quinta-feira, 7 de abril de 2011

O marketing a passos de cágado

Por Vinicius Paiva


O Flamengo foi informado pela BR Foods – controladora da Batavo – de que o contrato de patrocínio/2010 não seria renovado no mês de outubro. A parceria se encerrou de fato em 31/01/2011. Cá estamos em pleno dia 07 de abril e o time ainda joga com uniforme limpo, sem qualquer anunciante. Ou melhor, veicula o web site do clube, numa insensata insistência de que este seria o melhor produto institucional a ser promovido. Por que não a campanha dos Tijolinhos, ou o (moribundo) Cidadão Rubro Negro?


A verdade é que muito antes da estréia de Luis Fabiano, o São Paulo já engatilhou – em questão de dias – todos os parceiros que financiarão a empreitada. Já o Flamengo, alegando incertezas por conta das negociações pelo televisionamento 2012-2014, até agora não conseguiu fechar um contrato sequer, seja de patrocínio, seja de licenciamento da marca RG10.


Em tempo: o argumento do “televisionamento” é a mais pura balela. O Flamengo (assim como qualquer outro clube) negociava o período 2012-2014. Mas as conversas por um patrocínio se referem à temporada 2011 – período que, há 3 anos, não gera qualquer dúvida sobre seu modelo de transmissão.


Enfim, eis que na terça-feira o clube declinou de uma proposta da TV Record (R$ 100 milhões apenas pela TV aberta – http://bit.ly/etuJHP) e assinou contrato com a Globo. Chegaram a especular valores próximos a R$ 120 milhões no somatório de todas as mídias (TV aberta, fechada, pay per view, internet e celular), mas segundo me consta, não teriam passado dos R$ 84 milhões, sendo 60 de TV aberta. A opção pela menor proposta se justificaria pela maior audiência e capilaridade da TV Globo, bem como pela melhor reputação mediante o mercado publicitário.


Com audiências cada vez menores na TV aberta (em detrimento do pay per view), talvez esta tenha sido a última ocasião em que o clube possa se dar ao luxo de recusar proposta colossal por uma mídia em decadência. De qualquer maneira, agora que a novela teve um desfecho, a Nação aguarda ansiosamente pelo início do ano de 2011. Ao menos para o departamento de marketing do Flamengo, o reveillon parece ter ocorrido há dois dias.


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A inclinação da diretoria por fazer proposta no valor de R$ 34 milhões por Vagner Love (€ 15 milhões) já é o mais puro reflexo do caminhão de dinheiro que adentrará os cofres do rubro-negro a partir de 2012. Para “melhorar”, a Globo teria prometido adiantar R$ 40 milhões ao clube ainda este ano. Isto acarretará duas certezas: mercados inflacionados e uma nova era de devaneios dos cartolas, atualmente mais comedidos e austeros. É bom nos prepararmos para uma avalanche galopante na dívida dos clubes.


Ou alguém acredita em dirigentes de futebol gastando com austeridade?


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A propósito: Vagner Love vale, sim, € 15 milhões. Trata-se de um valor mediano para um artilheiro jovem na Europa. Love mal completou 26 anos, e está no auge da carreira. Jogasse na Europa Ocidental, valeria o dobro.


E outra: se for para trazer Love (algo que sou a favor), parcelem o pagamento. Utilizem este adiantamento para sacramentar o sonho do CT, bem como saldar grande parte das dívidas de curto prazo que tanto asfixiam a instituição. Dêem um fim a este perverso processo de eterna penhora de cotas. Sejam racionais.


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O Flamengo precisa abrir os olhos a uma forte pressão que os clubes paulistas vem fazendo sobre a TV Globo. Trata-se do pleito de uma maior exposição de seus jogos para as regiões Norte/Nordeste. Desde que acertou com a emissora carioca, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, vem dizendo que a partir do ano que vem o esquema de transmissões mudará.


O jogo “da rede” – tradicionalmente dos clubes cariocas – é aquele que a emissora veicula nas antenas parabólicas para todo o Brasil, bem como para os estados que não possuem estaduais próprios nem times na Série A. Sanchez, uma raposa, está de olho neste filão, diretamente responsável pela formação de novas gerações de torcedores – amplamente rubro-negros até o momento.


O problema é que há muitos anos a TV Globo se inclina a ceder a tudo o que exigem os clubes (e mercados) paulistas. Ou os clássicos veiculados às 16 hs em TV aberta não são prova disto? Para piorar, algumas regiões de maioria rubro negra (como os estados de Tocantins, Mato Grosso e Goiás) não assistem mais partidas cariocas, em clara contradição aos ditames de mercado e audiência.


Se o Flamengo – e os clubes cariocas, em conjunto – permitir que a emissora ceda a mais esta pressão, o processo de apequenamento das torcidas do Rio – que ainda não atingiu o Flamengo, diga-se – se perpetuará de maneira ainda mais acentuada. E colocará em sério risco o maior orgulho da torcida rubro-negra: ela mesma.


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Meus sentimentos às famílias envolvidas nesta estupidez sem limites vivenciada pelo Rio de Janeiro hoje pela manhã.


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