quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pelo Mundo Flamengo: Bruno e a missão moral de Zico

Paulo Lima / Nova York
@mundoflamengo

Acabo de ver o Jornal da Globo na TV. Mostraram a reportagem que faltava: como as crianças que têm Bruno como ídolo reagem às notícias da provável autoria do crime pelo goleiro. A matéria era para ter ido ao ar ontem (chegaram a anunciá-la na escalada), mas não sei porque só seguraram para hoje. De toda forma, a história escabrosa, mesmo ainda apenas 99% confirmada (99% mesmo), confirma a notória e cristalina deteriorização da imagem do Flamengo.

Na cabeça dos mais novos, pesa, e muito, ter a referência de ontem como o assassino de hoje.

Não estamos falando de baladas, chatubas, atrasos no treino, privilégios. Perto do cenário atual, essas coisas agora chegam a parecer lúdicas, com um quê de folclore.

Estamos falando de assassinato, de brutal, cruel, banal. Por muito menos, Edmundo foi defenestrado, ridicularizado. A reboque, o Vasco. Aqui nos EUA, meros casos extraconjugais são motivo de escracho público, exatamente por isso: é um mau exemplo para as crianças. Os clubes e seus patrocinadores padecem.

Só para esclarecer: não sou a favor dos anjinhos. Me dá calafrios a ideia de um time formado por (falsos) santos - já que muitos o são apenas no discurso.

Mas, infelizmente, o Flamengo, como maior clube do Brasil e chamariz perfeito para maximizar a amplificação do caso, entra de gaiato na história. Foi campeão de quase tudo no ano passado, tem vencido nos últimos anos, mas vê em 2010 a sua grande derrocada moral: Adriano, e, agora, em escala muito maior, Bruno.

Medidas institucionais se fazem necessárias. Urgentes. Algo como:

- Definição imediata do novo capitão;
- Ninguém, nem o treinador, fala sobre o caso, nem sobre o goleiro;
- Afastamento do goleiro das dependências do clube;
- Estudo concentrado sobre as possibilidades de rescisão imediata;
- Análise equilibrada do perfil dos reforços pretendidos, com o balanço entre rendimento em campo e eventuais contratempos fora dele;
- ...

Quem sabe não pensamos em outras coisas?

De toda forma, dói saber que Bruno e sua trupe opõem-se diametralmente a Zico - o nosso Deus, e que voltou para nos salvar - cuja geração que não se preocupou apenas em jogar futebol, em dar espetáculo e em vencer. Para os eternos craques, era de suma importância conquistar novos torcedores por meio da lealdade, da simplicidade, do caráter. Certamente esses caras foram marcados na história também por esta característica - e sem falso moralismo, sem a petulância de quererem demonstrar o que não eram. Com autenticidade. O Flamengo era isso. Era o nosso símbolo, era uma das nossas marcas registradas. E que há muito deixou de ser.

Espero que Zico e seu novo trabalho na Gávea ajude a resgatar esse sentimento.

Flamengo Net

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