terça-feira, 13 de janeiro de 2009

No último tri eu estava...

...em casa, sentando bem em frente à TV. Meu pai, que me ensinara a ser Flamengo desde tempos imemoriais, havia saído de casa, separara-se de minha mãe. Era a minha primeira final sem ele. As duas últimas havíamos assistindo e comemorados juntos, com direito a hino tocado em volume alto no microsystem da sala e minha mãe compreendendo aquela hora, hesitante em pedir para que se baixasse o volume.

Em pleno jogo, contudo, não me lembrei de meu pai. Não lembrei e nem pensei em coisa alguma que não fosse Flamengo, bola, gol, tricampeonato, Julio César pegando tudo, Beto cheio de raça, Pet, o camisa 10, Edílson e sua ligeireza de ponta-de-lança, Zagallo muito velho mas cheio de uma audácia que até os adolescentes se ressentiam (eu me ressentia). Mas cadê o gol? Passava o tempo. O placar, mesmo com a vitória de 2 a 1, era dolorosamente insuficiente. O tempo passava implacável. Um gol até os quarenta, eu pensava. Depois disso era impossível. Catimba de Futebol eu conhecia já, meu pai sempre dizia, depois dos quarenta é milagre, é designo ou castigo de Deus.

E foi aos quarenta e dois minutos, numa falta marcada tardiamente, num lance agudo do Edílson, pondo a bola em profundidade pro Jorginho. Infração marcada. O apito trilou. Última chance. Há um corte na imagem: aparece Alessandro com as mãos em prece. Volta a imagem para Pet. “Vai ser gol”, pensei. Pet cobra a falta, a bola sorrateira dribla a barreira numa curva e deixa-se quedar nos fundos da rede, qual objeto capturado ou que se deixa capturar, faminta de glórias mas saciada ali sob as traves doo arqueiro cruzmaltino, derrotado, como seu time.

Eu, esgotado diante da alegria boba daquela hora aguda, presenciava o meu primeiro tri. E ouvia tanto meu pai falar em tri, tri, tri. Nunca entendia. “Tri do estadual, que coisa mais tola”, sempre pensava. No entanto, com aquele gol, entendi de uma vez por todas a alegria e a (boa) dor de ser rubro-negro. Jamais esquecerei deste jogo, daquele gol.

* Por Ederval Fernandes, 24, flamenguista, baiano de Feira de Santana

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