terça-feira, 20 de abril de 2010

O ano em que minha torcida saiu de férias
Por Vinicius Paiva

Ao longo destas semanas de ausência, muito analisei os já tão analisados fatores que levaram ao fracasso retumbante do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro de 2010. Eis que o fator para o qual eu dava menos importância acabou por ser um dos principais, não apenas para o já falado declínio do torneio, quanto para o fim da hegemonia estadual rubro negra: o abandono da torcida do Flamengo ao seu time.

Antes, recapitulemos alguns pontos. Vale a pena bater na tecla da incompetência dos dirigentes com relação a um torneio que até o ano passado transbordava charme, mas que este ano mostrou-se, além de sofrível tecnicamente, insosso em termos de atratividade.

1) Os dirigentes erraram a mão no valor dos ingressos, e isto já foi exaustivamente debatido. O que aterroriza é não ouvir nenhum deles sequer sinalizar que o erro aconteceu e que o mesmo será retificado – ou pior ainda, surpreende a inércia dos responsáveis de não terem alterado o regulamento durante o campeonato de modo a baixar esses preços em patamares paulistanos, algo que definitivamente o carioca não se predispõe a pagar.

Apenas a título de comparação. Final da Taça Rio 2010 (na prática, final do campeonato): Público 50.303 pagantes – Renda R$ 1.677.565,00. Final do Campeonato Carioca 2009: Público 78.393 pagantes – Renda R$1.989.415,00.

Valeu a pena? Diminuir em 20 mil o número de pagantes e jogar em um estádio vazio para faturar R$ 300 mil a menos, mesmo que o ticket médio tenha aumentado (de R$ 25 para R$ 33) é maximização de lucro?? Economistas na FERJ, já!!

2) Outra lambança, que vem desde 2008, é o enfraquecimento dos times pequenos sob a desculpa de que seus estádios não tem estrutura para receber os jogos. Ora, sempre tiveram! Por piores que fossem, desde mil novecentos e lá vai fumaça que eu vejo transmissões de Conselheiro Galvão ou da Rua Bariri. Agora isso? Ao contrário do fortalecimento dos clubes pequenos e do interior, a FERJ faz o desserviço ao futebol carioca de matá-los a coronhadas, fazendo com que todo mundo saiba que as semifinais de turno e returno serão disputadas pelos 4 grandes. Isso torna uma grande PALHAÇADA o transcorrer do campeonato. Resultado: pela primeira vez na história, jogamos em Maracanãs com 2 mil torcedores, e Raulinos de Oliveira com mil. Nem no campeonato candango se viu tão pouca gente.

3) O enfraquecimento institucional do Campeonato Carioca também deve jogar parte de sua carga sobre os ombros daquela que é responsável direta por sua veiculação e promoção: a Rede Globo. Para ela, cada vez mais o Campeonato Paulista é “o” grande campeonato regional, em detrimento de todos os outros. Antes, ela considerava Paulista e Carioca em patamares similares. Ora, por que diabos a luta pela audiência em SP faz com que os clássicos de lá sejam transmitidos pela TV aberta (horário das 16 horas) e os clássicos do Rio não? Um torcedor que more numa região neutra, e que possa escolher entre um jogo paulista e um carioca, vai de Vasco x Madureira ou de Corinthians x São Paulo?? E a inexplicável involução do pay per view? O Paulistão, não é de hoje, tem 100% de seus jogos transmitidos, incluindo os insignificantes clubes pequenos. O Carioca este ano teve APENAS os jogos dos 4 grandes veiculados – sendo que desde 2006 clubes como Volta Redonda e América tinham 100% de transmissão!!! Vocês acham que relegando um torneio à condição de quinta categoria, o mesmo se fortalecerá ou enfraquecerá?

4) “O ano em que minha torcida saiu de férias”.

Finalmente chegamos no ponto que eu queria.

Todos nós sabemos que a torcida do Flamengo é a força-motriz do futebol no Rio de Janeiro. Sem ela, sobra pouco ou quase nada, até pelo próprio recrudescimento que as 3 torcidas vem demonstrando em nível nacional, conforme pesquisas.

Eis que, depois de anos de amargura na fila de um grande título de expressão nacional, o Flamengo conquista o Brasil em 2009, tendo em média 40 mil torcedores por jogo. Ressalta-se que esta média foi idêntica nos dois campeonatos anteriores, e eles não culminaram em título.

Aí aconteceu um fenômeno inexplicável. Ao contrário da euforia do hexacampeão, que arrastaria céus e terras aos estádios para jogar e ser visto, a torcida do Flamengo saiu de férias. Largou do time. Meio que pensou: “Ufa, conseguimos. Agora posso parar um pouquinho”. Onde já se viu?

O resultado foi esse campeonato esvaziado e despretensioso. Afinal, como eu disse, sem a força-motriz, não sobra nada. Flu, Bota e Vasco respiram de aparelhos sem o Flamengo. Um exemplo foi a partida de domingo. Falaram que a torcida do Botafogo seria maior, que iria invadir o Maracanã. Seria a primeira vez desde 1922 que isso aconteceria. Coisa nenhuma. Ela não foi maior. Compareceu no mesmíssimo nível de sempre: encheu arquibancadas verdes e amarelas, apenas. NÓS É QUE NÃO FOMOS AO ESTÁDIO. Tanto é que todos os lugares vazios seriam, usualmente, preenchidos pela nossa torcida - arquibancadas brancas e cadeiras inferiores sempre são invadidas pela Nação. A torcida do Flamengo abandonou o time, de modo a apenas comparecer às cadeiras verdes e amarelas – tal qual o foguinho! Rachamos estádio com o Botafogo, gente!!! Isso é grave demais!

Tinha derrota mais cantada em verso e prosa do que esta?

Quando a torcida do Flamengo abandona o time, nos resta o ocaso.

Pensem nisto. Porque o ano tá longe de acabar, e nossa prioridade no ano está longe de ser o Estadual.

Tem Libertadores amanhã, e o Flamengo adora dar vexames do tipo “ser eliminado por um venezuelano em pleno Maracanã”. Sem a torcida fazendo sua parte, não duvido de mais nada.

Todo o resto – precariedade técnica de Andrade, irresponsabilidade de Adriano, briga entre o capitão débil mental (que quase entrega o jogo de maneira patética) e o meio-campista que se acha dono do mundo... Tudo isso é verdade, mas não cabe a mim analisar. Tem gente bem melhor do que eu por aqui mesmo. Só deixo claro que respeito a opinião de todos, uma vez que é dessa pluralidade que vive o Blog. No entanto, eu, Vinicius Paiva, discordo veementemente de que “a torcida tenha feito sua parte”.

Um abraço.

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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