Quando estamos longe do que verdadeiramente gostamos, qualquer longínquo sinal é valiosamente valorizado. Quando se trata de Flamengo, a emoção transcende. Especialmente ao se deparar com qualquer vestígio de rubro-negrismo num subúrbio de Nova York, em um país que repulsa o futebol, é ingrediente que contribui ainda mais com algo cujo significado ultrapassa a palavra saudade.
Ser Flamengo no exterior é ouvir o coração palpitar só de ver pessoas vestidas com roupas listradas de vermelho e preto. É quase não dormir ao ver gringos com o Manto - sim, em pouco mais de um ano vi dois nativos, sim, nativos, com a camisa do Flamengo. Infelizmente não tive a chance de indagá-los, conhecê-los, entrevistá-los, convidá-los para um chopp regado a partida do Mais Querido.
Imagine então todo este flamenguismo incubado ao receber humildes, mas verdadeiras lembranças. Meu pai chegou do Rio hoje pela manhã, e me aproximei do abrir de sua mala como uma criança que espera ansiosa pelo brinquedo:
- Cadê? - indaguei.
Era ele. O Manto Sagrado, novinho em folha. Não o mais atual, já que não tinha as horríveis mangas da Bozzano. E de longe um dos mais feios que já vi. Não importa. Ele estava lá. Manto é Manto. Em Copa, em Eastchester ou na Groenlândia. Existe para ser usado e dele se sentir orgulhado. Jamais julgado.
Junto ao Manto, mais "doces" - dois livros do Flamengo (o "Rei do Rio", do Celso Unzete, e a "História do Mais Querido em quadrinhos", do Mestre Ziraldo), o DVD do Penta Tri e um chaveirinho que não só exibe o escudo mas canta parte do Hino. Ah! E um par de revistas com Adriano na capa, assim como um jornal "Vencer" de algumas semanas atrás.
Pode parecer mera bobagem. Mas essa pequena injeção de Flamengo é o que renova, o que nos mantém vivos. A aproximação em função da TV a cabo e da internet é inevitavelmente um advento fantástico. Mas são os pequenos detalhes que afirmam a conexão clubística. São as REFERÊNCIAS.
Jamais terei como ensinar minha filha a SER Flamengo assistindo a um jogo de futebol. Mesmo os adultos fãs do esporte têm dificuldades de se concentrar nas pelejas atuais, imagine uma criança de 3 anos.
Mas uma fã de quadrinhos como ela já é, certamente vai se interessar em acompanhar os primeiros passos do Flamengo, e suas glórias, com as páginas de Ziraldo. Voltarei a este espaço para relatar a experiência.
Diante de tudo isto, fica a pergunta:
Como um clube de vocação mundial como o Flamengo não mantém uma política específica com o pessoal de fora do Brasil, ou mesmo de lugares mais distantes do Rio?
Queremos nos alimentar de Flamengo. Mas a comida, se já não é escassa, certamente ainda é muito pouco nutritiva. Temos fome de Flamengo. Não quero só diversão e arte.
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* Paulo Lima, 29, é jornalista de formação, rubro-negro de coração e servidor público por opção. Mora em Eastchester (NY) e só sente saudades do Brasil e do Rio pela distância do Flamengo.
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