terça-feira, 31 de maio de 2011

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos. Começou o Campeonato Brasileiro e, enquanto os reforços não chegam, vamos seguindo com o que temos. E o time atual mostra altos e baixos, com jogadores capazes de desequilibrar e alterar o rumo de uma partida. Nos dois sentidos...

Seja como for, aí vai um relato bem peculiar (e fictício...) do animado jogo de domingo (apesar do péssimo resultado).

Bahia 3-3 Flamengo – Uma visão baiana

Zorra, esse domingo parecia que não chegava nunca. Virei a semana ligado, azoado com o Mengão aqui na Boa Terra. Eu tava seco pra ir pro estádio, mas marcar pro fim do mês é judiar do peão. Ainda fui atrás de uma ponta que Buiú (filho de Gel, amiga de minha irmã) tava me devendo, mas o bicho me deu o zignal. O jeito foi pongar na gatonet de Bira, um bródi meu, corrente forte, bati muito baba com ele quando eu era mais muderno, ali no Engenho Velho. Liguei pra ele, “chegue cedo pra gente tomar uma, fazer a concentração”. Só se for agora...

Tava nervoso, acordei às cinco. Cinco pra onze. Levantei, botei o padrão vermelho e preto, peguei o buzu e rumei pra casa de Bira. Tem uns vizinhos torcedores do vicetorinha que costumam me aperrear, mas os caras estavam sumidos, vai ver porque o vergonha do nordeste tomou 3 do time do Padim Ciço. Vi muita camisa do Jahia na rua, naftalina da zorra, os caras se achando, mas torcedor do Jahia é eterno sofredor, não aprende. Chegando na casa de minha pedra, já fomos logo destampando a primeira.
“E esse Flamengo, vai mesmo? Ó véi, na minha idéia o time tá melhorando, toque de bola tá decente, mas falta um atacante tipo miseravão, brocador. E essa defesa, pelamor. Essa zaga é muito mamão, meu time lá da obra faz gol fácil nesses caras. E o Ronaldinho? Ainda tá muito maresia, quando tá a fim é bola, mas dizem que ele só quer saber de reggae, aí eu já não sei. O certo é que o boca de zeronove desse time é o Tiago Neves, tanto que foi pra seleção. E hoje, dá pra ganhar? Dá sim, o Jahia tá animado mas é fraco. Souza, Fahel, piada, véi. Mas tem que tomar cuidado, é final de campeonato pros caras.”

O que eu sei é que o tempo foi passando, a resenha comendo e cerveja pra dentro, de formas que na hora do jogo já tinha ido embora meia grade. Bira ainda chamou uma galera de fé lá do bairro, tudo peixe, tudo Mengão. E finalmente começou a bagaia.

Dava pra adivinhar que o Jahia ia vir com tudo, primeiro jogo de primeira divisão em casa depois de não sei quanto tempo, Flamengo, Ronaldinho, essa zorra toda. O Flamengo começou com um toquinho meio maresia, uma leseira que me deixou azoado. O tricolô tava marcando certinho, o tal do Jobson fazendo nome em cima do Wellington (até Siloé faz nome nesse fio dum cabrunco), aí vem o gol dos caras. Me faça uma garapa com essa zaga, quando não é o Wellington é o outro, tomar couro do Souza! Do Souza, véi! Nessa hora levantei pra ir na mureta dar um mijão, voltei logo com duas cervejas. Tava brabo.

Depois de tomar esse “tá ligado” o time acordou, começou a imprensar o Jahia atrás. O galeguinho da lateral passou a aparecer, a defesa do Jahia tava mangaba. Perdeu uma, na segunda o Ronaldinho finalmente apareceu e puxou o bonde. Bira deu uma risada e gritou “vou ali pegar uma cerveja que agora começou o jogo”. E parecia que o time ia virar mesmo, meteu um toque de bola azedo nos caras, até a torcida deles ficou quieta. Mas aí o Ronaldinho resolveu ajeitar o cabelo e fazer uma presepada numa falta. O time todo na área dos caras e o bicho me cobra na meialua. Perde a bola, agora segura a galinha pulando. Contrataque, gol. Dei duas porradas na mesa, uma foguetada infeliz na rua, botei mais um copo pra dentro e soltei dois porras. Assim vai mal.

