quinta-feira, 11 de junho de 2009

CADERNINHO DO SIMÕES LOPES XXX

Calma, não é nada disso que estão pensando... XXX é apenas “trinta” em algarismos romanos. Acontece que em 2008 completo trinta anos na minha carreira de torcedor, que começou no augustíssimo campeonato carioca de 1978. Nestes anos já presenciei tanta coisa, que resolvi fazer um resumo do Flamengo (ou dos Flamengos, para ser mais exato) que eu acompanhei ao longo destas três décadas de emoções sempre fortes.

FINADA PONTA-DIREITA

O difícil de fazer uma retrospectiva de trinta anos de futebol por posição é que certas posições simplesmente desapareceram, como as duas pontas. Em 1978 a solução encontrada para ocupar a ponta-direita do time fora o jovem Marcinho, emprestado pelo Atlético Mineiro. Depois de várias tentativas, dentre as quais a utilização dos atacantes juvenis Tião e Cléber, e do centroavante Eli Carlos, emprestado do Cruzeiro, Coutinho chegou ao que parecia sua formação ideal, com Raul, Toninho, Rondinelli, Manguito e Júnior; Carpeggiani, Adílio e Zico; Marcinho, Cláudio Adão e Tita. O Flamengo havia vendido os dois pontas-direitas da formação de 77, o baixinho Osni, revelado pelo Santos nos idos de 1969-70, que passou por diversos times, mas só vingou nas equipes baianas de Bahia e Vitória; e Júnior Brasília, um contemporâneo de Adílio e Tita, que caiu no esquecimento, até reaparecer em 1985, como um fantasma fazendo um gol que ajudaria o obscuro Brasil de Pelotas a nos eliminar no Brasileiro de 1985.
Apesar da conquista do título carioca, a formação não foi mantida para o ano seguinte. Enquanto Marcinho retornava o Atlético (para "sumir"), o Flamengo contratava o veloz ponta-direita do América, Reinaldo, para ocupar a posição. Com ele no time, ganhamos mais um Carioca, com dois pontas abertos (ele e Júlio César), mas a opção por um sistema mais versátil, acabou fazendo Coutinho colocar Tita na posição. Apesar de um sistema teoricamente mais defensivo (4-4-2), a qualidade de suas peças, fazia deste time uma máquina de fazer gols, um verdadeiro carrossel. Com a contusão de Zico, em pleno segundo turno do Carioca Especial do mesmo ano, Tita foi assumir a camisa 10, e Reinaldo voltou à condição de titular.

Reinaldo e Tita ainda continuariam a se alternar no time titular, e após uma ligeira experiência de Tita como centroavante, a definição do recém-contratado Nunes na posição empurrou Tita mais uma vez para a ponta-direita, posição que ocupou - mesmo a contra-gosto - até o ano de 1982, com esporádicas exceções quando supria as ausências de Zico. Mesmo não gostando de atuar assim, Tita chegou à Seleção Brasileira de Telê Santana, sendo titular durante boa parte das Eliminatórias. Mesmo assim, a insatisfação cresceu a ponto dele ameaçar não jogar mais na posição, "pecado" que lhe custou a vaga na Seleção.

Nos momentos em que Tita ainda estava "teimando" em não ser ponta, para o seu lugar, o Flamengo usou Popéia, ex-Inter, que pouco atuou, e Chiquinho, contratado ao Olaria para executar a função de um ponta mais aberto e driblador. Mesmo com Tita retornando à condição de titular, Chiquinho permaneceu como uma boa opção de segundo tempo, quando o time precisava buscar o gol (no Brasileiro de 82 o Flamengo ganhou quase todos os jogos de virada). A partir daí, ainda usaríamos outros pontas-direitas, mas raramente como titulares absolutos. Contratados como solução para o ataque, acabam cedendo a posição a falsos-pontas improvisados, numa formação 4-4-2 que foi ficando cada vez mais frequente. No final de 1982, contratamos o ponta Wilsinho, por longos anos titular no Vasco, que só jogou o Carioca e a Libertadores desse ano; até mesmo Lico, ocupando a ponta-esquerda, foi deslocados algumas vezes para a outra ponta; Robertinho foi a aposta de 1983, foi importante em alguns jogos, fez gols, mas não repetiu a regularidade que tinha no Fluminense; Lúcio, com ótimas passagens por Ponte Preta e Guarani, chegou a ser o titular em 1984; Heyder, trazido do Náutico com fama de artilheiro, pouco jogou em 1985, e seu único gol aconteceu no 6x1 no Botafogo; Felipe, em 1983, Toninho Cajuru, em 1984, e Márcio, em 1987, foram alguns juniores com pouquíssimas atuações. Sem espaço nas novas formações táticas correntes no final da década de 80, os especialistas na posição foram sumindo ou migrando para uma posição de ataque mais "genérica", e a posição de ponta-direita, com sua camisa 7, acabou sendo ocupada pelo habilidoso meia-atacante Bebeto, titular absoluto a partir de 1984, ocupando ora o meio-campo (ganhando a camisa 10), ora a ponta-esquerda, ora a ponta-direita, até acabar no comando de ataque em 1987, quando o Flamengo teve seus últimos pontas-direitas "legítimos". Renato Gaúcho foi a principal contratação do ano de 1987, trazido do Grêmio, onde fizera história, mas deixaram problemas de relacionamento. Seu jeitão de bagunceiro e irresponsável não impediu que se tornasse ídolo dos rubro-negros, graças a suas atuações magistrais na Copa União de 1987, quando ajudou o Mengão a conquistar o tetracampeonato. Seu gol contra o Atlético Mineiro, no épico 3x2, fez calar o Mineirão, e eliminou o então favorito ao título. O mesmo time teve como coadjuvante seu reserva imediato Alcindo, um jogador limitado e mediano, com rompantes e lampejos de pseudo-craque. Com a inevitável ida de Renato ao futebol italiano, o Flamengo trouxe a principal revelação de seu rival Atlético, o habilidoso Sérgio Araújo, mas sem grande sucesso. Sem eles, a posição acabou ficando com o esforçado Alcindo, que escapou de voltou de um breve empréstimos ao São Paulo para ficar titular por um bom tempo, sem jamais convencer. Apadrinhado pelo onipotente ZICÃO nas terras japonesas, o limitado acabou virando ídolo, por estes caprichos do futebol. Com o fim dos especialistas, a posição passou a ser ocupada por meias improvisados, como Marcelinho e Paulo Nunes, por exemplo, e a camisa sete assim deixou de marcar uma posição específica, e embora o argentino Maxi fizesse uma função semelhante em 2008, preferi não usar ninguém como referência atual.

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