quinta-feira, 12 de maio de 2011

Meus caros companheiros de JIHAD RUBRO-NEGRA

*Por Gustavo de Almeida

É exatamente nestas horas de leve decepção – sair jogando como homem de uma competição que já ganhamos duas vezes não pode ser encarado como tragédia – que ao observar redes sociais e afins que devemos perceber um fato cada vez mais inegável: o Flamengo é o centro do nosso sistema solar e todos os outros planetas e satélites em torno dele giram, aguardando talvez um brilho efêmero tal e qual o de uma estrela que já morreu e que volta e meia nos dá a ilusão de existir.

Tal e qual Nicolau Copérnico, que descobriu o Heliocentrismo, poderemos ser até atacados por essa teoria. O genial astrônomo polonês publicou no ano de sua morte, 1543, a teoria de que, na verdade, é a Terra e outros planetas que giram em torno do sol, e não o universo que gira em torno da Terra. Copérnico foi julgado post mortem em um tribunal, e sua teoria, comprovadíssima posteriormente, chegou a ser proibida nos dias que se seguiram ao seu desaparecimento.

O que tornou o Flamengo, no entanto, o Centro do universo conhecido?

Difícil dizer. Há aqueles que apontam a Era Zico e sua sequência avassaladora de vitórias, jamais igualada, como um fator para tal. Com efeito, o Flamengo ganhou por cinco anos seguidos um tricampeonato estadual, um título em separado, um campeonato brasileiro seguido de Libertadores e Mundial, numa caminhada demolidora, e ainda teve fôlego para ganhar mais dois brasileiros. Amargou apenas dois anos de jejum, anos estes que foram ocupados por acontecimentos bizarros como um título brasileiro do Fluminense em jogo de 0 a 0 e outro do Coritiba roubando em cima do Bangu. Sem contar o episódio polêmico do roubo em cima do mesmo Bangu, só que por parte do time das Laranjeiras. Logo a normalidade se impôs e o Flamengo vencia o estadual de 1986 e o
Brasileiro de 1987.

Tal rotina da era Zico-Júnior pode ter influenciado uma geração de traumatizados. Foram muitos os que, por influência dos pais, enveredaram pelos caminhos da pequenez, e, como tal, precisam viver eternamente na polarização com o Predador Dominante do Futebol Mundial (Muhlemberg, Arthur, in “Urublog”, 2007, globoesporte.com). O
raciocínio que os pais dessa geração é até bem lógico: tal e qual uma mistura insana de papagaio de pirata com peixe-piloto (aqueles que acompanham os tubarões em busca de sobras), e sem luz própria, necessitam da companhia do Empalador Master (Muhlemberg, Arthur, in “Urublog”, 2007, globoesporte.com) para que possam respirar e dar sentido a suas existências.

É fácil concluir isto, e basta uma análise de mídia: o que aconteceria se um de nossos jogadores fosse flagrado com maconha ou crack no antidoping? Por quanto tempo tal fato seria mencionado, coberto pela mídia, jogado em nossa cara de forma patética pelas minorias? Pois notem que o zagueiro Renato Silva (maconha, Fluminense) e o atacante Jobson (crack, Botafogo) chegaram a se enquadrar neste perfil. Os
fatos foram registrados e....ambos desapareceram.

Mas basta um jogador do Flamengo beber um chope na esquina, ou mesmo participar de uma roda de samba de raiz, que as minorias se insurgem, bíblia na mão, pregando a pureza d'alma (algo que jamais tiveram). Notem como um zagueiro do Botafogo fez uma falsa comunicação de crime em um episódio pantagruélico (Somália, 2010), e o fato foi encarado como uma fralda suja. É insignificante porque aconteceu em um planetinha, não no Sol-Tupã-Poseidon-Odin-Jeová representado pela camisa rubro-negra. Fosse na Gávea e o fato teria dimensão gigantesca.

Vi na rede social um sujeito se referir à arbitragem do sr. Sandro Meira Ricci – evidentemente um ladrão de categoria menor, possivelmente envolvido com algum site de apostas – citando “a roubalheira de 1981 na Libertadores”, quando o árbitro José Roberto Wright (notadamente tricolor) foi obrigado a expulsar meio time da Galinha Mineira, que naquela época desenvolvia seus dotes alvinegros mais profundos: nos idos de 1980 o Atlético teve Reinaldo (que mais tarde ficaria viciado em drogas) como centroavante, um verdadeiro precursos da filosofia alvinegra de chorar em vestiário. Não pelos mesmos motivos que alguns tricolores, evidentemente. Vocês sabem do
que estou falando. Tendo Reinaldo em campo, o time mineiro se descontrolava, e partia
para os xingamentos assim que percebia que estava a caminho mais um banho de bola do Rubro-Negro. Ora, sendo assim, o sr. Wright não teve alternativa a não ser expulsar, e teria prevaricado seriamente se não tivesse tomado este caminho.