O Flamengo caindo num esparro, não acertava nada, o Jahia corria mais que notícia ruim, aliás quero saber qual foi o redibú que esses bichos tomaram, quero um desse pra mim também. Bira já tava nervoso, falou “assim vai tomar goleada”, eu disse “aonde? Aí é Flamengo, esqueceu?”, mas foi bom ter acabado logo o primeiro tempo, o time tava meio perua tonta mesmo. O pior é que esse time do Jahia é muito ruim, uma miséria. Lembrei até a história que Binho, filho de Peu, amigo de Ninho, um taxéu muito chegado lá na rua, contava, “sabe a semelhança do Jahia com um elefante em cima da árvore? Ninguém sabe como foi parar lá em cima, mas todo mundo sabe que vai cair de lá”. Pois é, tudo beleza, tudo legal, mas minha zorra tava perdendo e a foguetada me azoando. E a cerveja descendo.

Segundo tempo, bem diferente. Mengão alugou o meio, tomou conta, mostrou pro Jahia quem é o pedra noventa, falei “vai empatar logo, véi”, e botei logo outra cerveja pra dentro, só pra garantir. O Ronaldinho tava muito delegado, demorava pra soltar a bola, mas o toque de bola tava pesado, a impressão é que o Jahia boiou. Aliás, já teve nego caindo em campo com cinco minutos, falei pra Bira “segura a bagaceira que minha zorra vai empatar”. E empatou mesmo, tava na cara. Esse argentino é meio descoordenado, mas tem seu valor. Mais foguetada, mas agora a zuada era da galera do Mengão. Falei pra Bira, “não perde mais, véi. Vamo virar esse negóço”. Não demorou virou mesmo, boa jogada do drogbinha, entrou pra fazer nome na defesinha dos caras, e gol do Egídio. Véi, você tem idéia do que é tomar gol do Egídio? Acho que foi isso que aquietou a torcida do tricolô. Eu tava muito doido, chamava urubu de meu lôro, o Flamengo comendo o jogo com farinha, Bira também já tava em água dura e começou a gritar “é o Barcelona, é o Barcelona”, mas começou um olé meio cedo, gostei não. Quem junta uma defesa daquela tinha que ser proibido de dar olé.

Menos mal que um tricolô lá foi expulso. Mas não deu nem pra relaxar porque logo depois entraram Fernando e Jean. Aí nivelou. Quando eu vi Fernando em campo fiquei sóbrio na hora. Tô lhe falando! Avisei a Bira, “tá rebocado, essa porra vai ser empate”, “tá maluco véi, vai botar pilha noutro lugar”, mas foi só terminar de falar e o Fernando Cerezo me dá o leite pros caras e pum, gol. Viuaí, lenhou! Ó paí, empatou mesmo. Mas não tem jeito, essas duas carniças não jogam nem no Bahia de Feira. Enterraram meu baba. Tá certo que o time no final também deu caruada, mas se sai o Willians e deixa com dez o Jahia não empatava. Só vou apostado que não empatava. Enfim, acabou a zorra no empate mesmo, fiquei logo retado, tomei umas três saideiras que santo não sai sem foguete e abri o gás, rumo pra casa. A estronga do buzu ainda tava cheia de torcedor do Jahia querendo tirar onda e cantando, mas comigo ninguém se criou não. Joga em casa, empata com as calças na mão, vem com uma lenda de juiz ladrão e ainda quer se cartar. Aqui não, véi.

O lado bom é que nessa farofa toda ainda esbarrei com Néia, uma piriguete que vive se amostrando pra mim. Cheia de risadinha e fricote. Se me retar, um dia eu arrasto.

O time? Ainda tá arrumado meio a facão. Na minha filosofia, continuo achando que falta ali um brocador na frente, dois zagueiros porradões lá atrás e um volante bola no meio. Parece que tão vendo isso aí, e tem que ver mesmo porque hoje ainda tem que comer muito feijão pra brigar por taça.

Ah, antes que eu me esqueça. R$ 1,99? Tá caro. Fui!

Flamengo Net

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