Hegemonia, Eu Quero Uma Pra Viver
Em consonância com a minha proverbial ignorância futebolística vou me abster de cornetar o Cuca e sugerir a escalação de fulano ou sicrano. Tais observações me parecem desnecessárias a essa altura do certame, pois se até um analfabeto tático como eu só precisou de 3 jogos pra se certificar que o Sheik Emerson não é um homem de referência na grande área, é óbvio que o nosso cerebral e equilibrado treinador também o percebeu.
Se essa percepção se traduzirá numa nova armação do nosso ataque só o tempo nos dirá, mas a partida de ontem deu a impressão de que Cuca finalmente tem o grupo nas mãos e já é capaz de explorar da melhor maneira as características de cada jogador. A entrada do jovem azougue Erick Flores na final da TR, no momento e no lugar certo e com muito espaço pra mostrar seu jogo veloz e vertical, é a maior prova do controle de Cuca sobre o elenco.
Ainda que admita a importância de todos esses detalhes táticos, técnicos e estratégicos creio que os fatores determinantes para o triunfo numa decisão sejam menos objetivos. Sei que vão achar essa conversa meio parecida com aquela caôzada de treinador de time de basquete de high school americana, mas no Flamengo sempre foi assim. Se não houver comprometimento, raça e vontade inabalável de vencer o campeonato não vai pra Gávea.
No Flamengo não temos o costume de ganhar nada de graça, é sempre tudo muito batalhado, muito sofrido. No domingo que vem o placar começa zerado, mas a verdade moral dessa partida é que o Flamengo entra em campo muito mais pressionado que o Foguinho. Não sejamos hipócritas e não ofendamos ao adversário com a desonra da piedade, eles não merecem esse esculacho.
Vamos falar objetivamente, o Foguinho é o underdog da disputa. Possui menos títulos, menos torcida, menos tradição e um elenco mais fraco. Logicamente que a obrigação de vencer é do Flamengo, que é maior, mais bonito, mais famoso e mais amado. Essa violenta pressão pelo êxito não torna nossa tarefa mais fácil, pelo contrário. Ainda que essa demanda constante pelos triunfos seja naturalmente assimilada pelos torcedores rubro-negros, nem sempre os nossos jogadores compreendem a gravidade do compromisso que assumem ao envergar o Manto.
Não quero ficar botando terror, mas o Flamengo, e quando digo Flamengo falo de todos no clube, do roleteiro da entrada da Mário Ribeiro ao Josiel, precisa se conscientizar da importância desse título. Ao contrário do Foguinho, que tem como motivação apenas a quebra de uma incômoda seqüência de vice-campeonatos, as raízes do título de 2009 para o Flamengo estão muito distantes, quase obscurecidas pelas brumas do tempo. Por isso os nossos motivos para vencer são melhores e mais importantes.
Não é preciso ter aberta a veia mediúnica para perceber no estrondo do Penta Tricampeonato o eco dos guerreiros ancestrais como Baena, Píndaro e Galo, pioneiros no flamenguismo sobre o gramado, e da longa seqüência de Pais da Nação que vem desde Domingos Marques de Azevedo, Felisberto Laport e Alberto Borghert. Digo isso pra não apelar citando os Validos, Didas, Zicos e Pets que construíram com seu talento e seus gols o magnífico paredão de títulos onde a turma de agora tenta, na humildade, colocar mais um tijolinho.
A hegemonia absoluta no futebol do Rio de Janeiro, condição honorífica que buscamos sem cessar durante os últimos 98 anos, encontra-se agora ao nosso alcance. O torcedor racional (uma paradoxo em termos) não exige vitória. Mas faz questão absoluta que o suor que gerações de rubro-negros deixaram em gramados, arquibancadas e gerais desde 1912 para nos aproximar da tão sonhada hegemonia seja respeitado.
O grupo que hoje representa o Mengão tem a rara oportunidade de entrar para a História pela porta da frente, como heróis. As recompensas por esse feito são incalculáveis, os guerreiros que o realizarem serão, mui justamente, lembrados e citados pela eternidade. Até por quem diz que o Carioca não vale nada. Mas nós sabemos que só não vale nada pra quem não é capaz de vencê-lo. Felizmente, esse não é o nosso caso.
VDM
CCM
SRN
DCF
Mengão Sempre
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