COLUNA DE TERÇA-FEIRA - Alexandre Lalas
Super simples
Não há espaço melhor em canto nenhum que tenha oferecido tantas explicações plausíveis ao inexplicável evento de sábado passado. De fato, durante a semana que antecedeu o desastre, Caio Junior foi ao Bem Amigos, Ibson viajou a Portugal, Márcio Braga encomendou a festa do hexa, Wando cantou no Globo Esporte a musica feita para Vandinho...mas do jogo contra o Galo pouco se falou. A derrota dos titulares para os juniores por 1 a 0 no coletivo da semana passou batida. Um sintoma do eterno oba-oba que contamina a Gávea quando as coisas ameaçam dar certo? Até é. Mas longe de ser só isso.
Nosso técnico disse que o time sentiu a pressão. Que ficou nervoso. Ora, bolas. Se for assim, a solução é fácil. Basta fechar ao público as portas do Maracanã. Jogaremos com o estádio vazio. Sem torcida, sem pressão. Mas tenho cá minhas dúvidas de que o nervosismo foi a razão de nossa derrota acachapante. Acho que o buraco é mais embaixo.
Futebol para mim é simples. Difícil é fazer o que parece óbvio com precisão. É baseado nesse princípio, que sustento que Zico jogou mais que Maradona. Enquanto o argentino precisava driblar meio time para resolver um problema, o Galinho clareava tudo em dois ou, no máximo, três toques. Ou então, caso fosse o último recurso, até driblava meio time.
E é esta simplicidade que vejo faltar em nosso treinador. Saiu um meia? Que entre um meia. Saiu um lateral? Que entre outro da mesma posição em seu lugar. Nossa derrota era um desastre anunciado. Jogamos mal contra Ipatinga, Sport e Náutico. Vencemos na bacia das almas. Mas Caio Junior continuou insistindo em inventar. Contra o Náutico, saiu Éverton, um meia, pôs Toró, um volante. A marcação no meio não melhorou coisa nenhuma e ainda perdemos qualidade na saída de bola e diminuímos, ainda mais, a já escassa presença de área que tínhamos. Mas contra o Atlético Mineiro, a coisa passou dos limites.
Volto ao coletivo do meio da semana. Caio testou Sambueza na ala. O time não andou. Os titulares perderam para os reservas por 1 a 0. E o grande nome do treino foi um Jonatas, desmarcado e inspirado! Longe, o melhor em campo. Apesar do aviso, nosso técnico optou pela escalação com quatro volantes (sendo um improvisado na zaga) e um meia na ala esquerda. O começo foi desastroso. Mas se a escalação foi ruim, pior foram as mexidas. Era simples: Luisinho deveria entrar em lugar de um dos zagueiros ou volantes (de preferência, em lugar de Dininho ou Toró, ambos, completamente perdidos). Assim, Sambueza iria para o meio e jogaríamos no mesmo esquema que possibilitou nossa reação no segundo turno. Quem dera. Veio o promissor Erick Flores, sem jogar desde o jogo contra o Santos, em lugar do experiente Kléberson. O time continuou errado, sem andar. Depois piorou. Maxi (ausente desde o jogo contra o Figueirense), em lugar de Ibson, que, mesmo mal, pelo menos tinha a decência de aparecer para jogar. A entrada de Obina em lugar de Vandinho foi quando a vaca já afundava no brejo. E, para espanto geral da Nação, terminavam o jogo, em campo e intactos, Jaílton, Dininho, Toró e Angelim! O quarteto defensivo que não marcou ninguém.
Ano passado, quando treinava o Palmeiras, Caio Junior teve a vaga para a Libertadores nas mãos. Perdeu jogos inacreditáveis, a vaga e o emprego. A julgar pela atuação do nosso treinador no jogo de sábado, se alguém tremeu (que me perdoem JM e Tinhorão), foi ele. Escalou mal, mexeu pior e foi ainda mais medíocre na coletiva ao fim do jogo, ao explicar o inexplicável. Longe de promover qualquer tipo de caça às bruxas, nem de pedir a cabeça de ninguém, acho que nosso técnico precisa, urgentemente, simplificar.
Para jogar com dois laterais como os nossos, não é necessário usar um terceiro zagueiro. Basta um volante, que jogue NA FRENTE da zaga e faça a devida cobertura. E que seja escalado um meia e que jogue como tal, centralizado. E não como um assistente de lateral, como Éverton foi escalado depois do Fla-Flu. A beleza do futebol está na simplicidade em que ele é jogado. E não nas teorias e invencionices de professores pardais travestidos de visionários. Carlinhos, o maior técnico que eu vi no Flamengo, era de uma simplicidade ímpar. Capaz de prever que, segundo palavras dele, "jamais perderia uma final para um time que tem Odemílson e Renê Playboy jogando do mesmo lado". É desse tipo de visão que precisamos. Vê se aprende, ô Caio Junior!
Até terça!
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