sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Fla: 2º mais valioso, porém o mais rico


Por Vinicius Paiva


Com o encaminhar dos processos de (re)negociação de patrocínios dos clubes brasileiros, algumas nuvens vão se afastando do horizonte, deixando claras situações curiosas, outras pouco compreensíveis. Todas, porém, interessantes.

Em minha última coluna, elogiei o fechamento do patrocínio do Flamengo pela Batavo, entre outros motivos, porque a Hypermarcas-Bozzano havia desvalorizado de maneira inaceitável a "marca Flamengo", ao oferecer um patrocínio ao Corinthians em valores imensamente superiores aos que havia nos oferecido. Apenas para refrescar a memória, a empresa propôs ao Flamengo R$ 28 milhões por todo o uniforme (peito, costas, mangas e calções). Com a recusa do Flamengo e o fechamento do nosso acordo com a Batavo (R$ 25 milhões apenas por peito e costas), a Hypermarcas pôde concentrar seus esforços no "queridinho da mídia", e o resultado foi sacramentado ontem: a Hypermarcas é a nova patrocinadora do Corinthians, por R$ 41 milhões de reais para todo o uniforme - R$ 13 milhões acima do que ofereceram ao Flamengo. Isso porque o Flamengo é nada menos do que o atual campeão brasileiro, dono da maior torcida do mundo, do recorde nacional de venda de produtos oficiais e dono da marca mais valiosa do futebol brasileiro, segundo avaliou uma importante auditoria.

Pois bem, é natural que os números de Flamengo e Corinthians inflacionem o mercado, e possivelmente o próximo a se beneficiar desta ciranda seja o São Paulo, cujo patrocínio da LG se encerra à meia noite desta quinta-feira. O time paulista pede R$ 30 milhões para renovar seu contrato com a empresa sul-coreana de eletroeletrônicos. Os coreanos oferecem R$ 24 milhões - em ambos os casos, pelo uniforme inteiro. Segundo informações do site Olhar Crônico Esportivo, os times mineiros já se beneficiaram da bolha, ao fecharem um pacote de patrocínio master + mangas no respeitável valor de R$ 18 milhões. Quem já tem patrocínios fechados pelos próximos anos se prejudicou e assiste com pesar ao inflacionamento do mercado, caso dos gaúchos, do Palmeiras e do Vasco. Pra ser honesto, os R$ 14 milhões pagos pela Eletrobrás ao Vasco estão mais do que bons.

Voltando ao caso do Corinthians, os R$ 41 milhões foram divididos em R$ 28 milhões pelo patrocínio master (peito e costas) e R$ 13 milhões pelo resto (mangas, ombros, calções e até axilas, nos mesmos moldes de 2009). E é aí que entra a situação mais curiosa: o patrocínio alvinegro faz do clube do Parque São Jorge a camisa mais valiosa do Brasil. Mas faz também do Flamengo o clube mais rico do país - considerando-se apenas seus patrocínios. Isso porque todos os patrocínios do Corinthians que não o patrocínio master são abocanhados pelo atacante Ronaldo na proporção de 80%, fato que leva do clube paulista nada menos que R$ 10 milhões daqueles R$ 13 milhões pagos pelas mangas e afins. Restam ao Corinthians R$ 31 milhões. Desta forma, basta que o Flamengo feche um patrocínio de mangas acima dos R$ 6 milhões anuais (algo bastante provável, pois R$ 6 milhões foi exatamente o valor que a Bozzano nos pagou pelas mangas em 2009) para que sejamos, na prática, o clube que mais arrecada com sua camisa. Isso sem contar os valores pagos pela fornecedora de material esportivo, pois daí nossa liderança vira uma lavada.

De todo este processo, conclui-se uma coisa. É de praxe entre os jornalistas brasileiros (experts em chavões, lugares-comuns e óbvios-ululantes) a crítica aos clubes por não saberem transformar a paixão dos torcedores em recursos, em cash. Semana passada mesmo um colunista (que não me lembro o nome) do diário Lance escreveu algo como "já passou da hora de os clubes brasileiros abrirem os olhos, blá blá blá". Não passou coisa alguma. Assim como o "país do futuro" parece finalmente estar se tornando uma realidade, o que os clubes brasileiros estão conseguindo arrecadar em sua relação com o torcedor já se transformou numa soma respeitável. Desde clubes com 100 mil sócios-torcedores, passando por clubes com mais de um milhão de produtos vendidos ou com arrecadação de bilheteria ultrapassando os R$ 20 milhões anuais, até os valores pagos por patrocinadores e fornecedores de material esportivo. Os clubes brasileiros parecem finalmente ter adentrado - ainda que com 20 anos de atraso - à era do marketing esportivo.

PS: Semana passada eu abordaria meu assunto favorito, que estava em voga: a nova pesquisa Datafolha que ampliou a liderança da nossa torcida Brasil afora. Mas por estar viajando de férias pelo Nordeste, não consegui escrever e perdi o bonde da história - quase tudo o que eu analisaria já foi analisado rede afora. Quem mandou dormir no ponto?

Emails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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