Here, There & Everywhere - Histórias de Flamengos pelo Brasil e pelo Mundo
No Urublog, assino toda sexta "A Letra do AFA". Estou implantando lá e aqui a Série "Here, There & Everywhere - Histórias de Flamengos pelo Brasil e pelo Mundo". No Urublog conto um pouco da história de rubro-negros alhures. Aqui, reproduzo seus relatos. Este daqui é de Rodrigo Altaf, mineiro de Juiz de Fora radicado em Perth, Australia. Para entender melhor, é só ler a Letra do AFA no Urublog.
Aqui, o texto do Rodrigo:
Estou atualmente morando em Perth, Austrália, e mesmo com um fuso de 11 horas a mais, não deixo de acompanhar nosso time. As manhãs no trabalho têm sido de acessos constantes ao Globo.com, para acompanhar em tempo real aos jogos do Fuderosão. O pessoal aqui da empresa até já sabe, e nem liga de me ver com o site do Globo minimizado na tela do computador.
Quem já foi ao Maracanã sabe que e uma experiência sem igual, ainda mais em finais. A torcida do Mengão invade mesmo, e não tem pra ninguém. E nesse dia não foi diferente: 20 mil cabeças entoavam cânticos de amor ao Mais Querido sem parar, enquanto o time entrava para enfrentar o todo poderoso Palmeiras de Felipão. A época o porco era franco favorito, e estava ainda sob o domínio da Parmalat, tendo ganhado inclusive a Libertadores no mesmo ano.
A essa altura você deve estar se perguntando: "final no Maraca são com vinte mil pessoas? Esse cara errou na digitação, devem ser CENTO E VINTE MIL". Explico: o estádio estava em mais uma de suas tantas reformas, dessa vez preparando-se para ser palco principal do Mundial de Clubes, em que o Vasco da Gama seria vice mais uma vez. Como estava de férias, rumei cedo para o estádio, e garanti logo um lugar onde sempre fico: as cadeiras brancas, que na época haviam sido recém colocadas, por sobre o banco de concreto que circunda o anel. Pra quem não conhece, esse local é exatamente no centro do gramado, e é ideal pra acompanhar os dois tempos de jogo em ótima posição.
É preciso lembrar que o Palmeiras estava entalado em nossa garganta naquele ano: a semifinal da Copa do Brasil havia sido um dos jogos mais disputados da historia do futebol, com vitória do Alviverde com gols nos últimos minutos da partida. Talvez isso justifique a raça da galera, e a vontade de incentivar ainda mais. Nosso time também havia sentido esse golpe, e esperava a oportunidade certa para dar o troco aos paulistas.
Não sei se os leitores costumam ir ao estádio sozinhos, mas é uma experiência não menos inesquecível do que ir com um bando de amigos. A cada gol, você abraça pessoas que nunca viu na vida, discute a escalação e os esquemas táticos com pessoas dos mais variados níveis sociais, e é praticamente impossível se sentir sozinho: lá, me sinto em casa!!! E foi sozinho que rumei pro Maraca dia 16 de dezembro de 1999. Já havíamos garantido o Carioca naquele ano, em cima do Vasco, chegado à semifinal da Copa do Brasil, mas a campanha no Brasileirão não tinha sido lá essas coisas. Ou seja, a torcida queria encerrar o ano bem, com mais um título na sacola!
Na época éramos treinados pelo sensacional Carlinhos, que fazia mágica no banco de reservas: sempre pegava uma equipe desacreditada, de crista baixa, e nos levava ao titulo. Ele sabia mesclar como ninguém a prata da casa com jogadores de fora, e novatos com experientes. E não é que deu certo?
A ausência de Romário nas finais provocava sentimentos distintos na torcida e no time, que incrivelmente melhorava de rendimento sem seu maior craque em campo. Já havia sido assim nas finais do Carioca daquele ano, e novamente a molecada do Fla teria que se superar em uma final sem o baixinho!
O jogo foi o mais emocionante que já acompanhei no Maracanã, com reviravoltas no placar a toda hora. O Fla abriu o placar logo cedo com Juan, mas permitiu a virada do Palmeiras em duas falhas do Clemer: gols de Junior Baiano e Asprilla. As duas equipes se lançavam ao ataque como loucas, e as defesas pagaram o pato.
Caio entrou no jogo incendiando: marcou o empate de 2x2. E apos o Palmeiras ficar a frente novamente com gol do ex-Fla Paulo Nunes, o mesmo Caio igualou o placar mais uma vez em 3x3, caindo definitivamente nas graças da galera que sempre o questionava.
A apoteose veio já no finalzinho, com uma cabeçada do Reinaldo que selou a vitoria por 4x3. Os vinte mil pagantes presenciaram uma das maiores demonstrações de raça de nosso time, que jogou como gente grande, e não se intimidou em momento algum contra o excelente time do Palmeiras.
Foi a arrancada que precisávamos para o titulo da Mercosul. Lembro-me vividamente da imprensa paulista estar satisfeitíssima com o resultado, já que para o Palmeiras bastava uma vitoria simples no Parque Antártica para forçar uma terceira partida decisiva. Mas fomos lá e arrancamos um empate suadíssimo de 3x3, jogando mais uma vez com autoridade de campeão, e conquistando mais um titulo internacional.
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