segunda-feira, 27 de julho de 2009

As Lágrimas de Andrade


Não, eu não escrevo este post para pedir a efetivação de Andrade. Para falar a verdade, neste exato momento, pouco me importa quem será contratado como timoneiro rubro-negro, pois só consigo pensar nas lágrimas de Andrade ao final do jogo contra o Santos. De tudo que o Flamengo fez ou deixou de fazer no jogo de ontem, só quero reter aquele momento.


O estado atual de coisas na Gávea consegue transformar qualquer vitória num acontecimento banal e desprovido de encanto, já que os três pontos conquistados não guardam nenhuma relação com a qualidade do time ou com o prazer que ele nos proporciona. Se dependesse apenas de jogadores e dirigentes, a pequena conquista teria se limitado aos clichês odiosos, como "tivemos atitude de vencedores" ou "a vitória dá moral para os jogadores". Se não me engano, o Bruno disse algo semelhante.


Ganhamos sem que o meio campo conseguisse acertar um passe, e num jogo em que a defesa nos remetia aos piores momentos do Flamengo na luta contra o rebaixamento. Banalidade nas palavras, banalidade no jogo, banalidade na definição do Flamengo como instituição. Nada do que aconteceu ontem parecia despertar a mais remota centelha de excitação no torcedor, até que a câmera focalizou Andrade chorando.


Naquele choro, estava a recusa da banalização e do clichê. Era a irrupção inesperada de um Flamengo subterrâneo, que teima em espirrar autenticidade e emoção genuína na cara das figuras que apenas emulam, de modo farsesco, a tal pele rubro-negra. Andrade não finge nada, não joga para torcida, não beija camisa e não faz juras de amor. É como se ainda vivesse naquele tempo em que o Flamengo tinha uma "aura", uma qualidade única que se materializava a cada jogo no Maracanã e portava uma carga gigantesca de prazer, tesão, aventura e drama.


Hoje tudo é tédio, e os pequenos prazeres que o Flamengo nos proporciona são exatamente isto: pequenos, como cápsulas de alegria destinadas ao esquecimento logo após a próxima rotina de vexames na Libertadores, ou no Estadual. Tipo um carnaval de 3 dias em Manchester. As lágrimas de Andrade lutam contra isso, como a querer provar que o Flamengo é um oceano de prazer, gozo, risco e drama. Naquele breve momento, ser Flamengo foi novamente BOM.

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