quinta-feira, 26 de maio de 2011

TRIBUTO AO PET

*Por Pablo Duarte Cardoso

Publicado originalmente no site do Pet, na ÁREA FÃS

“E o técnico Zagallo olha para o relógio: 43 minutos... coça a cabeça...”

Talvez Luiz Penido não soubesse que, ao assinalar o momento exato da cobrança, oficiava menos como radialista e mais como historiador. Washington Rodrigues, ao seu lado, intuía, ele sim, que estava prestes a presenciar um feito histórico da magnitude dos descobrimentos, da primeira explosão atômica, da ascensão do Cristo ou do gol mil de Pelé. Acusa a presença do sobrenatural, ali personificado no padroeiro São Judas Tadeu, que segundo ele “acaba de chegar”.



E a voz de Luiz Penido será, pelos séculos dos séculos, a moldura do mais belo quadro jamais pintado por um cobrador de faltas. Lá se vão dez anos, e todo rubro-negro que se preze ouviu a narração quinze, vinte, duzentas vezes. Muitos a decoraram como quem decora o hino nacional, o creio-em-Deus-padre. Gerações futuras de rubro-negros crescerão na segurança de que a voz do Penido, eternizada, lhes dará sempre a noção exata do que sentiram seus pais, avós, bisavós naquela tarde carioca de 27 de maio de 2001.

Em 27 de maio de 2001, ali pelas cinco da tarde, o pé direito de Dejan Petkovic nos fez tocar o céu com as mãos. Não foi apenas o gol que nos deu um tricampeonato: foi o gol que -- caso único na história do futebol -- enterrou para sempre uma rivalidade secular. Percebam: até Fabiano Eller derrubar Edílson, na intermediária defensiva do Vasco, a torcida inimiga canta com a empáfia de quem olha o adversário de igual para igual. Três anos antes desfilaram troféus em frente à Gávea. Quatro meses antes arrotavam, desonestos que só eles, uma falsa igualdade em número de títulos brasileiros. Segundos antes, cantavam a certeza de que, desta vez, e para sempre, vice é o caralho.

Mas, às cinco da tarde, quis o destino que coubesse ao mais improvável dos artífices enterrar para sempre aquela soberba: um rapaz nascido a dez mil quilômetros dali, e ali desterrado depois que a guerra, as sanções e um banqueiro judeu o convenceram a ganhar o pão, com seu talento, a meio mundo de casa.

Desde que os nossos remadores sentaram a pá na cabeça dos vascaínos que acudiram às Laranjeiras, e dentro de campo Candiota, Nonô e Junqueira fizeram do Flamengo o único time a bater aquele Vasco das camisas pretas, por 73 anos essa gente viveu com uma única obsessão: suplantar o Flamengo.

Em 27 de maio de 2001, com os 2 x 1 no placar, e tendo conquistado dois Brasileiros e uma Libertadores num espaço de cinco anos, tinham certeza de que esse dia estava próximo. Aos 43 do segundo tempo ruiu tudo, e aquele Vasco multicampeão seria lembrado, apenas e tão-somente, como o tri-vice-campeão, o esquadrão talentoso que tremeu toda e cada vez que decidiu contra o Flamengo. E, desde então, todo vascaíno desvia o olhar quando cruza com um rubro-negro.

Isso foi obra de Dejan Petkovic.

Deus te abençoe, Gringo.

P.S: Nossos agradecimentos aos amigos Denise Liporaci e Thiago Soares, que permitiram a publicação do nosso texto no site oficial do Pet

Flamengo Net

Comentários