sexta-feira, 20 de agosto de 2010

COLUNA DE SEXTA-FEIRA - André Monnerat

O problema do Flamengo não é só o ataque

O que tantos pediam finalmente foi feito ontem: o Flamengo fechou seus reforços de peso para o ataque. Imediatamente, um clima de euforia se instalou e começou a se falar até no título – mesmo comentaristas dos melhores por aí andam falando que as perspectivas do Flamengo agora são outras. Quem sou eu para discordar, e também gostei das contratações. Só é bom perceber que o problema deste time do Flamengo não é só o ataque.
Já ouvi aqui e ali comentários dizendo que o Flamengo precisa de alguém “que aproveite as oportunidades que surgem”, além de piadas sobre os gols perdidos por Val Baiano. A minha pergunta é: que oportunidades são essas que surgem? Quais foram os gols perdidos por Val Baiano? Pode ser que minha memória esteja deixando algo escapar, mas só me lembro de um único chute a gol do centro-avante em quatro jogos que participou – num lance de escanteio contra o Vasco. Um único chute a gol do centro-avante do time em quatro jogos! Por pior que ele possa ser, o resto do time tem algo a ver com isso.

A verdade é que há imensas dificuldades tanto na saída de bola quanto na armação de jogadas ofensivas. A bola chega ao lateral no campo de defesa, ninguém abre para receber, ele volta mais no meio pra um volante, que por sua vez passa de lado ao outro volante ou ao outro lateral, que também não tem a quem passar; aí o adversário aperta um pouco, a bola volta pro zagueiro, que se também tiver uma marcação mais próxima recua pro Lomba – e tome bico pra frente. Quantas vezes vimos esta sequência nas últimas partidas? Basta a qualquer adversário avançar a marcação pro campo do Flamengo e a bola dificilmente passa do meio-campo em boas condições para os homens de frente.
Até acredito que a situação possa melhorar com a entrada dos novos atacantes. O Flamengo vem jogando sempre com dois jogadores de pouca movimentação no ataque, por estilo ou por falta de condição física. Tanto Diogo quanto Deivid sabem fazer gols, têm presença de área, mas não são de ficar paradões no meio dos zagueiros e a simples entrada de gente que consegue aparecer mais para o jogo pode aumentar as opções de passe e fazer a produção do time crescer. Até dá pra perceber um pouco isso quando entram em campo Diego Maurício ou Vinícius Pacheco – que criam pouco, têm dificuldade pra prender a bola no ataque, erram na definição das jogadas, mas facilitam um tantinho a vida dos meias quando o adversário marca mais atrás e permite que o time avance com um pouco mais de facilidade. Mas a entrada dos dois nunca resolveu o problema da saída da defesa e o Flamengo sofreu pra passar do meio-campo até contra o Atlético Goianiense, quando foi pressionado no segundo tempo.

Ou seja: simplesmente trocar a dupla de ataque deste mesmo time que vem jogando melhora, mas não é algo que vá mudar o Flamengo da água pro vinho. Pode até ser que Renato, à medida que ganhe ritmo de jogo e preparo físico, ajude a minimizar um tanto o problema. Mas ainda me parece pouco pra um time que até hoje ainda depende tanto deste Petkovic-2010 para produzir qualquer jogada um pouquinho mais objetiva.
Uma dupla de ataque de alto nível pode sim fazer mais chances aparecerem e serem aproveitadas, e com isso aumentar bastante as chances do Flamengo vencer mais jogos. Mas talvez não seja o bastante para que as pretensões do time realmente possam ser do tamanho dos sonhos da torcida e da diretoria. As opções para o treinador aumentaram (inclusive pelo retorno de Fierro, por mais que tantos torçam o nariz pra ele), vão melhorar ainda mais à medida que alguns jogadores forem se condicionando e realmente há material humano agora para o Flamengo sonhar bem mais alto. Mas precisa ser mais bem aproveitado do que vem sendo até agora.

• ANDRÉ MONNERAT escreve também no SobreFlamengo (www.sobreflamengo.com.br e twitter.com/sobreflamengo)

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