quarta-feira, 30 de junho de 2010

Pelo Mundo Flamengo: Os craques morreram

Paulo Lima / Nova York
@mundoflamengo


A fase decisiva da Copa do Mundo só começa agora, mas uma conclusão já pode ser tirada: é o “Mundial do não-craque”. Sim, pois, ao contrário do que ocorre na África, a história da competição mostra, em cada edição, o brilho de ao menos uma grande estrela, com ou sem título. Indo em direção ao passado, temos Zidane (06), Ronaldo (02), Zidane (98), Romário (94), Matthaus (90), Maradona (86), meio time de Telê (82) ...

Kaká, Messi. C. Ronaldo, Ozit, Robben... Perto do que já despontou ao longo dos torneios, são apenas, até o momento, fugazes faíscas. Meros aspirantes.

Confirmada, a tendência da Copa solidifica uma postura em escala global – a qualidade do evento pode ser questionada, mas não a sua influência para o esporte em todo o planeta. É assim na tática (nas mudanças do 4-2-4 para o 4-3-3, depois 4-4-2, depois 3-5-2, etc. e etc.) e no estilo (adoção de pontas, depois alas, por exemplo).

A disseminação desta cultura atingiu times de todos os continentes. O futebol é muito parecido: da Coréia à Gana, do Paraguai à Espanha, do Brasil aos EUA. Há poucas variações entre eles. Mudassem as camisas, seria difícil identificar a “escola” a que pertencem. As escolas do futebol se unificaram.

Podemos questionar se as alterações representam, de fato, uma evolução do jogo. Mas elas apresentam a nova realidade. A Copa do Não-Craque nem é necessariamente a do conjunto – para se tê-lo, é preciso haver talentosa atuação coletiva. É o Mundial da aplicação tática, do defensivismo extremo, via anulação das melhores jogadas adversárias como prioridade (leia-se: não tomar gols como objetivo principal); do vigor físico como primeiro diferencial; das jogadas ensaiadas e bolas paradas; da simplicidade como arma.

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E o que o C.R.F. tem com esta história?

Simples: se o Flamengo de Zico entender que o futebol dos próximos anos será o que estamos vendo há quase três semanas na TV, podemos largar na frente e, num curto/médio prazo, atingir alto nível de competitividade.

E o que isto quer dizer? Não busquemos craques. Os craques estão morrendo. Os sobreviventes normalmente vêm com pacotes completos (Adriano, Riquelme, R. Gaúcho), ou são extremamente caros e fora da realidade (há muitos, só escolher o seu), ou vivem de passado glorioso e precisam mostrar diferencial (Felipe, Roberto Carlos...).

Renato, Corrêa, Jean, Val Baiano não bastam, claro. Porém, se o time, com mais alguns reforços bem escolhidos, ao lado de peças já disponíveis (LM, Juan, Angelim, Kleberson, Maldonado) e da base, mergulhar de cabeça nesta nova mentalidade, pode, sim, levar o Flamengo às vitórias.

Resta saber se o nosso técnico é o homem capaz de enxergar tais mudanças do esporte e adaptá-las ao novo Flamengo. Com um elenco limitado, a tarefa torna-se bem mais fácil, pois com “craques” no elenco, o treinador é obrigado a escalá-los e abrir mão de convicções e de planejamentos mais racionais – vide o caso Vagner Love, cuja entrada no Fla-2010 (ainda que efetiva, em números) é atribuída por alguns à derrocada do esquema vencedor do Hexa. Rogério foi (bom) zagueiro e tem base. Vamos torcer pelo sucesso dele. A torcida não aprecia craques. Aprecia comprometimento. Se o grupo se fechar e corresponder às expectativas, ainda que longe de produzir espetáculo, vai cair nas graças do povo.

Solidez na defesa, marcação em bloco, saídas alternadas pelas laterais e bolas paradas. É feio, mas é o futebol de hoje. Temos plenas condições de trocar o que já fomos pelo que somos. E, ainda sim, sermos felizes.

Flamengo Net

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