Erguei as mãos
*Por Mauricio Neves, no blog do site oficial do Flamengo
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Supõe-se que as alegrias se parecem. Mas a verdade é que a alegria rubro-negra não se parece com nenhuma outra. Não sei se é mais funda, santa ou dilacerada. Só sei que é diferente. Quanto Airton enfiou o terceiro gol, eu vi, perto de mim, um crioulão cair de joelhos. Ele erguia os braços para o céu. NELSON RODRIGUES
Foi a vitória da nossa fé contra a objetividade. Os matemáticos chegaram a cravar três por cento de chance de título. Jogadores de outros times declararam que o Flamengo estava fora da briga pelo campeonato. E mesmo quando a virada já estava em curso, quando a Magnética (MUHLENBERG, Arthur in Urublog) se fazia ouvir até nos estádios dos adversários, a voz comum dizia que Andrade e seus comandados chegariam no máximo à Libertadores.
Ah, a voz comum. O que sabe de nós a voz comum? O que pode contra nós a voz comum, se a nossa voz é o berro ensandecido das arquibancadas? Enquanto os outros faziam contas, nós enchíamos os estádios para cantar que o Imperador voltou, que o Flamengo é a nossa maior paixão e que estaríamos com ele em todos os lugares, que é o Pet, que o Maraca é nosso e que ia começar a festa. Cale-se, voz comum. Conte comigo, Mengão.
Quando eu me vi no Maracanã absolutamente rubro-negro, lotado duas horas antes do jogo final, percebi que o mundo todo entenderia, afinal, qual é a maior de todas as armas flamengas: o Flamengo é gigante porque é do tamanho da nossa fé. As filas para entrar no estádio começaram a se formar desde as onze horas da manhã, porque não estávamos lá para ver um jogo de futebol. Estávamos lá porque queríamos cantar a tarde inteira a alegria de ser rubro-negro. Os outros vão aos estádios aplaudir e vaiar chutes. Nós vamos para celebrar a nossa fé.
Talvez isso explique a reação que veio do gramado e se espalhou pelas cadeiras e arquibancadas após o segundo gol. O time começava a voltar para o seu campo, para reiniciar o jogo. Angelim, abraçado por David, erguia os braços para o céu. Toró admirava a festa de todos nós e erguia os braços para o céu. Léo Moura, de joelhos, olhava para o alto e erguia os braços para o céu.
Eu tinha acabado de abraçar o meu pai, que voltava ao Maracanã depois de 25 anos, e olhei ao redor. Gente de todas as idades, com Mantos de todas as épocas, pais e filhos, amigos de uma vida inteira, amigos que acabaram de se conhecer, todos tinham no olhar o brilho da fé, o brilho de quem acreditou o tempo todo. E de fora a fora, nos anéis das cadeiras e das arquibancadas, vários de nós erguiam os braços para o céu.
E foi o que eu fiz, pedindo pela eternidade daquele momento. Ergui os braços para o céu.
Parabéns, hexacampeões. Gigante mesmo é a nossa fé.
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