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terça-feira, 5 de outubro de 2010
Alfarrábios do Melo Olá, saudações flamengas a todos. Estamos na 41º semana do ano de 2010, o que significa que faltam apenas 12 semanas para terminar esse que vem se demarcando um terrível ano na história do Flamengo. No entanto, a condução da atual administração rubro-negra não permite imaginar que tempos melhores nos aguardam no porvir. Não a curto prazo. Até porque, quando se imagina que nada pode piorar, depara-se com esta notícia. É realmente de desanimar. Enfim, aí vão as linhas dessa semana. Boa leitura.
1992. A gestão que conseguiu conquistar o quinto Campeonato Brasileiro da história do Flamengo chega ao fim. Mesmo com uma campanha opaca no Estadual e com o crescimento do endividamento decorrente da interdição do Maracanã, a sensação é de dever cumprido. O time-base dirigido por Carlinhos é formado por Gilmar, Charles Guerreiro, W.Gottardo, Rogério e Piá, Uidemar, Júnior, Marquinhos (Djalminha) e Zinho, Paulo Nunes (Marcelinho) e Gaúcho, ainda um dos mais fortes do país. Há otimismo e boa expectativa para a disputa da Libertadores, especialmente com a sensação de que garotos como Djalminha, Marcelinho, Marquinhos e Paulo Nunes estão prontos para, enfim, consolidar suas promissoras carreiras. O sucessor recebe um time pronto, estável e sem crise, e uma torcida de bem com a vida. Passa o tempo. 1994. Chega ao fim a gestão que comandou o clube no biênio 1993-1994. Sem condições de lidar com uma dívida que não pára de crescer, e sem a menor capacidade de encontrar alternativas viáveis, o clube afunda no marasmo e na falta de credibilidade. A solução adotada é a gestão simples de caixa, com o loteamento das jóias mais preciosas do futebol. Dirigido por um treinador inexperiente e com problemas de relacionamento (Edinho), o Flamengo afunda no Brasileiro, obtendo a 15ª colocação num turno que reunia 16 equipes (na primeira fase, que definiria a briga pelo rebaixamento, o time foi até bem). Adriano, Isael, Gélson, Marçal e Marcos Adriano, Charles Guerreiro, Marquinhos, Hugo e Nélio, Magno e Sávio formam o time-base, repleto de garotos inexperientes, alguns deles lançados às pressas, sem a menor condição de atuar no time principal. Imersa no mais absoluto caos político e administrativo, a gestão que se despede lança as bases para o surgimento dos anos tenebrosos que viriam a seguir, onde toda a identidade flamenga se veria desfigurada pelos desmandos de grupos de subalternos e pelo verdadeiro balcão de negócios que se tornaria a instituição. Hoje, ao abrir as páginas virtuais dos jornais online, a gente se depara que alguns dos os responsáveis pela administração que desmontou meticulosamente, tijolo por tijolo, todo o vitorioso trabalho do início dos anos 90 estão enquadrados como “Notáveis”. Buscando conter o irresistível afã de gargalhar em risos caudalosos, não se pode deixar de conferir certa razão ao texto. Sim, foi mesmo uma gestão notável. Notável foi a forma como o clube se livrou, a preço de banana, de quase toda a geração que conquistou a Copa SP. Além de enfraquecer a equipe flamenga, os “notáveis” ainda abasteceram clubes rivais com craques que seriam responsáveis por várias das conquistas de equipes de outros centros, tornando-se ídolos em suas novas casas. Notáveis foram as contratações equivocadas, jogadores em fim de carreira trazidos a peso de ouro, nenhum deles tendo vingado. Notável foi a administração da briga entre Renato e Djalminha, redundando num “ou ele ou eu”. Poucos meses depois, nenhum dos dois estava mais na Gávea. Notável a aridez de conquistas e títulos. Pela primeira vez em anos, o Flamengo passou um biênio sem ganhar um mísero troféu oficial, nem mesmo um turno de Estadual. Pior, no Campeonato de 1994 permitiu-se, numa demonstração de tibieza sem precedentes, que se invertessem as duas últimas rodadas do quadrangular final, numa manobra que se mostraria decisiva para a perda daquela competição. Isolada politicamente, a “notável” gestão chega ao fim, para alívio de torcedores e conselheiros. Mas enfim, “isso é Flamengo”. E se vai entoando o mantra enquanto o clube segue servindo de meio de vida para muitos. Isso é Flamengo, que ninguém tente explicar, decifrar, muito menos adentrar. E assim o clube segue, coalhado de Notáveis e seus Capitães-do-Mato, fechado, impenetrável, instransponível aos “de fora”. Mesmo que esses “de fora” sejam milhões. Mesmo que os “de fora” sejam os principais responsáveis pela grandeza da instituição. Afinal, isso é Flamengo. Isso é Brasil.
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