Onde está a força do Maracanã?
Todos concordam que o Flamengo foi um anfitrião ingrato com sua torcida, ao oferecer a 80 mil pessoas um grande vexame no sábado passado, diante do Atlético-MG. A derrota desanimou os rubro-negros e expôs muitas deficiências do time - e do técnico. Entretanto, a maior tristeza foi constatar que o magnetismo da torcida com a equipe está bem mais fraco do que em 2007.
No ano passado, jogar no Maracanã foi praticamente um sinônimo de invencibilidade. O Flamengo perdeu apenas dois jogos: contra o Palmeiras, na abertura do campeonato, e contra o Fluminense, lá no meio da famosa arrancada. Depois do hiato do Pan e de uma seqüência irregular de jogos, o Flamengo venceu o Náutico e, daí pra frente, perdeu poucos pontos no Maior do Mundo.
Porque tinha um grande time? Não. Tinha um bom time, que saiu da zona de rebaixamento rumo ao terceiro lugar do campeonato. E também porque o apoio da torcida foi fundamental. Há muito tempo não se via uma sinergia tão grande entre a camisa 12 e os jogadores rubro-negros, capaz de transformar o Maracanã em um caldeirão de vitórias garantidas, como o foi em tempos idos.
Em um especial sobre a final do Brasileiro de 1980 na TV, Raul Plassmann disse que, ao fim do primeiro jogo da decisão, vencido pelo Atlético-MG por 1 a 0*, no Mineirão, levou um susto ao ver no vestiário os jogadores celebrando o resultado. "Ué, mas o que vocês estão comemorando?", perguntou. "Raul, você acha mesmo que a gente vai perder no Maracanã", retrucou Júnior. Bem, no Maracanã foi difícil e, por isso mesmo, histórico: Flamengo, campeão brasileiro pela primeira vez, 3 a 2.
Se o diálogo tivesse acontecido durante o Brasileiro de 2007, não soaria exagerado ou excessivo em auto-confiança. Notava-se, de longe, que o Maracanã era o décimo terceiro jogador do Flamengo. O time vencia e cada vez mais torcedores iam aos jogos. E, assim, o Mengão chegou ao terceiro lugar.
Em 2008, o time mudou, mas manteve muitas peças da campanha do ano passado. Toda a defesa, Jaílton, Toró, Ibson, Obina, Maxi ainda entram em campo. Mas a situação praticamente se inverteu. Hoje, jogar no Maracanã pode até significar, ainda, bom público, mas não garante mais o triunfo. Se em 2007 só não chegamos mais longe porque o desempenho fora de casa foi ridículo, neste ano podemos dizer que a campanha fora de casa é o que nos mantém no topo, pois a performance no Maracanã está muito aquém da esperada. O time aprendeu a jogar fora, mas também jogou fora a vitória em várias partidas no Rio de Janeiro.
Este histórico assusta mais ainda, quando lembramos que um dos nossos trunfos para uma arrancada final em 2008 seria a tabela, que nos oferece muitas disputas no Maracanã. Se o Flamengo almeja ainda alguma coisa maior do que a vaga na Libertadores, não precisa se preocupar muito com os jogos fora do Rio de Janeiro. Deve começar a entender porque não repete as boas atuações no Maracanã. E tentar captar a vibração da torcida, que não deixou de comparecer em momento algum neste ano.
A derrota por 3 a 0 para o Atlético-MG não precisa ser encarada como o fim dos tempos. Bem recentemente, Palmeiras perdeu para o Sport pelo mesmo placar no Palestra Itália. O Grêmio foi arrasado pelo Inter por 4 a 1. E ambos disputam a liderança do campeonato. O grande problema é que são menos partidas para se recuperar. Fundamental, agora, é manter a cabeça erguida, aprender com os erros do jogo de sábado e não dar nenhuma chance para o Vasco se reerguer no próximo domingo.
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Erros - e foram muitos, a maioria deles debitada da conta do Caio Júnior. Inventou Sambueza na lateral-esquerda, tirou Kleberson para "queimar" Erick Flores, sacou Ibson para colocar o improdutivo Maxi e anular o nosso próprio meio-de-campo e tirou Vandinho para dar (mais uma) chance a Obina, o que por si só já significa algum destempero. Destempero que, pela leitura feita nos jornais, será mantido no domingo. Francamente, Caio: Obina titular... já deu. Pelo menos Fabio Luciano e Juan voltam.
* Informação incluída posteriormente.
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