quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A um encaixe da arrancada


Pouco se fala das virtudes de Rogério Lourenço, mesmo porque ele insiste com muita vocação a apagá-las. Não é justo. O ex-zagueiro transformou um time com uma média abusiva de gols tomados no carioquinha em uma zaga eficiente que raramente toma gols em pleno campeonato brasileiro. Não é pouco, embora seja insuficiente.

Em relação ao desempregado Andrade, o atual técnico ainda demonstra uma fala mais firme e um rigor que parece combinar com os tempos que, dizem, a Gávea vive. É difícil imaginar um centroavante que não treine sendo relacionado para os jogos, por exemplo. Pode até ser que aconteça, mas ao menos Rogério passa uma imagem mais blindada do que o discurso hesitante do técnico campeão brasileiro. Será que com tantas virtudes, Rogério é um técnico tão ruim?

Apesar dos méritos, a insistência cega do técnico desequilibra qualquer balança ao seu favor. Rogério insiste com medalhões que parecem jogar com o currículo e ignora sucessivos jogos em que o time simplesmente não cria e, consequentemente, não ataca. Se o adversário concede espaços, a categoria de Pet se impõe. Mas basta uma marcação um pouco mais apertada e o sérvio some. É irrelevante se pela idade ou pela pouca categoria do meio-campo. Acontece. E o técnico não resolve.

A esperança fica por conta de um lampejo de Rogério. Que ele enxergue uma substituição que resolva esse problema e torne um time com defesa segura e um ataque promissor também capaz de ter um meio-campo equilibrado e eficiente. Vale dar uma lida neste post de André Monnerat sobre o Brasileiro de 2009 e lembrar que foi uma derrota para o Fluminense que mudou um esquema que já não dava certo desde 2008 e se transformou em uma tática mortal. Destaco este trecho:

A volta de Petkovic já era anunciada (embora ninguém pudesse medir na época o tamanho do impacto que ela teria no resto do Brasileiro). Mas outra mudança no time só foi descoberta no gramado, sem aviso prévio, quando a bola começou a rolar: pela primeira vez em muito tempo, o Flamengo entrava em campo abandonando o esquema com três zagueiros. Andrade, mesmo usando dois meias improvisados nas laterais, montou o time na tradicional linha de quatro defensores, com Fierro na direita e Éverton na esquerda. Aírton, que vinha jogando sempre improvisado na zaga, voltava a ser volante, à frente da defesa.

E então o time encaixou. Parando pra pensar, era tão simples que quase não se entende como ninguém fez antes. Andrade simplesmente avançou um volante que jogava de zagueiro, recuou os alas e colocou um meia com pouca mobilidade - reparem que até hoje as melhores atuações de Petkovic ocorrem quando ele tem espaço, seja pela marcação adversária ou pelo time jogar em contra-ataque - privilegiando um pouco mais de organização no meio. Mortal.

A partir dali os buracos pelas laterais diminuíram, pois os laterais não deixavam os mesmos espaços e ainda contavam com a ajuda de Zé Roberto e Willians por ali, e o time ganhou qualidade do meio para frente. E lá o ataque era um Adriano, que gordo e pesado ainda fazia uma enorme diferença.

Talvez seja esse detalhe que falta a Rogério. Mais ainda falta a humildade de perceber que algo precisa mudar. Com certeza novos atacantes vão melhorar o ataque individualmente, mas contar com três volantes e um sérvio com mais 365 dias nas costas já sacrifica o bastante a criação e vamos seguir contando com o desempenho individual da nova dupla. Pode bastar se eles forem iluminados até o fim do ano. Parece pouco? E é.

Falta o encaixe que torne o time digno do campeão brasileiro. E já passou da hora de Rogério encontrá-lo.

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