segunda-feira, 7 de setembro de 2009

obs: ainda revoltado demais para prosseguir com meu "caderninho", voltou a rever algumas antigas postagens minhas, falando de fantasmas que infelizmente continuam insistindo em nos assombrar. O texto abaixo foi escrito em 16 de Março de 2006, mas continua atual:


A ARTE DO BONSAI

"Quem é bom, sai. Quem é ruim, fica."

Não, não é a isso que estou me referindo.

Bonsai: técnica oriental de transformar árvores, reduzindo-as a pequenas plantas que caibam num vaso ou bandeja.

Assim eu vejo o processo que vem vitimando o Flamengo. Por uma grande conjugação de diversos fatores, a nosso outrora poderoso time foi gradualmente reduzindo-se a um time pequeno. Dirigentes, jogadores, técnicos e "empresários" foram podando o time, transformando-se na massa amorfa que é hoje, que briga contra o rebaixamento até no enfraquecido campeonato carioca.

Na Era Dourada de Zico e cia, os dirigentes eram homens dedicados que conheciam profundamente suas funções: disciplinavam, resolviam problemas financeiros, problemas de relacionamento, davam todo o suporte que o time necessitava fora do campo para fluir bem dentro dele.

E o que são os dirigentes hoje: uma série de yuppies provenientes do mercado financeiro e do marketing, entendem muito de dinheiro, mas são incapazes de planejar uma contratação.

O Flamengo era um celeiro de craques, especialmente no período entre 70 e 91. A cada ano surgiam novas promessas, e o time mantinha uma estrutura invejável. Hoje, são muito poucos os juniores que se firmam no time, e que chegam à Seleção. Os técnicos só querem saber de armar times defensivos, com medo de tudo e de todos.

Os jogadores não querem se esforçar, não querem treinar, aprimorar fundamentos, se aperfeiçoar. Os salários são inflacionados. Os empresários são verdadeiros parasitas que infectam os clubes onde negociam seus "pupilos", compra daqui, vende pra lá, manda pro Catar, transfere pra Coréia, traz de volta, etc. A prioridade é o enriquecimento do empresário, os objetivos do clube ficam em último plano.

A imprensa também tem parte da culpa, por um misto de mediocridade, conivência e conluio. Precisando "vender seu peixe", poucos têm coragem de criticar os problemas, enquanto outros viram sócios destes empresários e amigos dos jogadores novos-ricos. No caso específico do Flamengo, junte a esta mistura uma boa dose de rancor de torcedores anti-flamenguistas que se transformam em jornalistas motivados em tripudiar do Flamengo.

A onda de degeneração também não deixou de alcançar a torcida. Grupos organizados para torcer se transformaram em grupos paramilitares de arruaceiros preocupados apenas a se matar uns aos outros, brigando até mesmo com outras torcidas do mesmo time.

Parte da nossa decadência obviamente não é privilégio nosso, mas apenas um sinal de males que afligem todos os grandes clubes do Brasil. Todos os grandes times nos últimos anos vêm dando vexames e sendo goleados volta e meia, e o processo parece ser mais agudo (ou pelo menos com mais visibilidade) nos times do Rio, que hoje em dia têm dificuldade até para disputar uma semifinal de Carioca. Os clubes que mais investiam nas divisões de base foram sendo desmantelados por um modelo que privilegia o "empresário", que vende jogadores com cada vez menos idade.

Aqueles que se dedicam a cultivar o Bonsai vão muito bem, já que este nunca esteve tão pequeno.

Mas para aqueles que como eu, acostumaram-se a ver as árvores crescendo em seu tamanho natural, a vida não tem sido nada fácil.


Flamengo Net

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