todos falavam que o treinador ia cair, “prestigiaram” o sujeito. Partida seguinte, nova derrota, a quinta seguida. Reunião marcada pra demissão do cara, gente da diretoria falando abertamente em substitutos. Surpreendentemente, a presidência bancou o treinador, que foi mantido com carta branca, nomes foram afastados. E assim Telê Santana se tornou o maior treinador da história do São Paulo.

E assim, tornamos ao início. O futebol é dinâmico. Extremamente dinâmico.

Flamengo Net

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