quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A polêmica do “maior entre os mais ricos”
Por Vinicius Paiva

Desde ontem, o diário Lance começou a requentar a pesquisa Lance-Ibope publicada originalmente no começo do mês de junho. Já que muitas das estatísticas tradicionalmente avaliadas neste tipo de pesquisa ficaram de fora na época (como a configuração das torcidas por estado, ou por faixas de renda), os responsáveis parecem ter compreendido a precipitação de divulgarem a pesquisa às vésperas da Copa do Mundo, e optaram por publicá-la novamente, desde o princípio.

De todas as informações que o Brasil todo está cansado de saber (Fla em 1ª com 17% da torcida total, Corinthians em segundo com 13%, etc), chamou atenção a divulgação dos números relativos à camada mais abastada da sociedade, cujos rendimentos ultrapassam os 10 salários mínimos. Os dados podem ser conferidos no link: http://bit.ly/d4GYXH .

Como podemos ver, segundo o Lance-Ibope, a torcida do São Paulo seria a maior do Brasil “entre os mais ricos”, com 12,8%, seguida do Corinthians (12,3%) e só então do Flamengo, no terceiro posto com 10,6%.

Confesso que os dados me causaram enorme estranheza, por modificarem sobremaneira a estatística que outros institutos que já haviam publicado neste sentido. Lembremos, afinal, da pesquisa Datafolha apenas 4 meses atrás – aquela famigerada pesquisa do “empate técnico”. Nela, as estatísticas de renda superior a dez salários mínimos mostraram um panorama completamente distinto: http://bit.ly/9kn48H .

Ou seja, segundo o Datafolha, a maior torcida entre os mais ricos seria a do Flamengo, com 17%, seguida do Corinthians com 16% e do São Paulo com 8%. O que explicaria uma diferença tão expressiva em um mesmo dado, simplesmente divulgado por dois institutos concorrentes? E mais, como poderia o São Paulo subir tanto (8% em uma contra quase 13% na outra) em detrimento do Flamengo (17% em uma contra 10% na outra) em uma estatística tão importante, balizadora de investimentos por parte da iniciativa privada e pelo mercado publicitário?

Conversei então com o diretor de marketing do Flamengo, Harrison Baptista, a respeito do tema. Segundo ele, é preciso parcimônia na análise da estatística em questão, simplesmente porque muitas coisas não lhe pareceram claras. A análise divulgada pelo Lance-Ibope parece se referir ao torcedor/consumidor de maneira individual, ao cabo que o Datafolha fala em “renda familiar mensal”, algo que seria capaz de gerar distorções (apesar de, na minha opinião, não nesta magnitude). Além do mais, suscita dúvidas se o Lance se referia às maiores torcidas como um todo (ou seja, o São Paulo como tendo 13% da torcida classe A) ou se em percentuais dentro da sua própria torcida (de modo que entre toda a torcida são-paulina, 13% dos indivíduos estivessem classificados na maior faixa de renda). Para dirimir a dúvida em questão, o diretor executivo ficou de entrar em contato com o jornal, solicitando o envio das planilhas completas.

Como nem só de más notícias vive o Flamengo (pelo menos no que depender de mim), um outro dado divulgado hoje pela pesquisa Lance-Ibope abriu um mundo de possibilidades para a expansão da “marca Flamengo” fora de suas fronteiras. Segundo o diário, a configuração de torcidas no estado de São Paulo seria: 1) Corinthians (35,2%), 2) São Paulo (20,8%), 3) Palmeiras (11,8%), 4) Santos (9,2%) e 5) Flamengo (1,1%). Apesar destes 1,1% representarem 450 mil torcedores (e não 275 mil, como o jornal erroneamente veiculou), a boa notícia não foi esta – até porque 1% é muito pouco se considerarmos que outras pesquisas no estado de SP chegaram a nos dar até 2,5% do total. A boa – quiçá ótima – notícia veio numa inteligente pergunta que o instituto realizou: “e o seu segundo time, qual é?”.

Em resposta à pergunta acima, nada menos do que 7% dos torcedores do estado de São Paulo afirmaram ter o Flamengo como segundo time do coração – quase 3 milhões de paulistas. Em segundo lugar veio o Vasco, com distantes 1,3%. A descoberta é espetacular, pois abre um grande campo a ser explorado pelo departamento de marketing do Flamengo. Apesar de ser mal visto por alguns pseudo-jornalistas de vertente paulistana, o “segundo time do coração” é um trunfo valioso que os clubes possuem. Boas fases do “segundo time” atreladas a más fases do “primeiro” podem perfeitamente fazer com que o torcedor “vire a casaca”, por infidelidade, vergonha ou qualquer outro motivo. Basta olhar para a torcida do Vasco, que na mesma pesquisa demonstrou “encolhimento” de quase 2 milhões de pessoas. E, sem querer julgar o mérito ou fazer qualquer juízo de valor sobre quem muda de time, estes indivíduos precisam ser enxergados como novos consumidores em potencial. Três milhões de paulistas, portanto, podem vir a comprar uma camisa do Flamengo, se associar ao clube (no caso de haver um sócio-torcedor decente) e ajudarem a injetar valiosos montantes nos combalidos cofres do clube.

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Ontem, no twitter, divulguei as vendas atualizadas de camisas do Flamengo até o presente momento - ressaltando que se trata da venda no atacado, para os lojistas. Sendo assim, possíveis “encalhes” nas prateleiras não são levados em consideração, até porque o Flamengo ganha mesmo quando negocia ao lojista. Enfim, foram 700 mil camisas vendidas, das quais 70 mil (10% do total) se referem ao terceiro uniforme azul e amarelo, por incrível que pareça. Esta camisa, a propósito, encontrou nas crianças seu principal público-alvo, sendo maioria entre os compradores. Por fim, a venda do terceiro uniforme supera até mesmo o número de segundos uniformes (brancos) vendidos pelo Mengão. Está longe de ter sido um fracasso. Para novas atualizações deste e de outros dados referentes ao marketing rubro-negro, acompanhem meu perfil em www.twitter.com/viniciusflanet . Saudações!

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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