terça-feira, 14 de junho de 2011

Cobertura na Vieira Souto?
Por Vinicius Paiva







A reportagem do jornal O Globo de hoje expôs como poucas vezes o tamanho de uma ferida que a diretoria do Flamengo e seus parceiros insistem em minimizar. Lá se vão 5 meses desde que o clube realizou a maior repatriada da história recente do futebol brasileiro – apenas comparável à vinda de Romário em 1995. Nem a contratação de Ronaldo pelo Corinthians pode ser colocada nesta categoria, uma vez que o jogador não tinha contrato em vigor com um gigante europeu nem plenitude física. Todas estas características se enquadram em Ronaldinho, cuja contratação demandou complexas negociações com o Milan, além de um projeto de marketing esportivo supostamente audacioso.

Supostamente, repita-se.

Cinco meses depois, o Flamengo vive o ridículo de não conseguir fechar com um patrocinador máster, abrindo mão de valores colossais – inicialmente R$ 30 milhões, depois R$ 25 e R$ 20 mi. Hoje, profissionais do mercado me garantem que a situação pode ser ainda pior do que a exposta na reportagem: Por bem menos de R$ 15 milhões o Flamengo já faria negócio até o fim de 2011.

É evidente que a serenidade do profissional da Traffic é justificada estrategicamente. Desesperar-se ou expor à mídia a insatisfação pela falta de retorno no pesado investimento apenas pioraria as coisas. A relação entre os parceiros azedaria, o mercado desvalorizaria ainda mais as propriedades do clube, etc.

No entanto, é certo que o tiro saiu pela culatra em diversos fatores. A pedida inicial do clube foi demasiadamente alta, considerando os poucos meses após ter sua imagem pulverizada durante os episódios de 2010. A inércia do departamento de marketing - que desde outubro passado sabia que o clube ficaria sem sua propriedade principal - também contribui diante do fiasco.

Existiriam, ainda, explicações mercadológicas para o ocorrido. Muitas das grandes marcas brasileiras estariam se afastando dos clubes de futebol. Uma das explicações seria a concorrência de grandes eventos esportivos, como a Copa e as Olimpíadas. Outra, a velha falta de profissionalismo de clubes que rompem contratos unilateralmente a cada aceno da concorrência. A revista Máquina do Esporte, em sua última edição, analisou o fenômeno do afastamento dos anunciantes, concluindo que o processo ainda atrairia parcerias escusas, como as do Banco BMG e seus 35 clubes – baseada em empréstimos aos patrocinados. Ressalta-se que o Flamengo responde por 13% do montante investido por este banco no futebol.

Para piorar, em tempos de patrocínios de conveniência, sai bem mais barato expor a imagem de uma empresa no adversário do clube com mais mídia. A própria foto que ilustra a matéria do Globo expõe em letras garrafais a parceira do Clube Atlético Paranaense – por mais que este não seja um exemplo de patrocínio pontual.

Mais um fator seria o propalado viés dos anunciantes em direção aos clubes paulistas – temática tantas vezes explorada neste espaço. Duradouros debates esportivos que só falam de São Paulo, transmissão de clássicos paulistas em TV aberta (por diversas vezes com mais apelo do que os jogos cariocas) e até uma exaustiva sequencia de matérias sobre o mesmo clube todas as semanas durante o programa de maior audiência nas noites de domingo. Mesmo que nada disso atrapalhasse, estaria longe de ajudar.

A verdade é que mesmo uma cobertura na Vieira Souto, quando nas mãos de quem não entende do negócio, pode perder seu status. Maltratada, corroída e cheia de infiltrações – especialmente quando surge vizinhança mais moderna - seu valor deixa de ser aquele de outrora. Nestes casos, uma boa imobiliária que soubesse “vender o peixe” ajudaria bem mais do que outra que trabalhe ao ritmo de uma maquina de escrever. Tudo isto se tornaria fácil de enxergar caso o Flamengo não tivesse se transformado num mero propulsor de projetos políticos particulares.

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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