quinta-feira, 13 de maio de 2010

Silêncio inexplicável

Autoconfiança é um dos traços que orgulha cada rubro-negro. Não somos reclamões, não somos chorões e, mesmo quando não temos os melhores jogadores, mesmo quando não temos o melhor time, somos conhecidos por uma força que muitas vezes nos leva à superação. O famoso “deixou chegar...”.

Ao mesmo tempo, essa autoconfiança está corriqueiramente no limiar da soberba. E esse é um pecado capital, mesmo para quem se garante, mesmo para quem é – ou acredita ser melhor. Porque a soberba normalmente não planeja. Ignora a possibilidade de erro. E não faz plano B.

Esse é o retrato que faço do jogo de ontem. Tão lamentável como a postura tática do time em campo foi a postura da torcida fora dele.

Dentro de campo, vimos uma equipe que, mesmo com um histórico recente de confrontos, pouco estudou o adversário, pouco avaliou seus pontos fortes e fracos. Na semana que antecedeu o jogo com o Corinthians, vimos muitos comentários sobre como marcar Ronaldo, conter os avanços de Roberto Carlos, cuidar de Dentinho.

Mas não ouvimos ninguém falar dos cuidados com a movimentação do argentino Walter Montillo, o grande nome do “La U”, ou como superar a marcação do “La U” pelos lados. E olha que o Flamengo mandou um observador para o Chile, Paulo Henrique Junior, auxiliar de Andrade, para o Chile, onde assistiu aos jogos dos chilenos – Paulo Henrique foi entrevistado pelo Polaroid s quando este estava abrigado no site oficial.

Ao mesmo tempo, do outro lado, tínhamos um treinador que conhecia muito bem nosso jeito de jogar. Gerardo Pelusso [vide (i) aqui e (ii) aqui ], assim como Joel Santana, sabe quais são as nossas melhores opções ofensivas, sabe quais são nossos pontos fracos.

Fora de campo, o mais espantoso. Uma torcida do Flamengo inexplicavelmente calada – apesar da péssima postura tática do time em grande parte do primeiro tempo e da desorganização em praticamente toda a segunda etapa. O silêncio constrangedor permitiu que a pequena torcida da “U de Chile” pudesse ter seus cânticos ouvidos diante de um Maracanã com 70.000 pessoas.

Só posso explicar com o mesmo adjetivo: soberba. Por mais bizarra que tenha sido a atuação da equipe, acredito que grande parte da nossa torcida ainda cai no autoengano de acreditar que passar pelo Corinthians era o mais difícil. Ou que “uma Libertadores sem o Boca” está no papo e que clubes fora do eixo Brasil-Buenos Aires não merecem o mesmo respeito, a mesma atenção, a mesma tensão, a mesma vibração. Que as quartas-de-final seriam pouco mais que um cumprimento de formalidade para uma etapa mais difícil, diante dos mexicanos do Chivas ou de uma equipe brasileira.

Libertadores não é uma competição qualquer.

Todo adversário merece respeito, merece entrega total – do time e da torcida.

LDU (2008) e Once Caldas (2004), nunca cotados como favoritos, mostram o quanto isso é verdadeiro.

Para ganhar, é preciso um algo a mais. Dentro e fora dos gramados. E o Flamengo, bem como sua torcida, talvez precise reformular seus conceitos.

Assim, quem sabe, não precisemos mais ouvir as vozes de 50 visitantes em vez de 70.000.

Flamengo Net

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