Domingos sem Mengão em campo são dias críticos. A tradicional rotina de milhões de brasileiros se quebra e a energia habitualmente canalizada para as inúmeras providências relativas a uma ida ao estádio ou mesmo aos preparativos para uma longa permanência no sofázão pra ver o jogo pela TV fica totalmente dispersa. Nos domingos sem Flamengo o rubro-negro médio sobe pelas paredes e se põe a filosofar sobre questões fundamentais do tipo: o que nasceu primeiro, o Flamengo ou o Brasil? Por que somos tão grandes? E por aí vai.
Atualmente não dá nem pra perder muito tempo respondendo o que é mais importante, o Flamengo ou a Seleção. A resposta é óbvia. O fenômeno é antigo e a culpa não é do Ricardo Teixeira, do Dunga ou da Branca de Neve. Já faz muito tempo que a Seleção Brasileira perdeu seu significado nacional para grande parte dos brasileiros.
A Seleção Brasileira moderna é estruturada em torno de jogadores talentosos, mas sem carisma, que salvo as exceções, nunca foram capazes de criar laços ou identificação com seus clubes de origem. Esses playmobils multimilionários não poderiam mesmo agradar aos torcedores de clubes rivais. Por isso, tirando a época da Copa do Mundo (torneio condenado ao ostracismo em tempos de nacionalidades débeis), o brasileiro não se vê representado pela Seleção.
Exatamente o oposto do que ocorre com o Flamengo. O Flamengo, que para os tolos é apenas um time, é na verdade uma nação. Uma nação que se fortalece a cada dia. Sei que meu grau de loucura flamenga não me permite ser exemplo pra ninguém, mas eu me sinto muito mais Flamengo que brasileiro desde que me entendo por gente. E sei que existe muita gente, pessoas equilibradas e ditas normais, que sentem a mesma coisa.
Comparar o Brasil com o Flamengo é até covardia. A Nação Rubro-Negra é mais perfeita em sua organização, mais justa na divisão das responsabilidades e dos deveres de seus cidadãos e, principalmente, não comporta a odiosa divisão de classes. E, claro, não penaliza os mais pobres com o ônus da honra duvidosa de pagar a conta pela nacionalidade. Por essas e por outras que o Flamengo é o meu país.
Igualitária e ecumênica, a Nação Rubro-Negra abriga a todos sob seu gigantesco bandeirão. Aqui debaixo dessa luz vermelha e preta ninguém é melhor do que ninguém. Somos todos Flamengo, mas hoje, apesar do Joven Pistolero, vou torcer pro Brasil machucar o Chile. Só não pode é machucar o Juan. Agora ficou clara a ordem de importância?
Pra encerrar deixo com vocês um pedacinho do The New Colossus, um poema clássico da Emma Lazarus que fica numa placa de bronze no pedestal daquela estátua grandona que domina a Liberty Island na Baía de New York. Poderia muito bem ter sido escrita pra homenagear a Nação Rubro Negra e a torcida do Mengão.
(...)
“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela
Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,
As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,
Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado".
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