Por Vinicius Paiva
Na semana passada, teci comentários a respeito do projeto dos “Tijolinhos do CT”, dizendo-me temeroso pelo fato de a “demanda qualificada” de torcedores do Flamengo nunca ter sido testada num empreendimento desta envergadura. Referia-me ao valor de R$ 250 por cada unidade, considerado alto ou mesmo proibitivo por boa parte da torcida, formada por cidadãos que muitas vezes se recusam a pagar R$ 149 num uniforme oficial do clube. Pois bem. Eis que me surpreendo, há alguns dias, com notícia veiculada na coluna “Radar On Line”, da revista Veja (e do jornalista Lauro Jardim). A nota, curta, é aqui transcrita integralmente:
“Não é pra qualquer um
A Hublot, fabricante suíça de relógios de luxo e pertencente ao grupo LVHM, fechou uma parceria com o Flamengo para lançar um modelo desenhado especialmente para explorar a marca do clube mais popular do Brasil. Serão apenas 250 peças, vendidas a 19 000 euros (45 000 reais) cada uma — recomenda-se, portanto, aos interessados não irem às arquibancadas com seu Fla-Hublot no pulso.
Por Lauro Jardim - 30/10/2010”
Isso mesmo, amigos. Um modesto e exclusivo empreendimento que tem por intuito, em caso de sucesso, arrecadar incríveis R$ 11,250 milhões, ante R$ 5,75 milhões do projeto do CT (apenas a título de comparação, pois os recursos terão destinos muito diferentes).
Fiquei bastante surpreso, não apenas por conta dos valores envolvidos (proibitivos a 99,9% da população brasileira), mas principalmente pela escolha do Flamengo como parceiro. Geralmente são times paulistas os alvos deste tipo de projeto, por conta da concentração de mega industriais e milionários oriundos mercado financeiro no estado de São Paulo. E me peguei pensando que este perfil de torcedores – não mais que alguns milhares, nacionalmente – jamais fora mapeado. Por conta da base pouco expressiva, um estudo que mensurasse cada torcida entre o “clube dos milionários” poderia servir mais do que pesquisa, mas como um recenseamento. Creio que valha bastante a pena, em se considerando que apenas 125 abastados (no caso dos relógios) proporcionam a mesma receita que 23 mil torcedores – caso todos venham a abraçar o projeto do CT.
Fica a dica aos institutos de pesquisa, desde já órfãos das pesquisas eleitorais diárias, encomendadas até semana passada por conta das eleições. E me confesso extremamente curioso quanto ao resultado das vendas destes relógios (cuja marca pode ser conhecida em http://www.hublot.com/pt/#/NEWS). Ao contrário da minha opinião sobre o “projeto dos tijolinhos” – de que fracassará, ao menos parcialmente – em se tratando de mercado de alto luxo neste país, parece provável que existam 250 excêntricos predispostos a disponibilizar esta pequena fortuna.
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E por falar em “milionários”, há dias que o mercado só fala nas negociações em prol dos direitos de televisionamento do Campeonato Brasileiro 2012-2014 – tema também explorado na coluna da semana passada. “Milionários” neste caso serão os clubes, ainda mais do que já são – ao menos em termos de receitas. Vejam o caso do Flamengo: dos R$ 44.251.731 arrecadados em 2009, a título de “direitos de transmissão de TV” (fonte: Balanço Patrimonial do clube), a Record e outras concorrentes ao pleito prometem simplesmente dobrar este valor. Imaginem o impacto nas finanças do clube em termos de alívio financeiro, pagamento de salários, recursos para contratações de peso e construção de estrutura física?
Pois pelo visto, os direitos de TV aberta e fechada serão alvo de fortes empreitadas por parte da TV dos Bispos (que já prometeu um total de R$ 2 bilhões para o triênio em questão), enquanto direitos de celular e principalmente internet serão disputados pelos grandes conglomerados de mídia digital. A Globo só parece tranquila no tocante aos direitos de pay per view - o que no final das contas também se mostra um grande negócio, já que o PPV vem desbancando ano a ano a lucratividade da TV aberta e seus índices em queda livre.
Como diria o grande Chico Buarque, “apesar de você (diretoria) amanhã há de ser outro dia”... E bem que 2010 poderia acabar logo.
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