sábado, 23 de maio de 2009

Nosso Mundo é Flamengo – A NBA é aqui

Max Amaral*

Você sabe como funciona o campeonato de basquete da NBA?
Não é complicado:
Os 30 times são separados em duas “Conferências”, a Leste e a Oeste. Mesmo separados, todo mundo joga contra todo mundo, cada time fazendo 82 jogos na temporada regular.
Terminada essa fase é que o bicho pega de verdade: Os 8 melhores de cada conferência disputam os playoffs, em um sistema simples de chave (1o contra 8o, 2o contra 7o...), em uma melhor de 7 jogos. Os vencedores de cada Conferência, no final, disputam outra melhor de 7 jogos para saber quem é o campeão do ano.





Simples, não?
O problema é que, esse ano, já estava tudo preparado para a final entre o Cleveland Cavaliers e o Los Angeles Lakers. Desde antes do começo dos playoffs, comerciais na TV já mostravam os dois principais jogadores de cada time (LeBron James e Kobe Bryant), todo mundo já esperava o grande confronto, a festa já estava armada.
Só esqueceram de avisar aos adversários.
As duas séries-melhor-de-7 estão empatadas em 1 x 1, cada um dos favoritos perdeu um jogo em casa e vão jogar agora duas partidas fora. A imprensa esportiva está histérica, os torcedores não sabem o que pensar.

Bão, deixa eu fazer um paralelo agora:
Os Cleveland Cavaliers seriam o Internacional. Ou melhor, seriam o Internacional que a imprensa baba-ovo e a torcida gaúcha gostariam que ele fosse: um time praticamente perfeito, com os melhores jogadores do campeonato, um esquema tático irrepreensível e que atropela todo mundo em seu caminho inevitável ao título. Aliás, vejam aqui a incrível cesta de 3 pontas feita por LeBron James no último segundo do jogo de ontem contra o Orlando Magics, que empatou a série:





Os Los Angeles Lakers seriam o São Paulo. Um time que conhece o caminho do título mesmo quando não joga tão bem. Tem dinheiro e fama, pode contratar os jogadores que quiser, mas a torcida é aquela coisa: o estádio nunca está cheio no começo do jogo e o povo também sai antes dele acabar. Mas esteve em 29 finais nos últimos 49 anos (!!!), é o time da moda (com direito a Tom Cruise e Jack Nicholson em praticamente todos os jogos) e, ao contrário dos Bambis, têm jogado bem e bonito.
Orlando Magic, os adversários dos Cavaliers seriam, talvez, um Cruzeiro. Um time bem arrumado, é regular, está com o elenco e o esquema tático redondinhos, mas não tem aquela “cara” de finalista. Pode surpreender, está sempre na lista dos melhores, mas não é a primeira opção de ninguém.
E, finalmente, os adversários dos Lakers: os Denver Nuggets.
E vou me deter nos Nuggets por que quero fazer um paralelo com o Flamengo (você já estava achando que eu não iria falar do Fuderosão, né?!)
Minha primeira idéia era comparar o time do uniforme azul-calcinha com o Sport. Um time duro de ser batido em casa mas que nunca ganhou nada realmente importante – e se você falar do Brasileiro de 1987, é melhor parar de ler esse texto agora. Um time no qual, sinceramente, ninguém acreditava.
Mas em novembro de 2008, com o campeonato já em andamento, aconteceu um fenômeno interessantíssimo com os Nuggets: eles negociaram a “estrela” do time, Allen Iverson, por um jogador veterano, coincidentemente nascido aqui mesmo em Denver, Chauncey Billups.
Iverson é aquela coisa: um craque. Mas que só joga para si mesmo, e quando está a fim.
Billups é um líder. Imagine um Fábio Luciano mais rápido, mais inteligente e mais calmo.
Dizem que um jogador precisa de um tempo para se adaptar a um novo time. Billups precisou de 4 horas, que foi o tempo que durou o vôo de Detroit até Denver. Já chegou aqui e acertou o time inteiro, fortalecendo a defesa, arrumando o ataque. E dando caráter ao time. Com ele em quadra, os outros jogadores mostram uma vontade de vencer impressionante, sangue nos olhos o tempo todo. Não tem partida perdida, não tem jogada sem dividida.
O resultado é que os Nuggets chegaram aos playoffs, atropelaram os New Orleans Hornets (com direito à maior diferença de placar na história da NBA em um dos jogos), não tomaram conhecimento dos Dallas Mavericks (o Botafogo, cheio de chororô contra a “dureza” dos Nuggets) e, nas duas partidas que já fizeram contra os Lakers (em Los Angeles), jogaram de igual para igual contra os favoritos. Dominaram todo o primeiro jogo, perdendo por 2 pontos nos 30 segundos finais e, na quinta, venceram o segundo embate com autoridade.

Mas, no fim das contas, o que é que isso tudo tem a ver com o Flamengo, porra?!

O Flamengo hoje é um time desacreditado, embora ainda deva ser temido. Fala sério, ninguém nos coloca como favoritos reais ao Brasileirão. Nem nós.
Mas, como os jogos contra o Cruzeiro e Internacional mostraram, o time está quase lá. Falta alguma coisa, uma peça, um ajuste, e poderemos aspirar a vôos mais altos. Falta nos livrarmos de alguma estrela do time que mais nos prejudica do que ajuda, e falta entrar um jogador que ligue o time para sermos praticamente imbatíveis. Falta o nosso Billups.
Se vai ser o Adriano, o Arthuro, o Flamel, o Morais, o Petkovic ou o Zé das Couves que o Kleber Leite ainda vai contratar do Itapipoca, eu não sei. Mas estou rezando para ele chegar logo.
Eu não quero pensar nos Nuggets como o Sport. Quero que o Flamengo seja esse time surpreendente e que enche sua torcida de orgulho com a luta ensandecida até o último segundo.
A camisa do Flamengo merece isso.

Max Amaral, 43 anos, arquiteto, mora em Denver, Colorado (EUA) e escreve também no Mundo Flamengo (www.mundoflamengo.com)

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