Aos pés da santa cruz
Por Gustavo de Almeida
Cuca, nosso técnico, deu uma entrevista dizendo que "importante agora é não ficar buscando os culpados". O time acabou de pagar mais um vexame, o segundo seguido, apanhou como time pequeno de um time menor ainda, e só não levou de sete, oito ou até nove a zero (nem em 500 minutos o ataque faria um gol) porque a Divina Providência assim o quis. Diante deste quadro, Cuca se mostra um suicida ao dizer que não há importância em buscar os culpados. Com esta declaração, Cuca se transforma no único culpado - e na prática, ele está longe disto. Basta dizer que o presidente em exercício acha que o Bruno AINDA PODE ser chamado para a Seleção Brasileira.
Com as duas últimas atuações, Bruno deve se dar por contente se for contratado por um time do Sri Lanka, mesmo assim por metade de seu salário. Mas o dirigente máximo interino acha que "ainda dá pro Dunga chamar". Se isto não é um indicativo do parco conhecimento futebolístico dos dirigentes, eu não sei o que é.
É por demais desagradável ver voltar aquela fase maligna em que o Flamengo era goleado e isso já era encarado com naturalidade. O próprio vice-presidente de futebol chegou a declarar há alguns anos que “acabou a era dos vexames” – e de lá para cá já tivemos derrotas horrendas na Libertadores, empate com Goiás depois de 3 a 0 no placar, espancamento pelo Atlético Mineiro e a derrota protocolar para o Atlético Paranaense. Isto sem contar os 3 a 1 para o poderoso Resende.
Não poderia ser diferente em um domingo pós-crise de uma semana em que Adriano falta aos treinos. Não poderia ser diferente com Luis Roberto voltando a narrar, possivelmente com tesão depois do jogo contra o Sport. Agora, reparem: em todos estes resultados, não houve culpado nenhum. E absolver todo mundo adiantou para os vexames acabarem? Não.
O que acontece, Cuca, é que a cruz é santa. É preciso ter a humildade de ser crucificado mas ao mesmo tempo a arrogância de crucificar. O time quer derrubar o treinador, e isto qualquer desavisado pode perceber. É urgente e necessário demitir, imediatamente, pelo menos cinco jogadores e conversar com outros.
É normal que na manhã de segunda-feira as opiniões estejam divididas. E creio que todas elas estão certas: a culpa começa na diretoria, que é sempre a mesma, e vai até a zaga, passando por técnico e vice-presidente de futebol. No entanto, o Flamengo precisa descobrir seu caminho neste momento – não antes, que já é passado, não depois, quando pode ser tarde demais até mesmo para chutar a atual diretoria da Gávea.
Acordemos para a realidade: um time grande não pode levar nove gols em dois jogos sem que haja culpados. É preciso crucificar alguém, sim, e aos pés desta santa cruz reinventar o Flamengo, a fim de que ele sobreviva. Minha sugestão? Crucifiquem Juan, que só dá problema. Wellington, um zagueiro horroroso. Angelim, horroroso que virou ídolo. E até, quem sabe, o próprio Adriano.
Agora, não vamos cair na esparrela de “deixar para lá” derrotas como esta. É preciso que, como em qualquer empresa profissional – mesmo com atraso de salários – haja DEMISSÕES. A continuar neste ritmo, já já vai ter gente culpando a torcida.
E esta é ainda mais santa que a cruz.
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