terça-feira, 9 de junho de 2009

Alfarrábios do Melo


Olá, saudações rubro-negras a todos,

Essa semana não irei postar a continuação da história do Brasileiro de 1980, e por isso já peço desculpas antecipadamente pelo fato. É que, diante de mais uma derrota vexaminosa para uma equipe inexpressiva, simplesmente não tenho vontade de falar disso agora. Estou sem saco. Mas todos os capítulos já estão prontos e serão publicados, conforme programado.

Então falar de quê, já que esse é um espaço pra contar histórias? Não sei.

Poderia mencionar, por exemplo, a história de Tomires, zagueiro alagoano que jogou pelo Flamengo nos anos 1950, de futebol tão vigoroso que ganhou a alcunha de “Cangaceiro” e que, entre outros troféus, conquistou duas fraturas no nariz, outras tantas nas mãos e duas quebras de clavícula, uma das quais escondida dos médicos para poder continuar jogando.

Ou talvez eu pudesse explorar um pouco a trajetória de Biguá, defensor (nos tempos de hoje, seria lateral-direito) paranaense baixinho e veloz que jogou lá pelos 1940, 1950, conhecido por sua absurda disposição em campo, infatigável, sempre encharcando a camisa, implacável no seu trabalho de formiguinha. Um dia, Biguá recebeu uma proposta irrecusável para se transferir para o Corinthians. Aceitou. Mas, no aeroporto, não teve coragem de embarcar no avião que o levaria a São Paulo, voltou à Gávea e, aos prantos, pediu para desfazer o negócio. Não agüentou ficar longe do Flamengo, onde ficaria até encerrar a carreira, sob estrondosos e emocionados aplausos.

Quem sabe falar de Rondinelli, zagueiro tecnicamente limitado que atuou durante anos como titular do Flamengo na década de 1970, mas que se transfigurava em campo de tal forma que parecia ser ele mesmo a personificação, em crispados tendões e viva carne, do espírito flamengo, a ponto de meter a cara para impedir um chute de Rivelino num Fla-Flu, diante de um Maracanã atônito e para absoluto pasmo do atacante tricolor, célebre por seus chutes extremamente violentos. Poderia me estender um pouco e mencionar que Rondinelli recebeu, com toda a justiça, o apelido de “Deus da Raça”, pela sua inebriante postura em campo.

Saindo um pouco dos livros e dos vídeos, poderia tentar transmitir um pouco das coisas que eu mesmo presenciei, sem ninguém me contar, como a valentia de um grupo massacrado física e psicologicamente por um grupo de jogadores, torcedores, jornalistas e policiais insuflados pela ditadura militar chilena, na segunda partida da final da Libertadores de 1981, tão bem sintetizada pelas faces martirizadas de Adílio e Lico, as camisas enxaguadas de sangue.

Falei em Adílio. Muitos se lembram dos dribles e da irreverência do neguinho da Cruzada São Sebastião, e é claro que eu também me recordo do seu imenso talento, mas há outra imagem na minha memória, há o Adílio na decisão da Taça Rio de 1983, jogo encardido com o Bangu de Arturzinho, o time ganhando, de repente a forte pancada no joelho, pra tirar do jogo, as alterações já queimadas, o craque se recusando a sair, manquitolando, fazendo número, e DIVIDINDO BOLA mesmo quebrado pra ajudar na conquista do título.

Enfim, fiquei com vontade de falar dessas coisas, de Doval, Fausto, Moderato, Valido, Nunes, dos meninos de Carlinhos de 1999, das “camisas que jogam sozinhas”, dos “profissionais com alma de amadores”. Talvez pra buscar um referencial, não sei. Mas acho que toda a essência do que eu procurava nesses exemplos pode ser resumida em uma única imagem, uma única foto , que sintetiza tudo o que se espera de um atleta que um dia tenha o orgulho e a honra de defender o sagrado manto flamengo.

Assim, despeço-me deixando a imagem de um gol marcado por Almir Pernambuquinho. O ano, 1966. O adversário, o Bangu. O gosto, de suor, grama e lama.

(o vídeo desse gol pode ser visto clicando aqui. O lance começa no instante 00:33)

Enquanto isso, o elenco atual cancela treino por estar “cansado” de viagem.

Uma boa semana a todos.

Flamengo Net

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