O primeiro e principal exemplo é justo o do ídolo maior, Zico. Mas como a trajetória do Galinho é constantemente contada aqui nesses Alfarrábios, vou pedir licença ao messias e passar a vez a outros nomes. Começando lá pelos 50: Evaristo
Goleador nato, de uma linhagem rara. Conseguia conjugar uma técnica fulgurante (dominava a bola de uma forma macia, aveludada) com um letal faro de gol. Não era raro sair de campo com a marca de 3, 4 tentos anotados. Revelado pelo Madureira, transferiu-se para o Flamengo em 1953, tornando-se peça importante na conquista do segundo tri carioca. Mas viveu seu auge em 1956, quando se tornou titular absoluto da seleção brasileira (num jogo contra o Equador meteu 5 gols, um recorde). As grandes atuações contra os húngaros do Honved, em amistosos no Brasil e na Venezuela, chamaram a atenção dos espanhois do Barcelona, para onde Evaristo se transferiu no início de 1957.
Após uma (muito) bem sucedida passagem pela Espanha, onde foi campeão e ídolo no Barcelona e no Real Madrid (feito restrito a poucos), Evaristo voltou ao Brasil e nem titubeou em encerrar sua carreira no Flamengo. Já sem o vigor físico da juventude, sua segunda passagem foi mais apagada, mas mesmo assim Evaristo ajudou o time a conquistar o Campeonato Carioca de 1965. Joel
Ponta-direita bastante veloz, tinha grande facilidade em chegar à área adversária. Seus cruzamentos eram precisos e temidos, bem como seu chute enviesado. Chegou ao Flamengo em 1951, vindo do Botafogo, numa rumorosa transferência, mas logo virou ídolo na Gávea. Peça-chave do “Rolo Compressor” de Fleitas Solich, participou ativamente do segundo tricampeonato carioca, o que lhe valeu a convocação para a Seleção Brasileira. Em 1958 iniciou o Mundial como titular, mas acabaria preterido por Garrincha. Mesmo assim, seu desempenho foi suficiente para que o Valencia o tirasse do Flamengo após a Copa, dando continuidade a um processo de desmanche do elenco rubro-negro iniciado um ano antes.
Em 1961, mais experiente e rodado, Joel retornou à Gávea e seguiu atuando em alto nível. Formou com Dida, Henrique e Gerson um ataque mortífero, que valeu ao Flamengo a conquista do Torneio Rio-São Paulo do mesmo ano. Na partida final, Joel foi uma das maiores figuras em campo e anotou um dos gols da vitória sobre o Corinthians (2-0). Atuaria no Flamengo até o comecinho de 1963, quando se transferiu para o Vitória-BA. Júnior
Revelado nas divisões de base do clube, estreou em 1974, e logo ganhou a posição de titular da lateral-direita, ao marcar gols decisivos contra o América, no Carioca que o Flamengo acabaria conquistando. Rapidamente encantou torcedores e jornalistas com seu futebol refinado, de passes açucarados e chutes precisos. Pouco mais tarde, já na lateral-esquerda, sua posição original real, Júnior foi “eleito” por Coutinho uma das principais figuras do time que o treinador pacientemente estava começando a montar. Mesmo sem ser um grande marcador, o poderio de Júnior nas ações ofensivas era tão devastador que sequer passava pela cabeça de Coutinho abrir mão do lateral. E Júnior, que além disso possuía notável personalidade e capacidade de liderança, seguiu como um dos protagonistas do time que nasceu e cresceu com Coutinho, explodiu e alcançou o mundo, já sob o comando de Carpegiani e ao lado de Zico, Leandro, Raul, Adílio & Cia. Mas, após o Mundial de 82, o Flamengo não resistiu ao intenso processo de êxodo dos craques brasileiros para a Europa e o negociou com o Torino, em 1984.
Em 1989, Júnior retornava ao Flamengo por um motivo aparentemente prosaico, atuar com a camisa rubro-negra (sua segunda pele) diante do filho menor. Após um início oscilante, onde chegou a sofrer com contusões (fato raríssimo na carreira), Júnior logo se tornou a referência de uma equipe recheada de garotos. O Maestro, como passou a ser chamado, comandou o Flamengo na conquista de uma Copa do Brasil, um Brasileiro e um Estadual. Em 1993, ainda atuando em alto nível, resolveu descansar e encerrar uma das mais vitoriosas carreiras do futebol brasileiro. Renato Gaúcho
Renato é cria do Grêmio, por onde foi campeão mundial. Mas foi no Flamengo que viveu uma relação extremamente intensa e turbulenta. Amado e odiado, passou pelo rubro-negro nada menos que QUATRO vezes. Em 1987, chegou ao Flamengo prometendo títulos e foi o melhor jogador do Brasileiro daquele ano, sendo decisivo na conquista do tetra. No auge da forma física e técnica, Renato era considerado o melhor atacante brasileiro na época, o que lhe valeu a transferência para o Roma no ano seguinte. Mas não se adaptou na Itália, e em 1989 estava de volta ao Flamengo. Sua segunda passagem, embora não tão brilhante, seguiu vitoriosa (campeão da Copa do Brasil em 1990), mas acompanhada de polêmicas, como o incidente que redundou na saída de Telê Santana, ao reclamar de uma alteração. Em 1991 seria negociado com o Botafogo, e após recuperar seu prestígio no Cruzeiro voltou a ser contratado pelo Flamengo, já em 1993. Mas sua terceira passagem foi frustrante. No Estadual, perdeu um pênalti decisivo que custou a vaga para as finais. No Brasileiro, sua marra e capacidade de criar caso ofuscaram o razoável futebol. E, num incidente lamentável, foi o responsável pela saída do promissor (e encrenqueiro) Djalminha da Gávea, num obscuro Fla-Flu do Rio-SP. Desgastado, saiu do Flamengo e rodou por outras equipes, sem nunca esquecer o rubro-negro, que fazia questão de provocar e tripudiar, nunca ignorar. Após séria contusão no joelho, foi acolhido pelo Flamengo em 1997, foi bem recebido pela torcida, e derramou-se em juras de amor. Mostrou vontade, tentou liderar os mais jovens e andou marcando gols importantes, mas já não dispunha de condições físicas para atuar com consistência. Bebeto
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