quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O clube que não aprende com os erros
Por Vinicius Paiva

(Curiosamente, o título não tem relação com os “outros” erros, infantilóides, amadorescos e inaceitáveis que vem sendo cometidos por jogadores, treinadores e dirigentes, especificamente ao longo das últimas 6 partidas).

Quando o moribundo projeto “Cidadão Rubro Negro” foi lançado, após anos de expectativa, eu me empolguei. Afinal, como comentarista de marketing, cansei de escrever a respeito da necessidade de um projeto como este, sobre a possibilidade de se angariar milhões de reais, de gerar uma sinergia com a torcida, e todo aquele blá blá blá. Havendo três opções para me associar, optei pelo plano ouro, que além de render muitos “Flas” (sistema de pontuação do programa de relacionamento), ainda dava direito a um cartão magnético chamado “Passaporte Rubro Negro”. O que o Passaporte prometia era o que todo torcedor anseia: entrada por um portão exclusivo no Maracanã, recarga automática por cartão de crédito (pela internet ou por telefone), etc. Adeus filas, adeus burocracias. Eis que, então, optei por inaugurá-lo em plena decisão do Campeonato Brasileiro de 2009, Flamengo x Grêmio. Foi um trauma.

O Flamengo parece ter a enorme capacidade de prometer (seja lá o que for: um pagamento, um produto, um serviço) e não cumprir. O mais incrível é que sempre são coisas que dependem de planejamento e que envolvem profissionais, teoricamente, conhecedores de todos os problemas e contratempos. Profissionais que podem e devem oferecer soluções rápidas e definitivas para qualquer problema que porventura apareça. Só que ao final, fica sempre a impressão de que o responsável pelos projetos foi um grupo de amadores.

Para terminar a história do Passaporte Rubro Negro, cheguei faltando uma hora pro jogo e me deparei com uma fila quilométrica e bagunçada – como nunca deixa de ser em partidas de grande apelo. Fiquei tranqüilo ao saber que detinha um cartão magnético carregado de créditos e que dava direito a entrada por um portão exclusivo. Foi quando começou a saga. Nenhum PM ou responsável da Suderj sabia informar que diabo de entrada exclusiva era aquela. Depois de muito bater perna, e já me preocupando seriamente com o horário, alguém me informou que a entrada exclusiva existia, e realmente estava ali, vazia. Mas para chegar até ela, eu teria que pegar a MESMÍSSIMA FILA em que estavam todos os outros torcedores com ingressos convencionais. A entrada do Passaporte Rubro Negro era simplesmente uma roleta. Após pegar toda a fila, entraria por aquela roleta, e não pelas outras, o que ironicamente diminuía minhas opções de entrada ao estádio.

Nem preciso dizer que, alcançando a roleta, o leitor do cartão magnético deu problema e a “operadora de catraca” liberou minha entrada sem o devido registro. Eu, como milhares de torcedores, fui um dos “não contabilizados” dentro da farra do Maracanã. Todos nós, freqüentadores, sabemos que isto sempre acontece a cada jogo de maior importância.

Me lembrei desta história porque ontem, nosso companheiro de Blog André Monerrat, em seu “Sobre Flamengo”, não recomendou a contratação do serviço oferecido pelo recém lançado canal oficial do Flamengo por celular. Trata-se do tradicional serviço em que o torcedor assina e recebe mensagens SMS com notícias do clube em seu telefone. Não me alongarei na questão, recomendando a leitura direta da coluna no blog: http://bit.ly/dCclgj .

A questão é que, com o lançamento deste serviço, o Flamengo quis tomar as rédeas de um negócio lucrativo e de operação relativamente simples. Grandes portais de internet e veículos de comunicação já ofereciam serviços semelhantes, e lucravam em cima da imagem dos clubes apenas pelo fato de oferecerem notícias por SMS sobre os mesmos. Certa vez, li em algum lugar (ou alguém me contou, não me lembro ao certo) o quantitativo de assinantes que o diário Lance/portal Lancenet possuía neste serviço, e me surpreendi. Só de assinantes de notícias do Flamengo, havia milhares, talvez uma dezena deles (carece de fontes, naturalmente). Se o percentual a que o Flamengo tem direito no negócio for mesmo de 25% (como especulou o próprio Monerrat em sua coluna), 10 mil assinantes a R$ 0,31 por torpedo, 3 vezes ao dia, renderiam quase R$ 1 milhão ao clube, de um total arrecadado de R$ 4 milhões anuais. Mesmo que a totalidade de “mensagens recebidas” seja bastante inferior ao calculado (por conta dos inúmeros telefones pré-pagos), não deixa de ser um bom dinheiro. E é isto que o Flamengo quis tomar para si.

Infelizmente, o assinante rubro negro do serviço de SMS vem comprando gato por lebre, ao menos nestes primeiros dias de serviço. Segundo Monerrat, as mensagens enviadas sequer citam o clube, sendo relativas a outros esportes e à programação do canal Esporte Interativo, parceiro no negócio. Caso siga na mesma toada da maioria dos projetos rubro negros (como o Cidadão Rubro Negro, a Fla TV e tantos outros), o serviço deve continuar funcionando precariamente por alguns meses, ir gradativamente perdendo a pequena base de clientes que angariou e, aos poucos, clube e parceiro perderão o interesse na operação, pois as “dores de cabeça” superarão os lucros.

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Licença, Tiago Cordeiro;

Parabéns, Patrícia. Você recebeu um clube campeão brasileiro, nos trouxe atletas que recebem salários do Flamengo, mas torcem por outros times e nos faz brigar para não cair. A incompetência é uma vocação prodigiosa em sua gestão. (2)


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