Pois querem comparar o pulha Sandro Meira Ricci com José Roberto Wright – por ser o máximo que conseguem lembrar de roubo pro-Flamengo. Ora, a expulsão do zagueiro Ronaldo Angelim por DUAS faltas idiotas, se tivesse criado um critério, poderia até ser fato aceito como normal. Mas se o critério fosse mantido, metade do time do Ceará teria sido mandado para o vestiário.

Tal fato, mais do que comprovado, já seria motivo para qualquer um dos times-planetinhas reunir até o presidente do clube para uma coletiva no vestiário acompanhada de choro e xingamentos. Mas ser o Sol tem dessas prerrogativas: nem mesmo quando somos assaltados temos o direito de reclamar. O Flamengo é um predador dominante, não um time insignificante a viver de alimentar o próprio recalque. Nosso papel é entender nossas próprias razões, não aquelas que nos foram criadas.
Precisamos entender as limitações do nosso time e porque, mesmo jogando 80 por cento dos dois jogos bem, não foi possível vencer. É claro que jogar com 10 é mais difícil – mas eu seria incoerente se dissesse que vencer assim é impossível, já que estamos falando de Flamengo. É claro que atuar contra um árbitro notadamente pilantra (basta uma busca no Google com o nome dele para ver vários episódios polêmicos) e ainda com o sr. Luis Roberto dando sustentação às ações é mais difícil.

Só que nós temos uma sina, e é preciso aceitá-la: a sina de ser o maior. Devemos aceitar as intempéries – o assalto, a secação dos menores, os problemas em campo – como etapas de consolidação da nossa superioridade, não como desgraças ou tragédias. Faz parte da onipotência. Mesmo o cristianismo não seria a maior religião do
ocidente se não fosse contestado por seitas bizarras e profetas loucos que surgem propondo suicídios coletivos. Não se trata de Yin e Yang, de modo algum, porque nesse caso Yin seria muito grande e Yang menor que o Botafogo (ou seja, visível apenas com microscópio). Ficar reclamando de arbitragem ruim seria algo tão desproporcional quanto, por exemplo, o presidente dos EUA convocar uma coletiva para dizer que tem um sinal de trânsito quebrado ali na Avenida Princesa Isabel, em frente à Cicciolina. Não é nosso papel, embora seja fato digno de ser registrado pela imprensa tupiniquim – o assalto, não a reclamação do sinal quebrado.

Certamente quando Copérnico lançou sua teoria do Heliocentrismo sofreu muito mais ataques do que eu porventura posso sofrer ao perceber o RubroNegroCentrismo. Copérnico tinha adversários, detratores, tribunais, todos com algum crédito na época. Já o Flamengo, com supremacia estadual, com hexacampeonato, com Libertadores e Mundial em seu currículo, com mais Copas do Brasil do que seus vizinhos liliputianos ((Muhlemberg, Arthur, in “Urublog”, 2007, globoesporte.com), acaba se impondo por gravidade, não por força. Os próprios planetas – acho que seria melhor “satélites” - sabem de sua pequenez e de sua vocação para o Aterro do Flamengo. Isto, porém, não
deve impedir que eles festejem este primeiro momento de alegria do ano – o Mengão, em sua benevolência, deve contemplar com piedade e compaixão estas manifestações. Neste ponto, cometo uma comparação muito indevida e até triste, mas inevitável: o Mengão parece um pouco o psicopata do romance do sueco Stieg Larsson, que prendia mulheres no porão a fim de torturá-las e sentia algo indescritível quando elas, convencidas de que poderiam sobreviver ao sequestro, de repente percebiam que estava condenadas à morte.

Contemplamos estas meninas ensandecidas com compaixão. E sentimos algo indescritível quando sentimos, pela mudança no olhar delas, que elas se tornaram conscientes de seu destino final. A comparação é infeliz, eu sei. Nós, rubro-negros, não somos, de jeito
algum, “Os homens que odiavam as mulheres”. Mas neste momento, vejo os pequenos gritando e sinto certa pena. Não ser Flamengo é um destino trágico demais, é uma falha genética, tal e qual nascer com um braço só ou morrer com menos pregas. Já disse e repito: não ser Flamengo é algo que parece coisa de remediado, como ter teletrim ou “telefone para recados”. Copérnico, certamente, concordaria comigo: tudo indica que o universo gira em torno do Mengão, e jamais o contrário.

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