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segunda-feira, 15 de junho de 2009
Falta liderança
Por Sebastian Zanetta
Muita gente boa, amigos meus inclusive, atribui a problemas de caráter os seguidos vexames recentemente protagonizados pelo Flamengo. Quem pensa assim debita na conta de conhecidos jogadores os baldes de água fria que costumam acontecer justamente nos momentos em que mais se aquecem as esperanças de uma torcida já carente por títulos de expressão (inter)nacional. Os mais questionados, por quem pensa assim, são nomes que não tem muito tempo quase gozavam de uma unanimidade positiva: os laterais Léo Moura e Juan, o goleiro Bruno e o volante/meia Ibson.
Outros, não totalmente desprovidos de razão, vão mais a fundo. Encontram na folha corrida de alguns dirigentes do clube, presentes em outros períodos de derrotas ultrajantes, a principal explicação para mais um segundo semestre desanimador, que se desenha nulo naquela conquista que hoje mais interessa a dez entre dez rubro-negros: o hexa brasileiro.
Eu iria mais longe. Diria que enquanto não houver uma profunda mudança institucional/organizacional no clube, consensual, capaz de dar a ele as condições de aproveitar a potência que representa a paixão da sua torcida, dificilmente o Flamengo sairá desses ciclos. Ciclos que mesclam títulos estaduais inquestionáveis a resultados (inter)nacionais que nos envergonham.
Como não é possível resolver tudo de uma vez, melhor abordar um só problema, que vejo como mais emergencial.
Na minha modesta compreensão, o maior problema é de liderança.
A deficiência, suprida parcialmente pelo zagueiro Fabio Luciano, antes de sua oportuna aposentadoria (sua velocidade já não era a mesma de um ano e meio atrás), começa em níveis hierárquicos mais elevados. Um líder, antes de tudo, é um sujeito que inspira os demais. Que dá exemplo. Que sabe combinar as diversas capacidades de um grupo e delas extrair o melhor. Que não se impõe pela força, mas pela empatia, arrancando aquela força de vontade extra de todos. Simplesmente porque tem a confiança geral e irrestrita de um grupo.
Sem um líder, ou sem líderes afinados, a tendência é a dispersão de personalidades, vaidades e talentos. É a perda de foco, o descompromisso com resultados.
Pode ser uma mera impressão, mas aparentemente, é isso o que acontece no departamento de futebol no Flamengo. O elenco tem bons jogadores, num nível que permitiria ao clube estar perfeitamente no G4, com pelo menos 12 pontos ao final dessa sétima rodada. Isso não é nenhum flamenguismo da minha parte - são os colegas e amigos que torcem pelos outros clubes que afirmam o mesmo.
Mas se as coisas já eram difíceis com a presença de Fabio Luciano -ausente, aliás, da maioria dos vexames do ano passado (América do México, Atlético-MG, Goiás etc), sem ele, a maionese parece ter desandado de vez...
Cabe o registro de que atribuir ao jogador a imensa responsabilidade que ele tinha já era uma distorção. Mostrava que faltava aos quadros do clube um bom interlocutor para com o grupo.
Como nenhum jogador no elenco parece apto a ocupar a lacuna, o elenco do Flamengo parece submerso à falta de um aglutinador. Cuca é um treinador que entende de futebol, que sabe armar boas equipes, mas ainda lhe parece faltar uma certa capacidade para gerir pessoas e suas idiossincrasias. Espero estar enganado, agora que sua permanência foi confirmada pelo clube, mas ele não parece demonstrar essa ascendência sobre o grupo, capacidade que também parece ausente nos dirigentes que lá estão. Se devidamente fortalecido, ele terá a chance de mostrar se está pronto para assumir esse papel. Tenho as minhas dúvidas de que isso funcione.
Se ele vier a sair, o que parece provável caso o Flamengo não suste esse espiral de péssimos resultados, a questão passa a ser quem, entre os treinadores disponíveis, teria esse perfil aglutinador.
O mercado hoje não tem esse nome. E o ano eleitoral, no qual fica impossível assumir qualquer compromisso de longo prazo com qualquer profissional, só torna mais difícil escolher um nome empregado que figure na lista dos prediletos da torcida.
Eu gostaria de ser otimista, mas não vejo esse nome.
Para salvar o semestre - e 2010 - precisaríamos, portanto, de um "novo Fabio Luciano", de um jogador capaz de chegar na janela e naturalmente impor sua liderança de modo positivo. Mais ou menos como aconteceu em 2007.
É mais difícil ainda imaginar esse nome.
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