terça-feira, 30 de setembro de 2008

CADERNINHO DO SIMÕES LOPES - XXX

Como já expliquei em posts anteriores, em 2008 completo trinta anos na minha carreira de torcedor. Ela começou no augustíssimo campeonato carioca de 1978. Nestes anos já presenciei tanta coisa que resolvi fazer um resumo do Flamengo (ou dos Flamengos, para ser mais exato) que acompanhei ao longo destas três décadas de emoções sempre fortes.

PASSEANDO PELA LATERAL DIREITA (Parte 1)


O Mais Querido tinha em 1978 um titular absoluto: Toninho, ou, como alguns o chamavam, Toninho Baiano, para distingui-lo dos diversos homônimos espalhados pelos outros times. Toninho despontara no Bahia, no final dos anos sessenta, e na década seguinte fora contratado pelo Fluminense. Desentendendo-se com o então técnico Didi, que o acusar de ter “um bloqueio mental” , acabou sendo vendido ao Flamengo no primeiro troca-troca promovido pelo presidente tricolor Francisco Horta, em 1976: o Fla recebia o ponta-esquerda Zé Roberto, o goleiro Roberto e o lateral Toninho, enquanto que o Flu ficava com o goleiro Renato, o argentino Doval e o lateral-esquerdo polivalente Rodrigues Neto. No cômputo geral, os tricolores saíram no lucro, pois ganharam três titulares importantes que os ajudaram a conquistar o bicampeonato carioca, enquanto que o Flamengo recebeu dois obscuros reservas que jamais teriam algum destaque posterior, seja no Rubro-Negro Cósmico, seja em qualquer outra equipe.

Apesar do relativo fracasso nas aquisições de Zé Roberto e Roberto, ganhamos um titular absoluto para a lateral direita, e com sua chegada, o novato Júnior, que então ocupava esta posição, foi deslocado para a esquerda, com o ex-titular na lateral oposta, modesto Vanderlei Luxemburgo tendo que contentar-se com a reserva (da qual jamais saiu). Contrariando os prognósticos sombrios de Didi, Toninho tornou-se uma das principais peças do time flamenguista, e em 1978, ano em que começo minha narrativa, ele ocupava não apenas a posição de titular no time, como tinha sido o lateral titular da Seleção Brasileira na Copa da Argentina. Suas atuações lhe valeram até uma convocação para a Seleção do Resto do Mundo, que derrotou a Argentina numa partida comemorativa no final daquele mesmo ano por 2x1, com o gol decisivo marcado por — quem mais poderia ser? — Zico.

À sombra de Toninho, o Flamengo usava eventualmente como reservas o uruguaio Ramírez (célebre por ter dado uma impagável corrida no craque Rivelino, num Brasil e Uruguai disputado no Maracanã) e o recém-profissionalizado Leandro (que deixou sua posição original no meio-campo para aventurar-se na lateral). Toninho Baiano, genro de Mãe Menininha do Gantois, seguiu titular até o Brasileiro de 1980, quando trocou o Brasil pela Arábia atrás dos petrodoláres (se a minha memória não falha). Mais tarde, ele retornaria ao Brasil, e jogaria já veterano pelo Bangu.

Com a saída de Toninho, sua posição foi ocupada pelo recém-contratado Carlos Alberto Sotelho, um lateral veloz e eficiente que fora importante em diversas partidas no já citado Campeonato Brasileiro, destaque para seu gol de placa marcado contra o Coritiba, numa das viradas mais empolgantes e fulminantes da história rubro-negra. Ela arranca do campo de defesa, sai driblando todo mundo, e fuzila o gol do goleiro curitibano.

Com a formação de uma base mais encorpada para a Libertadores, o Flamengo ainda contratou o lateral Nei Dias, que jogava nos dois lados do campo, mas foi o genial Leandro que acabou paulatinamente a conquistar definitivamente a posição de titular, e com ele terminamos o ano ganhando o Carioca, a Libertadores e o Mundial. Na chegada da conquista sul-americana, a imagem extasiada do Peixe Frito cantando o Ó Meu Mengão emociona até hoje, passados quase trinta anos. Leandro firmou-se no time, e em pouco tempo sua genialidade versátil, seu toque de bole refinado e sua classe insuperável levaram-no à Seleção Brasileiro, confirmando o predomínio flamengo na posição. Seus reservas pouco atuavam, e além dos já citados Carlos Alberto e Nei Dias, ainda tivemos atuações esporádicas de Gílson Paulino, Hamílton, Cocada (sim, o próprio) e Heitor.

Leandro só deixou a lateral-direita quando uma contusão séria do zagueiro Figueiredo o obrigou a deslocar-se para a zaga, mas o Flamengo não sentiu-se órfão, pois agora, nos idos de 1984, chegava ao time, contratado direto dos juniores do América carioca, Jorginho. Com a trágica morte de Figueiredo em acidente aéreo (onde morreu também o irmão de Bebeto), Leandro passou definitivamente à zaga, deixando como sucessor o eficiente Jorginho — lateral-esquerdo de origem — deslocado para a direita, e o Flamengo ganhava assim uma ótima escalação defensiva que marcou o meio da década de 80: Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto. Jorginho seguiu absoluto na posição, e confirmando a predestinação do clube na posição, mais uma vez o lateral-direito da Gávea tornava-se o titular na chamada Seleção Canarinho.

Jorginho reinou na posição até 1989, quando a incompetência da diretoria, a crise financeira que assolava o futebol brasileiro, e a ganância dos empresários conjugaram-se para desmontar o time no final da década. Jorginho partiu para brilhar na Europa e manteve-se titular na seleção até 1994, quando ajudou o time brasileiro a conquistar o tetracampeonato.

Começava então o período de vacas magras, muito magras...

CONTINUA NA PARTE 2

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