CADERNINHO DO SIMÕES LOPES XXX
Calma, não é nada disso que estão pensando... XXX é apenas “trinta” em algarismos romanos. Acontece que em 2008 completo trinta anos na minha carreira de torcedor, que começou no augustíssimo campeonato carioca de 1978. Nestes anos já presenciei tanta coisa, que resolvi fazer um resumo do Flamengo (ou dos Flamengos, para ser mais exato) que eu acompanhei ao longo destas três décadas de emoções sempre fortes.
DEUSES DA RAÇA E XERIFES (Parte 3 de 3)
Assolado pelo endividamento crescente e pelo êxodo de seus melhores jogadores para a Europa, o Flamengo patinava em contratações malsucedidas. Como última cartada, e mais uma vez com certo ar de vingança, o Flamengo trazia o renomado zagueirão Wilson Gottardo do mesmo Botafogo que estava tirando Renato Gaúcho da Gávea. Para assessorá-lo, vinha por empréstimo do São Paulo o regular Adílson, que no entanto não durou muito. A companhia de Gottardo ficou então com o ex-juniores Júnior Baiano e Rogério, alternando-se na condição de titular, com vantagem para o polêmico Júnior (que ganhara o Baiano após a volta do maestro Júnior ao Fla. Com eles o Flamengo voltaria às conquistas, ganhando o Carioca de 1991 e o Brasileiro de 1992, e entraria em 1993 com grandes sonhos: a reconquista da Libertadores. O sonho virou pesadelo, e o encorpado plantel montado por Carlinhos foi sendo progressivamente pulverizado e vendido. Com a saída de Gottardo e Júnior Baiano, Rogério firmou-se como titular, na companhia do também cria-da-casa Gélson. O apelido pretensioso de Gélson Baresi não ajudou muito, e embora ele tenha durado até 1995, sua carreira foi de um declínio constante, com passagens apagadas por Cruzeiro, Vasco e times do Paraná. A base de juniores passava por um safra muito pobre: Índio, Fabiano, Helton, Herbert, Marçal. Muitas oportunidades e nenhum sucesso. Fabiano, favorecido por atuar no meio-de-campo e nas laterais, ainda perduraria bastante no time, ora titular, ora reserva.
Com a eleição de Kleber Leite, a era das contratações recomeçaria, alternando nomes de peso, com ilustres desconhecidos: o insosso Paulo Paiva, o polivalente Válber (laureado no São Paulo, com passagens por Fluminense, Botafogo e Palmeiras; o talento do craque foi sempre eclipsado pelas indisciplinas e loucuras), Agnaldo (dublê de lateral e zagueiro), Ronaldão (com uma Copa do Mundo no currículo) e Cláudio. Num time em constante crise, sempre ávido por conquistas que legitimasse os rios de dinheiro investidos, e permanentemente desfigurado pelas dezenas de contratações, ninguém conseguiu se firmar, e mais uma vez a zaga acabou ganhando uma solução caseira. Juan e Luís Alberto, recém-egressos das divisões de base, acabaram por impor-se num time em constante turbulência. Luís Alberto, um beque mediano, teve momentos de regularidade que valeram sua ida para a Europa, de onde retornaria mais tarde ao Brasil, com passagens relativamente boas pelo Internacional, Santos e atualmente no Fluminense. A esta dupla caseira juntaria-se em 1998, o baiano Fabão, que rapidamente ganhou a condição de titular. Curiosamente, sempre foi desdenhado pela imprensa carioca, que o tinha como um mero cabeça-de-bagre. Bastou ser vendido para a Europa e retornar o Brasil para ganhar status de grande jogador, com ótimas passagens por São Paulo, Goiás e Santos. Neste mesmo ano de 98, ainda tivemos a fugaz passagem do tetracampeão honorário Ricardo Rocha, e mais tarde teríamos as passagens igualmente curtas de Narciso e Célio Silva. Outro jogador, que ao contrário, durou bastante, foi Fernando, cujas curtíssimas boas fases foram sempre eclipsadas pelas lambanças, definição que também cairia como uma luva no várias vezes retornado Júnior Baiano, que, apesar de ter seu bom futebol premiado até com convocações para a Seleção, e tendo passagens vitoriosas por São Paulo, Palmeiras e Vasco, jamais conseguiu livrar-se da marca de becão estabanado. Mesmo voltando duas vezes ao Fla, em 1996 e 2004, sempre teve seus bons momentos abafados pelos defeitos. O mesmo Fernando (aliás, Fernandão, Fernando Brucutu, etc.), apesar da fraqueza, conseguiu transferir-se para a Europa.
Tricampeão estadual e campeão da Copa dos Campeões, o Flamengo de Edmundo Santos Silva atingia seu apogeu no outono de 2001, quando o time contratara o renomadíssimo zagueiro paraguaio Gamarra. Seu futebol requintado fez boa dupla com o novato Juan, mas não resistiu à falência do patrocinador do clube. Nitidamente insatisfeito, recusou-se a jogar, e vivia alegando contusões. Com a venda de Juan, em 2002, o Flamengo abria mão de seu último grande beque feito em casa. Enfrentaríamos mais uma vez, uma era de vacas magras, com contratações fracassadas, e juniores insossos: Leonardo Valença, Gilmar, André Bahia, Ânderson Luís, Valnei, Flávio, Henrique, Renan, Valdson, André Dias e Tiago. Destaque para Váldson, que teve um ótimo começo em 2002, quando se contundiu, operou-se, e jamais foi o mesmo; e André Dias, que com participação medíocre no Fla, foi mais tarde ganhar prestígio no Goiás e hoje é titular no São Paulo. Somente em 2004 o Flamengo conseguiu emplacar uma boa contratação: Fabiano Eller, titular no Carioca vencido no mesmo ano, e que continuaria titular se não começasse a brigar com seus companheiros, e envolver-se em permanentes idas e vindas para o exterior: saindo do Flamengo, retornou no ano seguinte para o Flu, de onde saiu, para mais tarde ir para o Internacional, daí saindo; no seu último retorno, veio para o Santos. Nova escassez de bons nomes levou o time a trazer de volta os já veteranos Fabiano e Júnior Baiano. Mais um fracasso, e em seguir foi a vez do mesmo Fernando, que mais uma vez atormentou a torcida com seus altos e baixos. Novos juniores chegaram ao time profissional: Rodrigo Arroz, Marlon, que se juntariam aos já profissionalizados Henrique e Thiago; em 2006 juntavam-se ao elenco o zagueiro ex-Goiás Renato Silva e o ex-Fortaleza Ronaldo Angelim. Renato foi titular por bastante tempo, mas acabou saindo para o Fluminense; enquanto isso o discreto Angelim permaneceu no time conformando-se com a reserva e os eventuais momentos como titular. As contratações de Moisés, Irineu e Thiago Gosling foram mais uma piada de mau gosto, e o tivemos que penar até o final do ano passando, quando a contratação de Fábio Luciano finalmente acertou a defesa rubro-negra, sendo ele um dos grandes responsáveis pela arrancada fantástica do time naquele Brasileiro. Com Fábio na zaga, Ronaldo Angelim também firmou-se na posição, conquistando finalmente a condição de titular. Com esta dupla, o Flamengo mais uma vez chegou a um bicampeonato carioca, como no distante biênio 1978-1979.
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