Muita gente quer um time diferente daquele que vem sendo escalado. Mas ao contrário de antes, o maior problema de Caio Junior parece ser o excesso de opções, ainda que nem todas niveladas nos aspectos físicos, técnicos, táticos e emocionais.
Se o técnico padeceu com os problemas no elenco entre as primeiras quinzenas de julho e de agosto, agora ele conta com muitos bons jogadores à disposição - inclusive por causa da rara ausência de suspensos pelo STJD ou de vetados pelo Departamento Médico. A fartura, assim como a excassez, gera dúvidas e hesitações. O caminho escolhido nem sempre pode ser o melhor, mas é necessário escolher algum caminho. Guardadas as proporções, lembra um pouco a situação de um treinador de seleção brasileira, qualquer uma delas. Com tantos bons nomes, a unanimidade é impossível. Sua escalação jamais agradará a todos.
É natural que se dê preferência aos ex-paranistas Everton e Josiel. Embora não tenha trabalhado diretamente com nenhum deles, o treinador parece preferir quem conhece um pouco mais. Caio vem dando chances a Sambueza, e agora a Fierro, como se precisasse vê-los em ação mais vezes para definir o que fazer, como encaixá-los no time. A sensação que passa é a de que ele já tem na mente uma equipe ideal, ainda que não para consumo imediato. Precisa de mais tempo para formar convicções e integrar cada peça. Progressivamente.
Um dos nós para a escalação de Sambueza é a possível perda de velocidade da equipe no ataque. O argentino deu sinais de ter muita visão de jogo, mas parece cadenciar o andamento da bola, isso num time que tem o imprescindível Marcelinho Paraíba sem o mesmo vigor de seus melhores anos. Everton, pela própria característica, ajuda a impor um ritmo mais forte, uma correria com qualidade, mas com a inconstância de quem tem apenas 19 anos e ainda muito a aprender.
E esse time tem Jailton. E tem esquema com três zagueiros. E não tiro a razão do treinador. O maior problema do Flamengo, hoje, não está na defesa. Está no meio-campo e no ataque. Para atender aos anseios da torcida, ele teria que mexer no esquema que adotou. O que é improvável.
Todo treinador, sem exceção - repito, sem exceção -, tem suas preferências e teimosias, seus esquemas, seus homens de confiança, e os relegados a um segundo plano. No entanto, parece claro que, sem lesões e suspensões, a formação sempre terá oito nomes: Bruno; Jaílton, Fabio Luciano e Angelim; Léo Moura, Ibson e Juan; Marcelinho Paraíba. Eles formam 70% da escalação inicial do Flamengo. Que não vai mudar, salvo fato extraordinário.
Pode não ser o seu time. Pode não ser o meu time. Pode não ser o time de milhares de outros tantos rubro-negros que acompanham o cotidiano do clube. Mas é o time do treinador.
A essa altura do campeonato, penso eu, não tem muito o que inventar. Sacar Jaílton representa mexer na única certeza de Caio Junior, a defesa. Implica mudar o time como um todo. E o Flamengo não precisa mexer tanto. Apesar da campanha estar abaixo dos sonhos, os números do returno são bem satisfatórios: 57% de aproveitamento, com quatro jogos fora (em praças onde o clube costuma perder), dois em casa e um clássico (campo neutro). Desses jogos, vale lembrar, ele pôde contar em todos os sete apenas com um dos principais reforços (Marcelinho Paraíba). Em quatro, com Everton e Sambueza. Em dois, com Josiel. No último, com Fierro.
Aborrecida e angustiada com um passivo de 16 anos sem um Brasileiro, a torcida tem todo o direito de cobrar um desempenho melhor. De esperar um time mais equilibrado, eficaz na defesa e mortal no ataque. Mas convém uma reflexão: determinados tipos de cobranças não representam, por si só, o chamado fogo amigo?
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Um aviso. Não sou advogado ou parente de Caio Junior, como alguém chegou a ironizar na tarde de hoje. Nem tenho procuração para defendê-lo. Mas a cada vez que leio coisas como "Jailton deve ser caso do Caio Junior" ou "esse viado estagiário do Caio Junior é um burro", admito que dá para vontade de fechar o Blog. Um espaço criado em 31 de outubro de 2003, abrigo de rubro-negros da melhor qualidade, e que, no mínimo, já gerou um livro para a parca bibliografia rubro-negra.
Desculpem, mas tenho perdido um pouco da minha paciência com essa cultura vigente da depreciação. Cada vez mais, parte das manifestações é contaminada pela crítica rasteira, pouco ou não fundamentada, exibicionista, em tom de agressividade desnecessário para um espaço no qual deveria predominar a sabedoria e a inteligência. A parte do copo vazio sempre é supervalorizada; a parte de copo com alguma água, extremamente subestimada. Não há equilíbrio. E isso desanima.
O fenômeno, bem verdade, não é exclusividade da Nação Rubro-Negra mas um traço da humanidade. Campo fértil para esse tipo de comportamento, o futebol suscita reações antagônicas, ao sabor dos resultados. O torcedor, sem exceção, tende a exacerbar sua paixão. Normal. Mas tem quem confunda tudo e transforme liberdade de expressão e espírito crítico em menosprezar e avacalhar, de forma primária, qualquer coisa que contrarie sua convicção.
O que me faz perguntar se vale a pena manter um espaço que sirva como mera tribuna para a intolerância, a simplificação, a falta de educação e o desrespeito.
Ainda não tenho essa resposta filosófica, mas prometo que ela chega até o final do campeonato brasileiro.
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